Logotipo Afya
Anúncio
Ortopedia25 dezembro 2025

Abordagem anterior direta versus vias tradicionais na artroplastia do quadril

Metanálise compara a abordagem anterior direta e vias tradicionais na artroplastia do quadril, avaliando dor, função e complicações.

A artroplastia total do quadril (ATQ) é amplamente reconhecida como uma das cirurgias mais bem-sucedidas da Ortopedia moderna, com alto índice de satisfação e melhora funcional duradoura. Com o aumento da demanda por recuperação rápida e retorno precoce às atividades, especialmente em pacientes mais jovens e ativos, a via anterior direta (Direct Anterior Approach – DAA) tem ganhado destaque como alternativa às abordagens cirúrgicas convencionais, como a posterior ou lateral.  

O DAA é defendido por preservar melhor a musculatura periarticular, potencialmente acelerando a recuperação funcional. No entanto, resultados conflitantes na literatura ainda dificultam uma conclusão definitiva sobre sua superioridade clínica. Além disso, cabe ressaltar que as vias lateral e anterior requerem dissecção muscular, o que pode ocasionar a dor pós-operatória. 

Sendo assim, a fim de avaliar comparativamente os desfechos destas vias convencionais versus a abordagem anterior direta na ATQ, Liu et cols, da Hebei Medical University, na China, realizaram uma revisão sistemática e metanálise. 

Veja também: Infiltração local na artroplastia de quadril: faz diferença?

artroplastia de quadril

O que o estudo analisou? 

As bases de dados eletrônicas utilizadas para a pesquisa foram PubMed, EMBASE, Web of Science e a Biblioteca Cochrane. Foram considerados ensaios clínicos randomizados (ECR); pacientes com doenças do quadril ou fraturas desta articulação; estudos comparativos avaliando a abordagem anterior direta (DAA) e a abordagem convencional (CA); grupos de controle, incluindo abordagens posteriores ou posterolaterais, abordagens laterais diretas ou laterais.  

A ausência de medidas do desfecho de interesse ou dados incompletos; cirurgias minimamente invasivas com pequena incisão; uso de sistemas de navegação computadorizada; hemiartroplastia; e abordagem anterolateral foram parâmetros considerados como excludentes para o estudo. 

Ao fim, um total de 17 metanálises foram incluídas, publicadas entre 2013 e 2025, envolvendo 1.575 pacientes, sendo 785 pacientes submetidos à DAA e 790 pacientes no grupo das abordagens tradicionais (320 pacientes de abordagem lateral, 470 pacientes com acesso posterior). Desfechos como dor, função, tempo cirúrgico, sangramento, tempo de internação e complicações pós-operatórias foram avaliados. A qualidade metodológica das metanálises foi avaliada com a ferramenta AMSTAR 2. 

Principais achados 

  • Recuperação funcional precoce: A DAA foi associada a melhor desempenho funcional no curto prazo, sobretudo nas primeiras 6 a 12 semanas pós-operatórias, com menores escores de dor (VAS) e melhores resultados no Harris Hip Score. 
  • Perda sanguínea e tempo de internação: A abordagem anterior também se associou a menor perda sanguínea intraoperatória e redução do tempo de hospitalização em comparação às vias. 
  • Tempo cirúrgico: Em contrapartida, a DAA foi frequentemente associada a maior tempo operatório, especialmente nas mãos de cirurgiões com menor experiência, sugerindo uma curva de aprendizado mais longa. 
  • Risco de complicações: Não houve diferença significativa entre as abordagens quanto às complicações gerais, como luxação, infecção ou fraturas periprotéticas. Entretanto, algumas metanálises apontaram maior risco de complicações técnicas específicas com a DAA, como lesão do nervo cutâneo femoral lateral ou dificuldades no posicionamento acetabular. 
  • Qualidade das evidências: Do total incluído, apenas três foram classificados como de alta qualidade metodológica segundo o AMSTAR 2. Muitas apresentaram limitações quanto à heterogeneidade dos estudos primários, ausência de protocolo registrado, e risco de viés não avaliado de forma padronizada. 

Limitações 

As principais limitações apontadas dizem respeito à qualidade das metanálises incluídas, com predomínio de estudos com baixo ou moderado rigor metodológico. A heterogeneidade entre os RCTs primários – quanto ao tempo de seguimento, tipo de prótese, técnica cirúrgica, experiência do cirurgião e protocolos de reabilitação – compromete a comparabilidade direta entre estudos. Além disso, não foi possível avaliar desfechos de longo prazo com robustez, uma vez que a maioria dos estudos foca no pós-operatório imediato e em até 3 meses de seguimento. 

Mensagem prática 

A via anterior direta (DAA) para prótese total do quadril tem mostrado benefícios interessantes, como recuperação mais rápida, menor potencial de sangramento e menores períodos de internação. Por outro lado, exige tempo cirúrgico mais prolongado e uma curva de aprendizado maior para o cirurgião. Apesar disso, não parece aumentar o risco de complicações.  

Ainda assim, como muitos estudos ainda apresentam qualidade metodológica baixa, é bom ter cautela ao interpretar os resultados. No fim das contas, a escolha da técnica deve levar em conta a experiência do cirurgião, o perfil do paciente e a estrutura do hospital — e não só o que está em alta nos artigos. 

Autoria

Foto de Juliana Pina Potenguy de Mello

Juliana Pina Potenguy de Mello

Medicina – Fundação Técnico Educacional Souza Marques - 2005 • Médica ortopedista – SPDM - PAIS • Atendimento de urgências e emergências relacionadas a lesões no sistema musculoesquelético • Experiência em perícia médica, farmacovigilância, relacionamento médico e escrita científica.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Ortopedia