A artroplastia total de quadril (ATQ) é um dos procedimentos mais eficazes para tratar fraturas do colo do fêmur ou casos de osteoartrite avançada, mas a dor pós-operatória ainda é um desafio nestas cirurgias.
Uma das técnicas que ganhou popularidade nos últimos anos é a infiltração local de anestésicos,usada para aliviar a dor e acelerar a recuperação. Mas será que ela funciona tão bem no quadril quanto no joelho? Um estudo recente publicado na revista científica “Arthroplasty Today” traz respostas que podem surpreender os leitores.
O estudo: ensaio clínico Infiltração x Placebo
Pesquisadores espanhóis do Hospital Parc Tauli em Barcelona, conduziram um ensaio clínico randomizado com 108 pacientes submetidos à ATQ. Metade recebeu infiltração (com levobupivacaína e adrenalina) durante a cirurgia, enquanto a outra metade não recebeu o tratamento. Todos foram acompanhados por 12 meses.
Achados
Os resultados foram claros:
- Dor pós-operatória: Nenhuma diferença significativa nas escalas de dor (EVA) em 24h e 48h.
- Perda sanguínea e tempo de internação: Valores similares em ambos os grupos.
- Recuperação funcional: Pontuações no Harris Hip Score (avaliação de função e qualidade de vida) idênticas em 3, 6 e 12 meses.
- Satisfação do paciente: Sem diferenças entre os grupos.
Ou seja, a infiltração não melhorou nenhum dos desfechos analisados.
Por que isso importa?
A infiltração anestésica local é amplamente usada em cirurgias ortopédicas, especialmente nas artroplastias de joelho, com resultados positivos. No entanto, para o quadril, as evidências são contraditórias. Este estudo reforça que:
- O quadril é diferente do joelho**: A anatomia e os mecanismos de dor podem exigir abordagens distintas.
- Protocolos de recuperação acelerada (fast-track) já são eficazes**: A padronização de técnicas cirúrgicas e analgesia multimodal pode ser suficiente para bons resultados.
- Custo-benefício questionável: Se a infiltraçao não traz vantagens, seu uso rotineiro pode ser repensado.
Pontos críticos e limitações
O estudo tem méritos, como a padronização cirúrgica e o acompanhamento prolongado, mas também limitações:
- Vieses: A equipe cirúrgica sabia quem recebia infiltração, o que pode influenciar inconscientemente nos cuidados pós-operatórios.
- Métrica principal: A escala visual de dor (EAV) é subjetiva; outros estudos usam consumo de opioides como parâmetro, o que pode trazer resultados mais objetivos.
Onde isso nos leva?
Os resultados sugerem que a infiltração, pelo menos no protocolo utilizado, não é essencial para ATQ. Isso abre espaço para reflexões:
- Individualização da analgesia: Pacientes com dor mais intensa ou condições específicas ainda podem se beneficiar de ajustes personalizados.
- Novas pesquisas: Será que outros protocolos de infiltração (com diferentes fármacos ou volumes) poderiam funcionar melhor?
Para quem esperava uma solução mágica contra a dor pós-ATQ, a mensagem é clara: a infiltração anestésica não é a resposta universal. Mas a boa notícia é que os protocolos atuais já oferecem recuperação satisfatória, com ou sem infiltração local.
Veja também:Pacientes idosos e fratura de quadril: qual a melhor técnica anestésica?
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