Logotipo Afya
Anúncio
Ortopedia15 agosto 2025

Infiltração local na artroplastia de quadril: faz diferença?

Infiltração local na artroplastia de quadril não melhora dor ou recuperação; estudo sugere analgesia multimodal suficiente.
Por Rafael Erthal

A artroplastia total de quadril (ATQ) é um dos procedimentos mais eficazes para tratar fraturas do colo do fêmur ou casos de osteoartrite avançada, mas a dor pós-operatória ainda é um desafio nestas cirurgias.  

Uma das técnicas que ganhou popularidade nos últimos anos é a infiltração local de anestésicos,usada para aliviar a dor e acelerar a recuperação. Mas será que ela funciona tão bem no quadril quanto no joelho? Um estudo recente publicado na revista científica “Arthroplasty Today” traz respostas que podem surpreender os leitores.

artroplastia quadril

O estudo: ensaio clínico Infiltração x Placebo 

Pesquisadores espanhóis do Hospital Parc Tauli em Barcelona, conduziram um ensaio clínico randomizado com 108 pacientes submetidos à ATQ. Metade recebeu infiltração (com levobupivacaína e adrenalina) durante a cirurgia, enquanto a outra metade não recebeu o tratamento. Todos foram acompanhados por 12 meses.  

Achados 

Os resultados foram claros:   

  • Dor pós-operatória: Nenhuma diferença significativa nas escalas de dor (EVA) em 24h e 48h. 
  • Perda sanguínea e tempo de internação: Valores similares em ambos os grupos. 
  • Recuperação funcional: Pontuações no Harris Hip Score (avaliação de função e qualidade de vida) idênticas em 3, 6 e 12 meses. 
  • Satisfação do paciente: Sem diferenças entre os grupos. 

Ou seja, a infiltração não melhorou nenhum dos desfechos analisados.   

Por que isso importa?   

A infiltração anestésica local é amplamente usada em cirurgias ortopédicas, especialmente nas artroplastias de joelho, com resultados positivos. No entanto, para o quadril, as evidências são contraditórias. Este estudo reforça que:   

  1. O quadril é diferente do joelho**: A anatomia e os mecanismos de dor podem exigir abordagens distintas.   
  1. Protocolos de recuperação acelerada (fast-track) já são eficazes**: A padronização de técnicas cirúrgicas e analgesia multimodal pode ser suficiente para bons resultados.   
  1. Custo-benefício questionável: Se a infiltraçao não traz vantagens, seu uso rotineiro pode ser repensado.   

Pontos críticos e limitações   

O estudo tem méritos, como a padronização cirúrgica e o acompanhamento prolongado, mas também limitações:   

  • Vieses: A equipe cirúrgica sabia quem recebia infiltração, o que pode influenciar inconscientemente nos cuidados pós-operatórios.   
  • Métrica principal: A escala visual de dor (EAV) é subjetiva; outros estudos usam consumo de opioides como parâmetro, o que pode trazer resultados mais objetivos. 

Onde isso nos leva?   

Os resultados sugerem que a infiltração, pelo menos no protocolo utilizado, não é essencial para ATQ. Isso abre espaço para reflexões:   

  • Individualização da analgesia: Pacientes com dor mais intensa ou condições específicas ainda podem se beneficiar de ajustes personalizados.   
  • Novas pesquisas: Será que outros protocolos de infiltração (com diferentes fármacos ou volumes) poderiam funcionar melhor?   

Para quem esperava uma solução mágica contra a dor pós-ATQ, a mensagem é clara: a infiltração anestésica não é a resposta universal. Mas a boa notícia é que os protocolos atuais já oferecem recuperação satisfatória, com ou sem infiltração local.   

Veja também:Pacientes idosos e fratura de quadril: qual a melhor técnica anestésica?

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Ortopedia