A relação entre a posição de dormir e lesões no manguito rotador 

O manguito rotador (MR) é composto por quatro músculos da cintura escapular e seus respectivos tendões, sendo essencial para a função normal da articulação glenoumeral. Esse complexo muscular atua como o principal estabilizador dinâmico da articulação, desempenhando um papel crucial na função e mobilidade do ombro.  

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A dor crônica no ombro é uma das principais causas de incapacidade musculoesquelética, afetando cerca de 8% da população, ficando atrás apenas da dor crônica no joelho em termos de impacto na população idosa. Estudos sugerem que as lesões no manguito rotador são comuns, com uma prevalência que varia entre 6% e 39%, aumentando significativamente em indivíduos com mais de 50 anos. 

Objetivo do estudo 

Um recente estudo foi desenhado com o objetivo de determinar se havia uma relação entre a posição de dormir e a presença de lesões sintomáticas parciais e completas no manguito rotador. 

Métodos 

Este foi um estudo retrospectivo envolvendo pacientes atendidos na Rocky Mountain Health (Calgary, Alberta, Canadá) entre julho de 2019 e dezembro de 2019. Os critérios de inclusão exigiam que todos os pacientes tivessem uma lesão documentada no manguito rotador baseada em ressonância magnética (MRI), ultrassonografia ou ambos. As lesões parciais foram incluídas apenas se mais de 50% da espessura do tendão estivesse envolvida. Os sintomas dos pacientes deviam ter um início insidioso, relacionado às atividades diárias normais. Foram excluídos os casos de lesões traumáticas, lesões recorrentes, artropatia do manguito rotador e casos de compensação relacionada ao trabalho. 

Durante a anamnese, os pacientes foram questionados sobre sua posição preferida para dormir: de lado, de costas ou de barriga para baixo. Um total de 58 pacientes atendeu aos critérios de inclusão/exclusão durante o período do estudo. Foi realizada uma análise estatística χ2 (R, Versão 4.03; R Foundation for Statistical Computing, Viena, Áustria) para determinar a relação entre a patologia do manguito rotador e a posição de dormir. 

Resultados 

Um total de 58 pacientes compôs o estudo, dos quais 32 eram homens e 26 eram mulheres. A média de idade dos participantes era de 60,3 ± 1,3 anos. Entre os participantes, 48 eram destros, 6 eram canhotos e 4 eram ambidestros. Cinquenta dos pacientes tiveram uma ultrassonografia que demonstrou uma lesão no manguito rotador, e 25 pacientes fizeram uma ressonância magnética que evidenciou uma lesão. Em total, 51 pacientes apresentavam uma lesão completa no manguito rotador, enquanto 7 apresentavam uma lesão parcial significativa. Foram observadas lesões em 40 ombros direitos e 18 ombros esquerdos. A maioria dos indivíduos no estudo dormia de lado, com 52 participantes se descrevendo como dorminhocos laterais. Quatro pacientes dormiam de barriga para baixo, um dormia de costas e um utilizava uma combinação de todas as três posições. 

A análise estatística, utilizando o teste χ2 (P < .0001), demonstrou que havia uma relação significativa entre a posição de dormir de lado e a patologia do manguito rotador. 

Conclusões: posição de dormir e lesões no manguito rotador 

O estudo sugere que há uma relação entre a preferência por dormir de lado e a presença de lesões no manguito rotador. Estes achados podem ter implicações importantes para a prevenção e o manejo de lesões no manguito rotador, indicando que mudanças na posição de dormir podem ser uma estratégia viável para reduzir o risco de desenvolvimento dessas lesões. 

Este estudo destaca a necessidade de uma maior conscientização sobre as posições de dormir e seus possíveis impactos na saúde do ombro. Para pacientes com dor no ombro ou lesões no manguito rotador, a orientação sobre posições alternativas de dormir pode ser uma parte importante do plano de tratamento.