A tendinopatia do manguito rotador é uma patologia prevalente na população em geral com quase um quarto desses pacientes podendo desenvolver artrose glenoumeral. Alguns estudos sugerem que a presença da artrose da articulação do ombro pode impactar nos resultados dos reparos do manguito rotador. O diagnóstico da artrose glenoumeral é realizado com o auxílio de radiografias simples pelas classificações de Samilson e Prieto e Kellgren-Lawrence.
Embora os reparos do manguito rotador tenham demonstrado resultados favoráveis a longo prazo na população geral, sua eficácia em indivíduos com artrose glenoumeral concomitante foi escassamente investigada na literatura.
Dessa forma, foi publicado recentemente na revista Plos One um estudo com o objetivo de avaliar o impacto das rupturas pré-operatórias do manguito rotador em conjunto com artrose glenoumeral leve nos resultados da cirurgia de reparo tendinoso.
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Metodologia
Foram pesquisadas as bases de dados Pubmed, Embase, Web of Science e Cochrane até dezembro de 2024 com as palavras-chave: “Shoulder Joints”, “Osteoarthrosis” e “rotator cuff”. Foram excluídos estudos de baixa qualidade, duplicados, cadavéricos ou em modelo animal.
Os estudos incluídos preenchiam os seguintes critérios: (1) O grupo de casos consistia em pacientes com ruptura primária do manguito rotador diagnosticados por TC ou RM com artrose glenoumeral leve (classificação K-L: grau 0 ou classificação de Samilson e Prieto: grau 1); (2) O grupo de controle era composto por pacientes diagnosticados apenas clinicamente com rupturas do manguito rotador que necessitavam de reparo; (3) Os participantes tinham pelo menos 18 anos, independentemente de gênero ou raça; (4) O período de acompanhamento foi de pelo menos 12 meses e (5) pelo menos um dos seguintes indicadores: taxa de nova ruptura, Constant score, escala visual analógica (EVA), American Shoulder and Elbow Surgeons Score (ASES), amplitude de movimento (ADM) contendo flexão para frente (FF) e rotação externa (RE).
Resultados
Um total de 5 estudos envolvendo 924 pacientes foram incluídos na meta-análise. Os resultados do tratamento de pacientes com rupturas do manguito rotador com artrose glenoumeral leve e aqueles com rupturas simples do manguito rotador após reparo do manguito rotador foram comparáveis em termos de nova ruptura (OR: 1,24; IC de 95% 0,82–1,89; P = 0,31). Os escores funcionais pós-operatórios EVA (MD: 0,14; IC de 95% -0,19–0,47; P = 0,41) e escore ASES (MD: -0,33; IC de 95% -1,64–0,99) foram semelhantes entre os dois grupos.
A análise de subgrupos de rupturas do manguito rotador (pequenas a moderadas, MD: 0,85; IC 95% -0,65–2,39; p = 0,28; grandes a maciças, MD: -1,94; IC 95% -8,45–4,58; P = 0,56) não mostrou diferença nas pontuações ASES pós-operatórias entre os dois grupos. O Constant score (MD:-3,20; IC 95% -6,33–0,08; P = 0,04), rotação externa do ombro (MD: -4,42; IC 95% -6,72–2,13; P = 0,0002) e flexão para frente (FF) (MD: -4,22; IC 95% -8,28–0,15; P = 0,04) foram superiores em pacientes com rupturas simples do manguito rotador em comparação com aqueles com rupturas do manguito rotador acompanhadas de artrose glenoumeral.
Mensagem prática
O estudo sugere que a osteoartrose leve do ombro nos pacientes com lesão do manguito rotador não afeta fortemente o reparo tendinoso. Na prática, vemos que, independentemente da idade, pacientes com ruptura completa do manguito rotador referem melhora após o reparo e a artrose leve nas radiografias não deve desencorajar a realização do procedimento.
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