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Oncologia15 março 2024

Rastreio do câncer colorretal: Avanços nos métodos não invasivos 

O rastreio do câncer colorretal gera um melhor prognóstico da doença, possibilitando tratamento mais efetivo e menor morbidade associada
Por Leandro Lima
O câncer colorretal (CCR) é o 4° câncer mais prevalente no Brasil e responde pela segunda principal causa de morte por malignidade em nosso meio.   
Cânceres mais frequentes no Brasil 
Pele não melanoma 31,3% 
Mama feminina 10,5% 
Próstata 10,2% 
Colorretal 6,5% 
Pulmão 4,6% 
Estômago  3,1% 
O melhor método de rastreio populacional para o câncer colorretal (CCR) é aquele que o paciente é capaz de aderir e completar. Para alcançar essa meta, as características mais importantes são a conveniência e a custo-eficácia do exame, com foco em reduzir exponencialmente as mortes por essa condição.   Um dado norte-americano ilustra muito bem a importância da adesão ao rastreio: três em cada quatro mortes por CCR ocorrem entre pacientes com rastreio desatualizado. Logo, deve-se conscientizar a população sobre a prevalência crescente e o acometimento de faixas etárias mais jovens pelo CCR, bem como motivá-la, frisando a capacidade diagnóstica e terapêutica da colonoscopia. A excelente sobrevida em 5 anos, superior a 90%, é vista apenas na doença localizada, contrastando com apenas 14% na doença metastática.  Leia também: Câncer colorretal: Conitec dá parecer favorável para uso de ablação térmica A colonoscopia, considerada o padrão-ouro no rastreamento, está associada à baixa disponibilidade no Sistema Único de Saúde (SUS), custos elevados e estigmas relativos ao risco anestésico, preparo, forma de realização e complicações. Dessa forma, é preciso avançar em métodos não invasivos para que o acesso ao rastreio do CCR seja equânime, com o objetivo de ampliar a abrangência.   Os pré-requisitos de qualidade apontados pelo FDA para um método de rastreio não invasivo incluem:  
  • A alta sensibilidade para CCR, com limite inferior do IC de 95% acima de 65%; 
  • A alta especificidade para neoplasia avançada, com limite inferior do IC de 95% acima de 85%.  
Cabe lembrar que, a partir de um método não invasivo positivo, recomenda-se a colonoscopia sequencial.   Uma panorama histórico nos recorda do primeiro método não invasivo: a pesquisa de sangue oculto nas fezes pelo método do guaiaco anual, que apesar de ter gerado redução da mortalidade específica por CCR, apresentava baixa sensibilidade e demandava restrições dietéticas na véspera.   Na sequência, surgiu o teste imunohistoquímico fecal (FIT), também de frequência anual e capaz de detectar a hemoglobina nas fezes, com melhora da sensibilidade e especificidade, dispensando os ajustes dietéticos.   Mais recentemente, a adição do teste de DNA fecal multialvo trianual ao FIT ampliou a sensibilidade para a detecção do CCR e adenomas avançados, às custas de redução da especificidade.   Saiba mais: Biopsia líquida para câncer colorretal

Análises recentes sobre rastreio de câncer colorretal

Em março/2024 foram publicados dois novos e grandes estudos no NEJM, ampliando os conhecimentos sobre essa temática:  
  • O estudo BLUE-C, referente ao teste de DNA fecal multialvo de última geração comparado à imuno-histoquímica fecal, foi realizado com 20.176 indivíduos de risco intermediário para CCR. 
Testes DNA fecal FIT 
Sensibilidade para CCR 93,9% (IC 95%: 87,1% a 97,7%) 67,6% 
Especificidade para neoplasia avançada 90,6% (IC 95%: 90,1 a 91%) 92,7% 
Sensibilidade para lesões pré-malignas avançadas 43,4% (IC 95%: 41,3 a 45,6%) 23,3% 
Especificidade para ausência de lesões à colonoscopia 92,7% (IC 95%: 92,2 a 93,1%) 95,7% 
Valor preditivo positivo (VPP) para CCR 3,4 X 
Valor preditivo negativo (VPN) para CCR 99,97% X 
VPP para neoplasia avançada 37,7% X 
VPN para neoplasia avançada 93% X 
  • O estudo ECLIPSE avaliou a biópsia líquida (pesquisa de DNA livre de células) em amostra de sangue periférico, que tem como intuito a detecção de alterações genômicas, aberrações da metilação ou fragmentação do DNA. Tendo-se por base a colonoscopia, a sensibilidade foi de 83,1% para o CCR (IC 95%: 72,2 a 90,3%) e a especificidade de 89,6% para neoplasias avançadas (IC 95%: 88,8 a 90,3%). Em relação aos adenomas avançados, a sensibilidade se limitou a 13,2% (IC 95%: 11,3 a 15,3%). Nas análises exploratórias, o VPP para CCR foi de 3,2% (LH+ de 7,5) e para lesões pré-malignas avançadas foi de 12,9% (LH+ de 1,2), enquanto o VPN para câncer colorretal foi de 99,9%.  

Estudos 

BLUE-C 

ECLIPSE 

Inclusão 

Adultos assintomáticos ≥ 50 anos em programação de colonoscopia de rastreio realizada nos primeiros 180 dias após a coleta de amostra fecal. 

Idade entre 45 aos 84 anos com risco intermediário para CCR e realização preferencial de colonoscopia nos primeiros 60 dias de alocação no estudo. 

Exclusão 

Histórico pessoal de CCR ou lesões pré-malignas avançadas, história familiar de polipose adenomatosa familiar, síndrome de CCR não polipose e doença inflamatória intestinal, entre outros.  

Colonoscopia na última década, teste de DNA fecal nos últimos 2 anos, pesquisa de sangue oculto nas fezes nos últimos 6 meses ou sangramento retal nos últimos 30 dias. 

Histórico de malignidade, doença inflamatória intestinal, predisposição hereditária para CCR ou histórico em parente de 1° grau, colonoscopia na última década, teste de DNA fecal nos últimos 3 anos ou pesquisa de sangue oculto nas fezes nos últimos 6 meses. 

Recrutamento 

Novembro/2019 a Janeiro/2023 

Outubro/2019 a Setembro/2022 

Intervenção 

Coleta de amostra de fezes para teste de DNA multialvo e FIT.   

Coleta de 30 a 80 mL de sangue em tubos de coleta Streck cfDNA armazenados a -80 °C.  

Desfechos coprimários 

Sensibilidade para CCR e especificidade para para neoplasia avançada (CCR ou lesão pré-maligna avançada). 

Comparador 

Colonoscopia 

Desfechos secundários 

Sensibilidade para a detecção de lesões pré-malignas avançadas; especificidade para achados não neoplásicos ou colonoscopia negativa; e comparação da sensibilidade para neoplasias avançadas com o FIT. 

Sensibilidade para a detecção de adenoma avançado (≥ 10 mm, características vilosas, displasia de alto grau e carcinoma in situ) ou adenoma serrilhado séssil ≥ 10 mm. 

Poder do estudo 

90% 

80% 

Idade 

Média: 63 anos 

Média: 60 anos. 

Mulheres 

53,2% 

53,7% 

População 

Brancos: 60,1%   

Brancos: 78,5% 

Pretos: 11,8% 

Asiáticos: 7,1%. 

Participantes 

N = 20.176 

CCR = 98 

Lesões pré-malignas avançadas = 2.144 

Adenomas não avançados = 6.973 

Colonoscopia negativa: 10.961 

N = 7.861 

CCR = 65 

Lesões pré-malignas avançadas = 1.116 

Adenomas não avançados: 2.166 

Colonoscopia negativas: 4.514 

Conclusão e Mensagens práticas 

  • Os métodos de rastreio de malignidades devem sempre levar em conta a adesão populacional, pois quanto maior a proporção contemplada, maior o potencial de se evitar mortes relacionadas às malignidades.  
  • O rastreio do câncer colorretal (CCR) pode ser realizado atualmente por meio da colonoscopia, considerada o método padrão-ouro pela maior sensibilidade na detecção de pólipos e ser instrumento de terapias, a exemplo das polipectomias. 
  • Os métodos não invasivos para o rastreio do CCR incluem a imuno-histoquímica fecal, a dosagem de DNA fecal multialvo de última geração e a pesquisa de DNA livre de células em sangue periférico.  
  • Os estudos BLUE-C e ECLIPSE demonstram a alta sensibilidade dos últimos 2 métodos, trazendo a facilidade de rastreio populacional por meio de amostras fecais e sanguíneas.
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Referências bibliográficas

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