O mieloma múltiplo é um câncer da medula óssea, caracterizado por uma proliferação anormal de um clone plasmocitário, o que leva a uma produção e liberação de uma imunoglobulina monoclonal na circulação, também chamada de “proteína M”.
Ele corresponde a cerca de 1% do total de neoplasias, e de 10% das malignidades hematológicas. É ligeiramente mais prevalente em homens, ocorrendo duas vezes mais em afrodescendentes quando comparados aos caucasianos, com risco de desenvolvimento aumentando com a idade.
Seu curso clínico é insidioso, e pacientes com essa patologia podem permanecer por anos de forma oligo/assintomática, sendo a maioria dos indivíduos diagnosticada após os 60 anos de idade.
Conforme a progressão da doença ocorre, alguns sinais e sintomas podem se manifestar, como prostração, hiporexia, náuseas/vômitos, cefaleia, infecções recorrentes, dor óssea, insuficiência renal. Por conta da possibilidade do acometimento ósseo no curso da doença, em exames de imagem podemos observar pontos de fraturas e lesões ósseas líticas.
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Frequentemente, em decorrência do seu quadro clínico pouco específico, a suspeita diagnóstica é levantada devido a algumas alterações encontradas em exames laboratoriais de rotina.
Achados laboratoriais
No hemograma, podemos encontrar mais frequentemente um quadro de anemia, associado ou não a outras citopenias (leucopenia, plaquetopenia). A hematoscopia (leitura ao microscópio da extensão sanguínea), um empilhamento de hemácias, também conhecido como “rouleaux eritrocitário”, é frequentemente observado, apesar de não ser específico.
Alguns resultados de exames bioquímicos também podem corroborar a hipótese diagnóstica, como proteínas séricas totais aumentadas (às custas de globulinas) — com inversão da relação albumina/globulina — hiperuricemia, hipercalcemia, fosfatase alcalina elevada, aumento da creatinina, proteinúria.
Parâmetros laboratoriais mais específicos, como a eletroforese de proteínas séricas e urinárias, às quais podem detectar, mais comumente, uma quantidade elevada de um tipo de imunoglobulina (clone), na forma de um pico no gráfico gerado (“pico monoclonal”). A imunofixação no soro e na urina é utilizada para identificar qual é o tipo de imunoglobulina que está presente no pico monoclonal.
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A pesquisa de cadeias leves livres no soro e/ou urina (proteína de Bence-Jones) também podem fornecer informações importantes sobre se há, e qual é a cadeia leve (kappa ou lambda) envolvida. O ensaio quantitativo de imunoglobulinas também é relevante, já que determina a quantidade da imunoglobulina monoclonal presente (IgG, IgA, IgM, ou, mais raramente, IgE e IgD), utilizada para o monitoramento do curso e do tratamento do mieloma múltiplo.
Por ser uma doença da medula óssea, a biópsia e o aspirado medular permitem avaliar qual o nível do dano e o grau de proliferação plasmocitária. Seu diagnóstico é confirmado quando há uma plasmocitose medular > ou igual 10% (associado ou não a uma confirmação histopatológica de plasmocitoma), e a presença de um evento definidor de doença (lesão de órgão-alvo, relação cadeia leve livre > ou igual a 100, lesão focal a RNM de ao menos 5 mm, plasmocitose medular maior ou igual a 60%).
Mensagem prática
Quando pacientes, especialmente idosos, são atendidos com queixas inespecíficas e algumas alterações laboratoriais condizentes, a hipótese de mieloma múltiplo deve ser sempre aventada. Para o início da investigação, um simples exame de eletroforese de proteínas séricas é o suficiente, na maioria dos casos, para a identificação de um pico monoclonal.
Posteriormente, uma complementação diagnóstica com outras análises laboratoriais e de imagem deve ser feita, a fim de se avaliar o início precoce da terapia específica, melhorando assim a morbimortalidade desses pacientes.
Referências bibliográficas:
- Lab Tests Online. Mieloma Múltiplo. Disponível em: https://labtestsonline.org.br/conditions/mieloma-multiplo
- McPherson RA, Pincus MR, eds. Henry’s Clinical Diagnosis and Management by Laboratory Methods. 23rd St. Louis, MO: Elsevier; 2017.
- Kanaan S. Laboratório com interpretações clínicas, 1ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2019.
- Rajkumar, S. Vincent. Multiple myeloma: 2020 update on diagnosis, risk‐stratification and management. American journal of hematology 95.5 (2020): 548-567.
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