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Oncologia27 maio 2025

Enfermeiros navegadores no monitoramento remoto em cuidados oncológicos

Estudo avaliou o impacto dos enfermeiros navegadores no monitoramento remoto digital de pacientes oncológicos

O câncer é uma doença complexa que exige acompanhamento continuado, incluindo os pacientes em tratamento com tratamentos orais, que muitas vezes enfrentam efeitos colaterais, podendo ser graves, e desafios na adesão terapêutica. Com o avanço tecnológico, o monitoramento remoto digital surgiu como uma ferramenta promissora para melhorar o cuidado desses pacientes, permitindo a coleta de dados em tempo real e a intervenção precoce. No entanto, a eficácia desses sistemas não depende apenas da tecnologia, mas também da integração de profissionais de saúde capazes de interpretar os dados e agir de forma adequada. É aí que os enfermeiros navegadores entram em cena. 

Os enfermeiros navegadores são profissionais especializados que atuam como elo entre os pacientes e o sistema de saúde, orientando, monitorando e intervindo quando for necessário. Eles trazem uma dimensão humana essencial para o monitoramento remoto, garantindo que os dados coletados sejam traduzidos em ações concretas. Este estudo é importante porque investiga justamente como esses profissionais impactam os resultados dos pacientes dentro de um programa de monitoramento remoto digital, o CAPRI (que é um acrônimo para Cancérologie, Parcours, Région, Ile-de-France). Compreender esse papel é fundamental para otimizar o uso da tecnologia na oncologia, evitando que ela se torne apenas mais uma ferramenta subutilizada ou que amplie desigualdades no acesso ao cuidado de saúde. 

enfermeiros navegadores

Métodos do estudo 

O estudo utilizou uma abordagem robusta para analisar o impacto dos enfermeiros navegadores no programa CAPRI, que combina interfaces digitais (como um aplicativo para pacientes e um painel de controle para os profissionais) com intervenções humanas. A pesquisa foi conduzida como uma análise secundária de um ensaio clínico randomizado de fase 3, que originalmente comparou o CAPRI com o cuidado padrão em 559 pacientes. Dessa amostra, 187 pacientes do grupo CAPRI foram incluídos nesta análise específica. 

Os pesquisadores empregaram um modelo de equação estrutural, inspirado no modelo de DeLone e McLean, que avalia o sucesso de sistemas de informação com base na qualidade do sistema, na satisfação do usuário e no uso efetivo. Esse método permitiu explorar como as características dos pacientes e as ações dos enfermeiros navegaforesinfluenciaram resultados como toxicidade, hospitalizações e visitas ao pronto-socorro. Os dados analisados incluíram características demográficas dos pacientes, registros das intervenções dos enfermeiros e pesquisas de satisfação preenchidas pelos pacientes. 

A análise foi ajustada para fatores como idade, estado funcional (performance status) e estágio da doença, garantindo que os resultados refletissem verdadeiramente o impacto das intervenções dos enfermeiros navegadores. Além disso, os pesquisadores utilizaram técnicas estatísticas avançadas, como análise fatorial e imputação de dados faltantes, para garantir a robustez dos achados. 

População envolvida 

A população do estudo foi composta por 187 pacientes com câncer, em sua maioria com doença metastática (78,6%), que estavam em tratamento com agentes orais e faziam parte do grupo de intervenção do ensaio clínico CAPRI. A média de idade era de aproximadamente 60 anos, e pouco mais da metade dos participantes eram mulheres. O estado funcional, avaliado pela escala da Organização Mundial da Saúde, mostrou que a maioria dos pacientes tinha boa capacidade de realizar atividades diárias, com cerca de 49% classificados como PS 0 (sem limitações) e 44% como PS 1 (com limitações leves). 

Esses pacientes foram acompanhados por um período médio de 148 semanas, mais longo do que o acompanhamento no estudo original, o que pode ter influenciado os resultados ao permitir mais tempo para observar os efeitos das intervenções. Os enfermeiros navegadores envolvidos no programa receberam treinamento específico para usar a plataforma CAPRI e atuar no monitoramento dos pacientes, incluindo a interpretação de dados, a realização de chamadas e a coordenação de cuidados com oncologistas quando necessário. 

Resultados 

Os resultados do estudo destacam o papel central dos enfermeiros navegadores no sucesso do monitoramento remoto digital. A qualidade das intervenções desses profissionais esteve consistentemente associada a uma maior satisfação dos pacientes. Isso sugere que os pacientes valorizam não apenas a tecnologia em si, mas o suporte humano que a complementa. 

Em relação aos desfechos clínicos, os achados foram intrigantes. Por um lado, os enfermeiros navegadores contribuíram para reduzir o uso desnecessário de serviços de emergência e o tempo de hospitalização. Por exemplo, o número de ações tomadas pelos profissionais (como gerenciamento de consultas e registros médicos) esteve inversamente relacionado às visitas ao pronto-socorro. Por outro lado, casos mais graves, como toxicidade grau 3 ou superior, demandaram mais encaminhamentos para oncologistas, indicando que os enfermeiros navegadores souberam identificar e priorizar situações críticas. 

Um dado interessante foi a relação entre o tempo de internação e as intervenções dos enfermeiros navegadores. Enquanto os encaminhamentos para oncologistas aumentaram a duração das hospitalizações (provavelmente refletindo a gravidade dos casos), os conselhos diretos aos pacientes tiveram um efeito protetor, reduzindo levemente o tempo de internação. Isso reforça a ideia de que orientações adequadas podem prevenir complicações e evitar hospitalizações prolongadas. 

Mensagem prática 

Este estudo deixa claro que o monitoramento remoto digital na oncologia não pode ser apenas uma questão de tecnologia. A presença de enfermeiros navegadores é essencial para transformar dados em ações efetivas, melhorar a satisfação dos pacientes e otimizar o uso dos recursos de saúde. Os resultados sugerem que esses profissionais são capazes de lidar com a maioria das interações cotidianas, reservando os casos mais complexos para os oncologistas, o que pode aliviar a sobrecarga sobre os sistemas de saúde. 

Para implementar programas semelhantes ao CAPRI, é crucial investir no treinamento dos enfermeiros e definir claramente suas funções, garantindo que eles tenham autonomia para agir, mas também o suporte necessário para lidar com situações críticas. Além disso, a flexibilidade é chave: alguns pacientes podem preferir contatos telefônicos em vez de plataformas digitais, e o sistema deve estar preparado para acomodar essas preferências. 

Por fim, o estudo abre caminho para pesquisas futuras que explorem como esse modelo híbrido — combinando tecnologia e cuidado humano — pode ser adaptado a outros contextos clínicos e doenças crônicas. Enquanto isso, a mensagem é clara: na era da saúde digital, o toque humano continua indispensável. 

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Referências bibliográficas

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