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Oncologia25 outubro 2022

Cannabis e oncologia: a possibilidade de um novo aliado para pacientes oncológicos

Estudos apresentam medicamentos à base de cannabis medicinal como alternativa eficaz no tratamento de sintomas de pacientes oncológicos.

Por Ease Labs

Com consequente evolução na abordagem e tratamento do paciente oncológico, o uso de produtos à base de cannabis medicinal pode ser um novo aliado para esses pacientes. Anualmente, estima-se que ocorram cerca de 18 milhões de novos casos de câncer no mundo, com aproximados 10 milhões de óbitos por ano1.

Mesmo com os avanços terapêuticos — e o aumento expressivo da sobrevida de pacientes oncológicos —, é comum que eles ainda apresentem sintomas relacionados à neoplasia e à farmacoterapia.

Nos meses de outubro e novembro, as discussões acerca da prevenção e do diagnóstico do câncer tornam-se ainda mais frequentes. Em grande parte, esse fenômeno está ligado principalmente às campanhas de prevenção e educação em saúde globalmente conhecidas (outubro rosa e novembro azul). Para auxiliar na ampliação das opções de manejo dos efeitos adversos do tratamento oncológico, comentaremos os principais estudos que mostram a eficácia da Cannabis como aliada terapêutica. Confira.

Cannabis e oncologia podem andar juntos

Embora haja uma melhora exponencial na atenção à saúde relacionada ao câncer, desde o diagnóstico até o final do tratamento, a jornada clínica de pessoas que vivem com uma doença oncológica ainda é desafiadora. Durante o tratamento, muitos pacientes apresentam náuseas e vômitos secundários aos quimioterápicos. Na ausência de terapia preventiva, estima-se que cerca de 70-80% dos pacientes possam apresentar esses sintomas2,3.

Diversas vias neuronais, bem como uma gama de neurotransmissores, são conhecidas na patogênese relacionada a náuseas e vômitos no paciente oncológico, incluindo vias da serotonina, glutamato, GABA e dopamina4. O antagonismo dessas vias causa um efeito antiemético por mecanismos diferentes, no caso de sintomáticos específicos, quando comparados com a via relacionada aos canabinoides. Por exemplo, utilizando medicações específicas como a ondansetrona (antagonista 5-HT3) ocorre uma inibição direta da via serotoninérgica por inativação do receptor de serotonina na célula pós-sináptica, gerando o efeito antiemético. Por outro lado, na via relacionada aos canabinóides, esse efeito é causado pelo agonismo dos receptores de CB1.

Esse efeito é definido por um fenômeno conhecido como inibição da supressão induzida pela despolarização ou DSI (sigla de ‘depolarization-induced suppression of inhibition’ em inglês), que faz com que a ativação dos receptores do sistema endocanabinoide tenham o papel na inibição do centro do vômito5. Em somatória ao agonismo direto dos canabinoides, os receptores CB1 também atuam indiretamente e parcialmente nas vias serotoninérgicas (principalmente 5-HT1 e 5-HT3) e dopaminérgicas (D2) ao mediarem uma menor liberação desses neurotransmissores pelo neurônio pré-sináptico6.

A despeito dos efeitos serem atribuídos ao THC, há evidências crescentes de que o CBD pode desempenhar um papel nas náuseas e vômitos7. Como é sabido, há distinção entre náusea aguda e crônica; a náusea aguda se origina do trato GI, geralmente em resposta a substâncias nocivas aos tecidos, enquanto a náusea crônica se origina de circuitos neuronais centrais, que podem ser equiparados à dor neuropática crônica mediada centralmente8. Esse mecanismo semelhante ao visto na resposta álgica implicou na descoberta do papel de receptores da família vanilóide, onde o TRPV1. Diversos agonistas do receptor TRPV1, como a anandamida (que também se liga aos receptores CB1) também possuem papel antiemético conhecido9.

Canabinoides e seu papel no tratamento oncológico

A nabilona é um canabinoide sintético desenvolvido na década de 1970, sendo um potente agonista do receptor CB110. Ele foi pesquisado e descrito em diversos trabalhos até meados da década de 1980 como antiemético em esquemas de tratamento oncológico11-15.

Em 2006, o Food and Drug Administration (FDA) aprovou a substância como tratamento de náuseas e vômitos em pacientes refratários ao tratamento antiemético habitual16. Desde então, utilizando grande parte desses estudos, houve uma revisão sistemática, incluindo mais de 1,3 mil pacientes, de 30 estudos clínicos17. Foram incluídos três canabinóides distintos (nabilona, dronabinol e levonantradol) por administração oral ou intramuscular (para o levonantradol).

Os trabalhos eram sistematizados comparando a resposta dos canabinoides ao placebo ou a princípios ativos, já conhecidos e com potencial terapêutico antiemético, sendo eles a proclorperazina, haloperidol, metoclopramida, clorpromazina, domperidona e alizaprida. Os resultados demonstraram que canabinoides foram mais eficazes do que o tratamento convencional ou placebo para a redução dos episódios de vômito e diminuição da gravidade da náusea. Importante destacar que foi comparado com placebo (4 estudos) e controle ativo (6 estudos), o NNT para controle completo do vômito foi de 3,3 e 8, respectivamente.

Os canabinoides demonstraram ser bem tolerados e a análise demonstrou uma preferência do paciente por esses agentes em relação aos controles ativos e placebo. A despeito da melhora efetiva no controle sintomático, os efeitos colaterais foram mais prevalentes no grupo intervenção, sendo alguns deles classificados como potencialmente benéficos (como sedação e sonolência — a depender do quadro clínico e sintomatologia do paciente) ou definitivamente prejudiciais (como depressão e disforia). Ressalta-se que sintomas compatíveis com delírios foram presentes exclusivamente no grupo que utilizou canabinoides.

A Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) descreve em seu guideline de manejo de náuseas e vômitos induzidos pelos tratamentos oncológicos a possibilidade do uso dos canabinoides, embora não recomende seu uso. Os estudos com canabinóides não compararam a resposta aos regimes antieméticos atuais. A recomendação dos profissionais define que, se escolhido na abordagem desses sintomas, faz-se necessário o uso de nabilona ou dronabinol.18

Esse conteúdo foi produzido em parceria com a Ease Labs.

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Referências bibliográficas

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