O 4º dia do Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO) abriu os trabalhos com Lead Board Abstract (LBA), abrangendo resultados preliminares de estudos em tumores avançados de mama e novos paradigmas no tratamento desses casos.
Houve destaque também para pesquisas no campo dos tumores hereditários e estudos em biomarcadores no adenocarcinoma de pâncreas.
Trastuzumabe deruxtecano + pertuzumabe como primeira linha no tratamento do câncer de mama avançado/metastático em pacientes HER2+
O 4º de Congresso da ASCO apresentou os resultados provisórios do estudo DESTINY-Breast09, que é um ensaio randomizado global, de fase 3 que compara a eficácia e a segurança de trastuzumabe deruxtecano + pertuzumabe (T-DXd + P) versus taxano + trastuzumabe + pertuzumabe (THP) em pacientes com câncer de mama avançado HER2+. Até o momento, o esquema THP é o tratamento padrão.
O ponto de corte marcado para os resultados apresentados foi de 29 meses. De acordo com os resultados preliminares, o esquema T-DXd + P melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão, que representa o desfecho primário nesse estudo (RR0,56; IC 95% 0,44, 0,71; P = 0,00001).
Em relação aos desfechos secundários, a duração mediana da resposta com T-DXd + P excedeu 3 anos. Eventos adversos graves ocorreram em 27,0% dos pacientes no grupo T-DXd + P e em 25,1% dos pacientes no grupo THP.
Os dados do DESTINY-Breast09 obtidos até o momento demonstram melhora estatisticamente significativa na sobrevida livre de progressão em pacientes com câncer de mama metastático HER2+ o que torna demonstra melhor resposta do esquema T-DXd + P. Entretanto, trata-se de dados preliminares e ainda não há uma mudança formal na terapia de primeira linha (THP) nesses casos.
Risco de câncer por variantes patogênicas da linha germinativa entre cânceres em adultos
Variantes patogênicas da linha germinativa (VPG) são alterações genéticas herdadas que aumentam o risco de desenvolvimento de câncer. Normalmente as VPGs afetam genes supressores de tumores ou genes responsáveis pelo reparo do DNA, como BRCA 1, BRCA2, e também genes do mismatch repair MMR). Entretanto, a compreensão nesse âmbito ainda é limitada. O estudo apresentado na ASCO investigou o espectro de cânceres associados a VPGs e fatores associados ao desenvolvimento de múltiplos cânceres primários em pacientes com essas variantes.
Estudo de caso controle no UK Biobank (importante banco de dados biomédicos do Reino Unido) testou associações entre VPGs e riscos de tumores sólidos em genes de predisposição ao câncer. Os pesquisadores identificaram 51 novas associações entre o desenvolvimento de tumores sólidos e VPGs no banco de dados analisado. Entre os portadores de VPGs, foi identificado uma neoplasia maligna primária em 16% dos pacientes e pelo menos duas em 2%. Pacientes portadores de VPGs tem maiores de chances de desenvolver um segundo câncer primário em comparação a pacientes sem VPGs e o risco é ainda maior quando o tumor aparece em idades mais precoces.
Em suma, o estudo demonstra um risco aumentado de um novo câncer em indivíduos geneticamente predispostos e a necessidade de um rastreamento personalizado.
Uso de biomarcador para prever resposta de quimioterapia em adenocarcinoma de pâncreas ressecável
O estudo NeoPancONE é um ensaio clínico multicêntrico de fase II que avaliou a possibilidade de um biomarcador (GATA6) em prever boa a resposta ao esquema de quimioterapia perioperatória com FOLFIRINOX modificado (mFFX) em pacientes com adenocarcinoma de pâncreas ressecável.
O ponto inicial de estudo é que pacientes com adenocarcinoma de pâncreas com alta expressão do biomarcador GATA6 teriam melhor sobrevida global em casos avançados. Os níveis de GATA6 foram avaliados através de análises em biópsias guiadas por ultrassom. A proporção dos níveis de GATA6 determinadas para alto e baixo foram 3:1, sendo ao todo 84% dos pacientes com níveis altos e 16% com níveis baixos.
A sobrevida livre de doença em 1 ano de 71% no grupo GATA6 alto e de 58% no grupo GATA6 baixo (p = 0,53). A sobrevida global em 1 ano foi de 87% no grupo alto e de 75% no grupo baixo (p = 0,29).
O presente estudo demonstra boa resposta ao mFFX com GATA6 alto, mas resposta ruim com níveis baixos do biomarcador avaliado. Isso implica que o esquema mFFX pode não ser o mais adequado a pacientes com GATA6 baixo e deve ser considerado outro esquema de drogas para esses pacientes.
Reflexões
Os resultados demonstrados no 4º dia do Congresso da ASCO trazem novas perspectivas em relação ao tratamento de primeira linha (em câncer avançado de mama), riscos associados e direcionamento de rastreio de múltiplos cânceres em pacientes predisponentes.
A identificação de biomarcadores associados ao prognóstico de esquemas já padronizados, como o mFFX no adenocarcinoma de pâncreas demonstra a necessidade de adaptação do tratamento em casos específicos.
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