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Oncologia3 junho 2025

ASCO 2025: Novos horizontes nos tratamentos de melanoma

Confira quais foram os estudos de destaque dentro deste tema apresentados durante o último dia do congresso.
Por Jader Ricco

O melanoma é um tumor maligno de comportamento biológico agressivo, com altas chances de metástases tanto por via linfática como hematogênica. Um dos grandes desafios dessa doença é o diagnóstico precoce. Especificamente no melanoma cutâneo é importante reconhecer sinais de alarme em machas no corpo, mas com índice de suspeição justificável para evitar biopsias de toda e qualquer lesão de pele.  

Em relação ao tratamento, hoje em dia, drogas cada vez mais eficazes vem sendo usadas no tratamento sistêmico do melanoma como terapia alvo e imunoterapia. Novas avanços como uso de células T vem sendo investigado e e já em uso em alguns casos. 

No 5º e último dia do Congresso ASCO 2025, inovações tecnológicas no diagnóstico do melanoma, como uso da inteligência artificial (IA), novas terapias e uso de células T no tratamento foram destaque nas apresentações. 

 

Inteligência artificial no diagnóstico precoce do melanoma 

O melanoma ainda é uma doença com grande fração dos diagnósticos realizados tardiamente, como em populações com pele clara, trabalhadores rurais e com baixo nível socioeconômico. O uso da inteligência artificial pode ser uma ferramenta útil e acessível no diagnóstico precoce do melanoma. 

A estimativa para incidência de melanoma nos Estados Unidos em 2025 é de 104.960 de melanoma cutâneo invasivo, dos quais é esperado óbito em 8.430 desses pacientes. Quanto mais precoce o diagnóstico, menor a mortalidade. 

O uso da inteligência artificial (IA) no diagnóstico precoce do melanoma envolve convolução de rede neural, uso de métodos estatísticos e técnicas que permitem as máquinas imitar o comportamento humano. O processo também envolve elaboração de uma base de dados de alta qualidade e auxílio de especialistas nesse processo. Testes prévios já mostraram resultados superiores da IA em relação à média avaliada de dermatologistas. 

Estudo realizado na Stanford Medicine and Cleveland Clinic Foundation avaliou 1.046 lesões de pele em 796 pacientes, sendo as lesões fotografadas com dermatoscópicos.  O próximo passo foi determinar a acurácia dos dermatologistas juntamente com o teste de 4 classificadores de imagens. Por fim, determinou-se o desempenho desses algoritmos baseado nos resultados das biópsias realizadas. 

A IA não é um método infalível no diagnóstico precoce do melanoma, além de o diagnóstico definitivo ser aplicado somente após biópsia da lesão. Entretanto, esse método pode ser útil como rastreamento principalmente na população de risco. Olhando para a realidade do Brasil, essa ferramenta terá grande utilidade em populações de alto risco e carente de médicos especializados, uma vez que uma triagem inicial de lesões suspeitas pode ser realizada através de aparelhos por não dermatologistas e, diante da suspeita, encaminhados a centros especializados. 

 

Novos alvos no tratamento do melanoma 

Ao longo dos anos, o tratamento do melanoma vem se desenvolvendo significativamente. A introdução de pembrolizumab (anti-PD-L1) e nivolumab (anti-PD-1) em 2014 e a associação de ipilimumab + nivolumab em 2015 são exemplos dessas inovações no manejo do melanoma que culminaram em melhora significativa da sobrevida. 

O desenvolvimento das novas terapias no melanoma se aplicam, especialmente, na população com melanoma metastático, visando bloquear vias de sinalização intracelular críticas para a proliferação e sobrevivência das células tumorais. Em média, 40 a 50% dos melanomas apresentam mutação no gene BRAF, com destaque para V600F, que leva à ativação da via MAPK (RAS-RAF-MEK-ERK), promovendo crescimento celular autônomo. 

Baseado nesses mecanismos, várias terapias vem sendo estudas, como tovorafenib (mutações na via MAPK), belvarafenib (BRAF e NRAS), exarafenib (BRAF e NRAS), dentre outros. As pesquisas vêm apresentando bons resultados em termos de sobrevida. Outros potenciais alvos vem sendo avaliados como Nectin-4 (molécula de adesão celular), B7-H3 e B7-H4 (checkpoint imune), ROR ½ (receptores de tirosina quinase) e fatores teciduais. 

Uma outra forma de atuação é a terapia celular baseada em linfócitos infiltrantes de tumor (TIL), que tem seu papel nos casos de melanoma irressecável ou metastático resistentes a inibidores de PD-1, com potencial de remissão de doença duradoura. Entretanto, nem todos os pacientes são candidatos à essa terapia, as taxas de respostas são baixas e a toxicidade é alta, além de custos financeiros extremamente altos. 

Apesar desses pontos negativos, as perspectivas futuras para essas drogas incluem início do uso em tempo hábil, redução da toxicidade e melhora dos mecanismos de resposta ao medicamento.  

 

Conclusão 

O melanoma ainda é uma doença com mortalidade e morbidade consideráveis. Os fatores para a redução e melhores resultados no tratamento dessa doença envolvem campanhas de prevenção, diagnóstico precoce, terapias eficazes, com menos toxicidade e mais acessíveis financeiramente. Todo empenho no desenvolvimento e aprimoramento no manejo dessa doença é útil.  

O uso da IA tem potencial para ampliar o diagnóstico, principalmente considerando áreas de difícil acesso a especialistas que, em grande parte, são também regiões de alto risco como áreas rurais e população com baixo nível socioeconômico. Paralelamente ao diagnóstico precoce, o desenvolvimento de novas terapias, capazes de bloquear o avanço da doença e regredir estágios avançados tem impacto na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. 

 

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