Um dos destaques da seção plenária nesse 3º dia de Congresso da American Society of Clinical Oncology (ASCO) foi a introdução de imunoterapia perioperatória nos cânceres gástrico e de junção esofagogástrica.
Em 2025, novas perspectivas no tratamento do câncer de esôfago estão entrando em vigor. O ESOPEC, já apresentado na ASCO 2024 e publicado em janeiro de 2025, apresentou novos paradigmas no manejo do adenocarcinoma de esôfago. Esse estudo demonstrou melhores resultados em relação a sobrevida global e sobrevida livre de doença nos pacientes com adenocarcinoma esofágico tratados com quimioterapia perioperatória, aos moldes do protocolo FLOT (fluoracil, leocovorin, oxaliplatina e docetaxel).
No adenocarcinoma gástrico, a imunoterapia, especialmente com agentes anti-PD-1 (nivolumab, pembrolizumab) e anti-PD-L1 estão se estabelecendo como terapias importantes em pacientes com tumores avançados, principalmente naqueles com alta expressão de PD-L1 ou MSI-H/dMMR, com taxas de respostas significativamente superiores em relação à quimioterapia isolada.
Durvalumabe perioperatório em câncer gástrico e da junção esofagogástrica
O Durvalumabe é um anticorpo anti-PD-L1 aprovado para o tratamento de vários tumores sólidos como câncer de pulmão, vias biliares, hepatocarcinoma, dentre outros. Ensaio clínico multinacional de fase 3 apresentado nesse 3ª dia de congresso da ASCO, o MATTERHORN, avaliou a eficácia da adição de durvalumabe ao esquema FLOT como terapia perioperatória em pacientes com adenocarcinoma gástrico e de junção esofagogástrica.
Foram incluídos no estudo 948 pacientes, dos quais 474 foram aleatoriamente alocados no grupo durvalumabe (dose 1500 mg a cada 4 semanas, mais FLOT por 4 ciclos, sendo 2 ciclos neoadjuvante e 2 ciclos adjuvante, seguidos por durvalumabe a cada 4 semanas por 10 ciclos) e grupo placebo (mesmo esquema com FLOT, mas com placebo em substituição ao dervalumab).
O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença. Os desfechos secundários incluíram sobrevida global e resposta patológica completa.
Resultados
A sobrevida livre de doença foi avaliada em 2 anos e, no grupo dervalumabe foi de 67,4%. No grupo placebo esse desfecho foi de 58,5% (IC 95%, 058-0,86; p<0,001).
A avaliação dos desfechos secundários revelou sobrevida global em 2 anos de 75,7% no grupo dervalumabe e 70,4% no grupo placebo (IC 95%, 0,70 a 1,39; p=0,03). Em relação à resposta patológica completa, o grupo dervalumabe apresentou taxa de 19,2% e o grupo placebo, 7,2% (risco relativo 2,69 [IC 95%, 1,86 a 3,9]).
O estudo avaliou também a ocorrência de efeitos adversos graves (grau 3 ou 4), que foi de 71,6% no grupo dervalumab e de 71,2% no grupo placebo. 10,1% dos pacientes do grupo dervalumabe foram submetidos a cirurgia tardia e, no grupo placebo, esse valor foi de 10,8%. As taxas de início tardio do tratamento foram de 2,3% no grupo dervalumab e 4,6% no grupo placebo.
Conclusão
O estudo MATTERHOR revelou diferença estatisticamente significativa em relação a sobrevida livre de doença em 2 anos para pacientes com adenocarcinoma gástrico ou de junção esofagogástrica, com melhores resultados em pacientes que receberam dervalumab.
Um ponto importante a se ressaltar é que não houve diferença estatisticamente significativa em relação à sobrevida global. Por outro lado, também não houve aumento significativo dos efeitos colaterais em comparação com grupo placebo.
Os dados do estudo revelam que o dervalumabe perioperatório associado ao esquema FLOT melhorou a resposta em relação à sobrevida livre de doença e pode ser um candidato a tratamento de primeira linha para pacientes com adenocarcinoma gástrico ou de junção esofagogástrica ressecáveis.
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