A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma condição ocular grave que afeta recém-nascidos (RN) prematuros podendo levar à cegueira se não diagnosticada e tratada precocemente.
Embora a patogênese da ROP não seja completamente compreendida, fatores como hipóxia intermitente, sofrimento oxidativo, inflamação e produção inadequada de fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), juntamente com a imaturidade dos vasos da retina e a oxigenoterapia, são fatores de risco para ROP.
Estudos recentes demonstraram que a vitamina A e o propranolol seriam capazes de reduzir a chance de evolução para estágios graves de ROP entre pacientes suplementados pela down-regulation da expressão de VEGF. Já os lipídios como o ácido aracídico e o ácido docosahexaenóico têm um efeito profilático, inibindo o processo de neovascularização. Apesar disso, não há consenso em relação à eficácia e segurança na aplicação prática dessas suplementações.
Um estudo avaliou ensaios clínicos randomizados (RCTs) que examinaram RN prematuros nascidos com idade gestacional inferior a 32 semanas e um peso ao nascer inferior a 1500 gramas que receberam lipídios, vitamina A ou propranolol e os comparou ao placebo. O objetivo foi avaliar a eficácia e a segurança dos lipídios, vitamina A e propranolol na redução da incidência de ROP, além dos efeitos adversos e taxas de mortalidade em RN prematuros com baixo peso ao nascer.
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Métodos
Os desfechos avaliados foram: ROP em qualquer estágio, ROP estágio 1, ROP estágio 2, ROP grave (com necessidade de tratamento), efeitos adversos e mortalidade. A justificativa para incluir especificamente RN prematuros nascidos com uma idade gestacional inferior a 32 semanas e um peso ao nascer inferior a 1500g é baseada em evidências da literatura, que indicam o maior risco de desenvolver ROP nessa população.
Resultados
Um total de 1101 participantes foram incluídos. Desses, 479 (43,5%) receberam vitamina A, 416 (37,8%) receberam propranolol e 206 (18,7%) lipídios.
Nenhuma diferença estatisticamente significativa foi observada entre os que receberam vitamina A, propranolol e lipídios na redução ou prevenção da taxa de ROP em qualquer estágio, exceto de ROP grave, comparados ao grupo controle.
O subgrupo de lipídios demonstrou uma redução significativa na evolução para ROP grave entre seus participantes, enquanto os grupos restantes, incluindo vitamina A e propranolol não mostraram redução significativa.
Discussão
Essa revisão avaliou um total de 1101 RN prematuros com baixo peso ao nascer e avaliou a eficácia e segurança dos lipídios, vitamina A e propranolol na prevenção da incidência de ROP em qualquer estágio e ROP grave. A análise do subgrupo revelou uma redução significativa na ROP grave apenas no subgrupo que suplementou lipídios. No entanto, não foram observadas diferenças entre os braços de intervenção e controle em relação à ROP em qualquer estágio, efeitos adversos ou taxas de mortalidade.
O pequeno tamanho da amostra é uma limitação relevante do estudo, somado à falta de dados sobre resultados a longo prazo, reduzindo assim sua generalização.
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Mensagem prática
Embora os resultados tenham indicado que nenhuma das profilaxias reduziu o risco de ROP em qualquer estágio, os lipídios foram promissores em reduzir a progressão para ROP grave.
Em nossa prática diária devido aos avanços nas práticas neonatais, a prematuridade tornou-se uma questão de saúde frequente, com RNs cada vez mais prematuros sobrevivendo. Portanto, pesquisas que busquem alternativas de prevenção são importantes, pois esses RNs apresentam maior risco de perda visual irreversível.
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