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Oftalmologia12 junho 2025

Exotropia intermitente: Realidade virtual como forma de controle

Treinamento com realidade virtual mostra eficácia no tratamento da exotropia intermitente. Saiba mais com os resultados.

A exotropia intermitente X(T) tem sido, nos últimos anos, o estrabismo mais frequente nos consultórios. Sua classificação é baseada no ângulo de desvio para perto e longe. No tipo básico, a diferença entre os ângulos de desvio de perto e longe é menor que 10 dioptrias prismáticas (PD) e o tipo insuficiência de convergência ocorre quando o ângulo de desvio é maior de perto do que de longe (≥ 10 PD).  

O tratamento envolve, em grande parte dos casos, a intervenção cirúrgica, que melhora o alinhamento dos olhos, outra opção são os exercícios ortópticos capazes de melhorar a função binocular, principalmente no tipo insuficiência de convergência. Ele pode ser realizado no domicílio ou no consultório, porém nem sempre a adesão é satisfatória. Com o objetivo de melhorar a aceitação, os videogames que induzem convergência foram desenvolvidos para pacientes com X(T), mantendo maior interesse e engajamento ao tratamento. 

Nesse estudo, um novo programa de exercícios de convergência 3D interativo com realidade virtual (VR) baseado em um sistema de exibição montado com um capacete foi desenvolvido. A partir dele, um ensaio clínico randomizado para avaliar sua eficácia no tratamento de X(T) do tipo básica e do tipo insuficiência de convergência foi desenvolvido. 

Veja mais: A realidade virtual aplicada ao controle da miopia em crianças   – Portal Afya

Exotropia Intermitente

Métodos 

Os pacientes foram divididos de forma aleatória para um grupo de videogame que induziu convergência (grupo de exercício) e um grupo placebo, sem convergência (grupo controle). Os resultados foram medidos em 4 semanas (uso de 15 minutos ao dia) e reavaliados 4 semanas após o término do tratamento. As avaliações realizadas foram sintomas subjetivos, ângulo de desvio, ponto próximo de convergência, estereopsia, pontuações de controle de fusão usando o Escore the Newcastle Control (NCS) e o Escore the Office Control (OCS). 

Resultados 

De dezembro de 2019 a outubro de 2021, 62 participantes foram alocados aleatoriamente para um dos grupos: um grupo de exercícios que realizou treinamento com dispositivo VR induzindo convergência e um grupo de controle que realizou um programa de treinamento placebo. O ângulo do desvio, a convergência, a acomodação e a estereopsia após o treinamento com o dispositivo VR foram avaliados. 

Não foi encontrado mudança no ângulo do desvio, porém o desvio de perto no grupo de exercícios de convergência melhorou de forma significativa, sendo mantida na reavaliação de 4 semanas após a interrupção do tratamento. No grupo controle, tanto o ângulo de desvio para longe, quanto o de perto permaneceram inalterados no grupo controle. 

A estereopsia melhorou após o treinamento de VR no grupo de exercícios. No controle, não houve diferenças significativas. 

O ponto próximo de acomodação (NPA) não mudou em nenhum dos grupos. O ponto próximo de convergência (NPC) permaneceu inalterado no grupo de exercícios, mas piorou significativamente no grupo controle. Pontuações de controle de fusão tanto a Newcastle (NCS) quanto a Office (OCS) mostraram melhora significativa no grupo de exercícios. Sem mudanças nas pontuações do grupo controle. 

Discussão 

Esse estudo mostrou que o programa de treinamento ortóptico baseado em VR para pacientes com X(T) resultou em melhoras estatisticamente significativas no ângulo de desvio de perto e na estereopsia, que foram sustentadas por quatro semanas após o término do programa. Além disso, as pontuações de controle de fusão (NCS e OCS) foram favoráveis apenas no grupo de exercícios de convergência com o dispositivo VR. 

As intervenções não cirúrgicas para o tratamento da X(T) tipo básico e/ou insuficiência de convergência podem ser menos eficazes do que a cirurgia, mas a vantagem é que não apresentam efeitos colaterais associados. O treinamento de exercícios ortópticos e a oclusão antissupressiva de 2 a 3 horas por dia podem melhorar o controle fusional. Exercícios ortópticos realizados por profissionais treinados aumentam a capacidade fusional, com melhora dos sintomas de foria descompensada e insuficiência de convergência, em contrapartida com dificuldade de adesão. 

Nesse estudo, os resultados motores no grupo de exercícios foram favoráveis, porém os escores dos sintomas, tanto no grupo de exercícios quanto no grupo controle, foram melhores. O que pode ser explicado pelo efeito placebo. Na literatura há relatos que a maioria dos pacientes que receberam a terapia VR com placebo acreditavam que haviam recebido terapia real, tendo certeza de suas respostas. 

Mensagem prática 

Cada vez mais em nossos consultórios pacientes com X(T) são diagnosticados. As opções de tratamento não cirúrgicas hoje são de difícil adesão.  

Alternativas mais atrativas e efetivas podem proporcionar melhor controle, por aumentar a aderência ao tratamento. Os dispositivos de VR necessitam de uma baixa dose de uso para obter resultados.  

Portanto, os exercícios ortópticos com protocolos apropriados associados aos dispositivos VR podem ser uma opção de tratamento eficaz para pacientes X(T) do tipo básica e do tipo insuficiência de convergência. 

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Referências bibliográficas

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