Conjuntivite neonatal: ainda se utiliza o nitrato de prata?
A conjuntivite neonatal (CN) é uma causa de cegueira infantil em países de baixa e média renda, principalmente pela Neisseria gonorrhoeae. A infecção ocorre principalmente no canal de parto infectado da mãe durante o parto, mas também pode ocorrer intraútero por ascensão de infecção. A conjuntivite gonocócica tratada inadequadamente pode resultar em perfuração da córnea e perda de visão em 24 horas.
A prevenção da conjuntivite neonatal foi introduzida por Carl Credé no ano de 1880, por meio da instilação de uma gota do nitrato de prata a 1% em cada olho do recém-nascido com a finalidade de prevenir a contaminação durante o parto. Devido ao alto índice de cegueira em bebês, o Ministério da Saúde tornou obrigatório o uso do método Credé no nascimento.
Contexto atual: conjuntivite neonatal
Atualmente, o uso do Nitrato de Prata vinha sendo questionado porque há uma prevalência crescente de outros patógenos, além da Neisseria gonorrhoeae, como Chlamydia trachomatis. A CN por clamídia também está associada a um alto risco de cicatrizes na córnea e conjuntiva, hemorragia conjuntival e, raramente, perda de visão se não for tratada. A conjuntivite por clamídia é muito mais prevalente que a conjuntivite gonocócica e tem sido subdiagnosticada devido à falta de técnicas de diagnóstico precisas. Além dessas também pode ser causada por outras bactérias como o Staphylococcus aureus e alguns vírus como o herpes simples e o adenovírus. Além disso, com o avanço dos estudos e pesquisas observou-se que o Nitrato pode ocasionar conjuntivite química, ardor, irritação e ser doloroso quando em contato com os olhos dos bebês, podendo apresentar também problemas de conservação.
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Observou-se a necessidade de se utilizar um medicamento eficaz e que não ocasionasse desconforto ao recém-nascido. Desta forma, como alternativa, foram testadas a penicilina, a eritromicina, tetraciclina e a iodopovidona. Entre os medicamentos alternativos, a iodopovidona a 2,5% tem eficácia comprovada, não só contra Neisseria gonorrhoeae, mas também contra Chlamydia, não apresenta problemas de conservação e tem baixo custo. O surgimento de N. gonorrhoeae produtoras de betalactamase reduziu a eficácia profilática da eritromicina e tetraciclina. Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende que a profilaxia da conjuntivite deve ser feita, existe uma grande variação de condutas mundialmente.
Posicionamento brasileiro
Foi publicada esse ano pelo Ministério da Saúde uma nota técnica com orientações sobre a substituição do nitrato de prata 1% em recém-nascidos, reforçando a orientação das Diretrizes de Atenção à Saúde Ocular na Infância sobre o uso da iodopovidona a 2,5% e das Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto, que recomendam o uso da eritromicina 0,5% e tetraciclina 1%, sendo previsto o uso do Nitrato de Prata somente em casos em que não se dispõe dos mencionados anteriormente.
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