O nome dessa síndrome foi inspirado na obra de Lewis Carroll, em que a Alice — personagem principal do livro — sente que tanto ela como outros seres ou objetos tornam-se maiores ou menores.
A primeira descrição ocorreu em 1955 pelo psiquiatra britânico John Todd que observou uma constelação de sintomas com distorções visuais e não visuais intimamente associadas à migrânea e à epilepsia — embora não confinadas apenas a essas doenças. Embora haja essa constelação de possíveis sintomas, a característica principal dessa síndrome cerne na distorção de imagem relacionada ao próprio corpo.
Até o presente momento, não há disponível estudos epidemiológicos com grande amostragem disponíveis na literatura. Sabe-se que essa síndrome, em geral, é rara.
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Poucos estudos de neuroimagem funcional reportaram sobre potenciais vias que estivessem envolvidas na síndrome de Alice no país das Maravilhas. A príncipio, foi denotado que complexas conexões neurais envolvendo a junção temporoparietal direita, córtex somatossensitivo secundário, córtex parietal posterior, córtex premotor ventral e região posterior da ínsula estão relacionadas na experiência subjetiva da imagem corporal própria.
Diversas etiologias e manifestações clínicas estão associadas à síndrome de Alice no país das maravilhas. Em revisão sistemática realizada pela Neurology, foi realizada pesquisa através do PubMed até junho de 2015, em que foram incluídos artigos provenientes de vários idiomas: inglês, holandês, alemão, francês, espanhol e italiano.
Nessa revisão, foi observado um total de 170 pacientes descritos: 20 através de uma série de casos e 48 por outras séries de casos. Um desses pacientes havia sido descrito de forma duplicada, de forma que a revisão sistemática avaliou 169 pacientes.
Manifestações clínicas mais relatadas
Nessa revisão sistemática provida pela Neurology, também foi analisado os sintomas relatados por essa síndrome, em que foi observado:
► Sintomas visuais:
- 58,6% dos casos com micropsia (sensação de objetos menores do que realmente são);
- 45% dos casos com macropsia (sensação de objetos maiores do que realmente são);
- 23,1% dos casos com telopsia (sensação de objetos mais distantes comparados à realidade);
- 20,1% dos casos com dismorfopsia (linhas e contornos com aspecto ondulante);
- 6,5% dos casos com pelopsia (sensação de objetos mais próximos comparados à realidade);
- 5,3% dos casos com acromatopsia (dificuldade na habilidade de percepção de cores).
► Sintomas somestésicos e outros:
- 13% dos casos com fenômeno de quick-motion (sensação de aceleração psicológica do tempo);
- 10% dos casos com fenômeno de desrealização (experiência de que o mundo não seria real);
- 8,9% dos casos com fenômeno de macrosomatognosia (sensação do próprio corpo ser maior do que de fato é);
- 8,3% dos casos com fenômeno de microsomatognosia (sensação do próprio corpo ser menor do que de fato é).
Etiologias mais prevalentes
Os 169 pacientes avaliados nessa revisão sistemática foram divididos em 8 grupos conforme etiologia associada à síndrome de Alice no país das maravilhas: (1) doenças infecciosas, (2) lesões em sistema nervoso central, (3) lesões em sistema nervoso periférico, (4) distúrbios neurológicos paroxísticos (como epilepsia e migrânea), (5) distúrbios psiquiátricos, (6) medicamentos, (7) drogas ilícitas e (8) miscelânea.
A partir dessa classificação, foi observado que 30,7% dos casos eram pertencentes ao grupo de distúrbios neurológicos paroxísticos em que a maioria dos casos estava relacionada à migrânea. 22,9% dos casos foram atribuídos ao grupo de doenças infecciosas, em que encefalite por Epstein-Barr vírus foi um dos agentes etiológicos predominantes. Em terceiro lugar, o grupo de substâncias ilícitas apresentou prevalência de 6% dessa amostra.
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A síndrome de Alice no país das maravilhas possui tratamento? Qual prognóstico?
O tratamento e o prognóstico variam conforme causa subjacente. Em casos de migrânea e epilepsia, esses sintomas podem recorrer em concordância com fases ativas dessas doenças. Por outro lado, em casos de encefalite, o tratamento irá variar conforme agente etiológico assim como o seu prognóstico.
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