Fadiga é uma queixa muito comum no atendimento ambulatorial e altamente angustiante para o médico e o paciente, devido a grande dificuldade no diagnóstico e tratamento desta condição. Em 1994, Fukuda et al. publicou a definição de uma síndrome clínica cuja queixa central é a fadiga, e desde então a medicina passou a encarar a síndrome como entidade nosológica. Em pouco mais de 20 anos, pouco evoluímos no tratamento porém muito já se conhece, e se pergunta, sobre a fisiopatologia da doença. Pensando nisso, organizamos uma matéria especial sobre o tema, utilizando a excelente ferramenta do mindthegraph.com para ilustrar o paradigma atual da fisiopatologia desta síndrome.
A definição da síndrome da fadiga crônica, como publicada em 1994, consiste inteiramente em um conjunto de sintomas, carecendo de dados mais objetivos para sua caracterização e consequente diagnóstico. Seu amplo diagnóstico diferencial, que envolve doenças como depressão, hipotireoidismo, esclerose múltipla, fibromialgia e outras, também reforçam a alta demanda por exames diagnósticos.
Embora seja caracterizada inteiramente por sintomas, pesquisas recentes evidenciaram alterações em exames de imagem e laboratoriais presentes na síndrome da fadiga crônica, indicando sua natureza fisiopatológica orgânica e desmentindo seu caráter psiquiátrico anteriormente atribuído.
Sendo assim, resumimos abaixo (e na figura acima) as principais alterações observadas pelos estudos:
Alterações Cognitivas e em Sistema Nervoso Central:
- Lentificação do processamento de informações e déficit de atenção e memória;
- Tarefas cognitivas requerem mais áreas do cérebro para serem realizadas (por exames funcionais de ressonância magnética);
- Diminuição da substância cinzenta cerebral (por ressonância magnética);
- Neuroinflamação crônica por ativação de células da glia (por PET scan).
Alterações em Eixos Hormonais:
- Diminuição dos níveis de cortisol noturno e de excreção urinária em 24 horas;
- Diminuição da liberação hipotalâmica de CRH e hipofisária de ACTH.
Alterações do sistema imune:
- Disfunção de linfócitos natural killer (NK);
- Níveis de citocinas inflamatórias alterados, indicativos de inflamação crônica;
- Ativação imunomediada das células da glia.
Algumas evidências também demonstram o papel de infecções, especialmente pelo vírus Epstein-Barr, como deflagradores e perpetuadores do estado de inflamação crônica que causam a fadiga. Preconiza-se portanto, que este estado de inflamação crônica desencadeia alterações de função encefálica e liberação hormonal, que determinam a fadiga. A maior evidência que temos de que o aumento de citocinas determina fadiga é o efeito adverso associado a administração de interferon para o tratamento de hepatite C.
Diante destas evidências, o grande desafio é que todas as alterações relatadas, embora objetivas, apresentam baixa sensibilidade e especificidade, e, portanto, não devem ser utilizadas como ferramentas diagnósticas para a síndrome da fadiga crônica.
Ainda assim, uma nova abordagem está sendo proposta em termos de diagnóstico e tratamento, e reservamos esta abordagem para nossa próxima postagem no blog. Fique ligado!
Referências Bibliográficas:
- Fukuda K et al. The chronic fatigue syndrome: A comprehensive approach to its definition and study. Ann Intern Med 1994 Dec 15.
- Komaroff AL and Cho TA. Role of infection and neurologic dysfunction in chronic fatigue syndrome. Semin Neurol 2011 Jul.
- Nakatomi Y et al. Neuroinflammation in patients with chronic fatigue syndrome/myalgic encephalomyelitis: An 11C-(R)-PK11195 PET study. J Nucl Med 2014.
- Komaroff AL. Chronic Fatigue Syndrome: Biology, Diagnosis and Management. New England Journal of Medicine 2015 June 15.
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