A doença de Parkinson (DP), distúrbio neurodegenerativo progressivo mais comum após o Alzheimer, ainda representa um enorme desafio terapêutico. Embora os tratamentos farmacológicos e a estimulação cerebral profunda (DBS) tenham papel importante no manejo dos sintomas, especialmente motores, nem todos os pacientes são elegíveis ou toleram essas abordagens. Nesse cenário, o ultrassom focado de alta intensidade (HIFU) tem emergido como uma opção promissora e minimamente invasiva.
O que é o ultrassom focado de alta intensidade (HIFU)?
O HIFU utiliza ondas de ultrassom guiadas por ressonância magnética para promover ablação térmica precisa de alvos cerebrais profundos, sem necessidade de incisões ou implantes. A energia acústica é concentrada em um ponto específico do cérebro, gerando calor suficiente para causar necrose por coagulação do tecido desejado, com precisão milimétrica.
A técnica é guiada em tempo real por RM funcional, que permite o mapeamento anatômico, o monitoramento térmico e a avaliação imediata do efeito clínico intraoperatório.
Indicações e evidências clínicas
O uso do HIFU na doença de Parkinson é mais estudado nos seguintes contextos:
- Talamotomia unilateral (núcleo ventral intermédio – Vim)
Indicada especialmente para controle de tremor parkinsoniano refratário. Foi o primeiro uso aprovado pela FDA e pela ANVISA, com bons resultados na melhora do tremor e impacto funcional.
- Palidotomia ou subtalamotomia unilateral
Estudos mais recentes têm explorado alvos como o globo pálido interno (GPI) e o núcleo subtalâmico (NST) para tratar discinesias, rigidez e bradicinesia. Ainda em fase de maior investigação, essas abordagens vêm mostrando melhora significativa de sintomas motores em pacientes selecionados.
Vantagens do ultrassom focado de alta intensidade (HIFU)
- Não invasivo: não requer cirurgia aberta nem implantes permanentes.
- Recuperação rápida: pacientes geralmente recebem alta no mesmo dia.
- Baixo risco de infecção ou sangramento.
- Efeitos imediatos em muitos casos, especialmente na melhora do tremor.
Limitações e critérios de seleção
Apesar das promissoras evidências, o HIFU não é indicado para todos os pacientes com Parkinson. Os principais critérios incluem:
- Sintomas motores refratários à terapia medicamentosa, principalmente tremor incapacitante.
- Doença ainda assimétrica, pois a técnica é unilateral (bilateralismo ainda tem risco maior de efeitos colaterais).
- Ausência de contraindicações à ressonância magnética.
- Integridade da calota craniana (densidade óssea adequada para transmissão da energia ultrassônica).
Além disso, efeitos adversos podem incluir parestesias, ataxia transitória, distúrbios da fala e fraqueza leve, na maioria das vezes reversíveis.
Comparativo com a estimulação cerebral profunda (DBS)
Característica | HIFU | DBS |
Invasividade | Não invasivo | Cirurgia invasiva com implantes |
Reversibilidade | Irreversível | Reversível e ajustável |
Efeitos imediatos | Sim, principalmente tremor | Pode levar semanas a meses |
Ajustabilidade | Não | Programável |
Risco de infecção | Muito baixo | Moderado |
Custo | Menor no curto prazo | Maior investimento inicial |
Atualizações regulatórias
O HIFU foi aprovado pela ANVISA em 2022 para uso terapêutico em tremor essencial e doença de Parkinson com tremor refratário. No Brasil, alguns centros de excelência já oferecem a tecnologia com protocolos rigorosos de seleção.
Conclusão
O ultrassom focado representa uma das mais inovadoras fronteiras no tratamento da doença de Parkinson, oferecendo uma alternativa segura e eficaz para pacientes com sintomas refratários, principalmente tremor. Embora não substitua a DBS ou o tratamento medicamentoso em todos os casos, o HIFU amplia significativamente o arsenal terapêutico da neurologia moderna, com o potencial de transformar o paradigma de cuidado em distúrbios do movimento.
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