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Neurologia29 agosto 2025

Ultrassom focado na doença de Parkinson: uma nova era no tratamento não invasivo 

O ultrassom focado de alta intensidade (HIFU) tem emergido como uma opção promissora e minimamente invasiva na doença de Parkinson
Por Victor Fiorini

A doença de Parkinson (DP), distúrbio neurodegenerativo progressivo mais comum após o Alzheimer, ainda representa um enorme desafio terapêutico. Embora os tratamentos farmacológicos e a estimulação cerebral profunda (DBS) tenham papel importante no manejo dos sintomas, especialmente motores, nem todos os pacientes são elegíveis ou toleram essas abordagens. Nesse cenário, o ultrassom focado de alta intensidade (HIFU) tem emergido como uma opção promissora e minimamente invasiva.  

O que é o ultrassom focado de alta intensidade (HIFU)? 

O HIFU utiliza ondas de ultrassom guiadas por ressonância magnética para promover ablação térmica precisa de alvos cerebrais profundos, sem necessidade de incisões ou implantes. A energia acústica é concentrada em um ponto específico do cérebro, gerando calor suficiente para causar necrose por coagulação do tecido desejado, com precisão milimétrica. 

A técnica é guiada em tempo real por RM funcional, que permite o mapeamento anatômico, o monitoramento térmico e a avaliação imediata do efeito clínico intraoperatório.  

Indicações e evidências clínicas 

O uso do HIFU na doença de Parkinson é mais estudado nos seguintes contextos: 

  1. Talamotomia unilateral (núcleo ventral intermédio – Vim)

Indicada especialmente para controle de tremor parkinsoniano refratário. Foi o primeiro uso aprovado pela FDA e pela ANVISA, com bons resultados na melhora do tremor e impacto funcional. 

  1. Palidotomia ou subtalamotomia unilateral

Estudos mais recentes têm explorado alvos como o globo pálido interno (GPI) e o núcleo subtalâmico (NST) para tratar discinesias, rigidez e bradicinesia. Ainda em fase de maior investigação, essas abordagens vêm mostrando melhora significativa de sintomas motores em pacientes selecionados.  

Vantagens do ultrassom focado de alta intensidade (HIFU)

  • Não invasivo: não requer cirurgia aberta nem implantes permanentes. 
  • Recuperação rápida: pacientes geralmente recebem alta no mesmo dia. 
  • Baixo risco de infecção ou sangramento. 
  • Efeitos imediatos em muitos casos, especialmente na melhora do tremor.

Limitações e critérios de seleção 

Apesar das promissoras evidências, o HIFU não é indicado para todos os pacientes com Parkinson. Os principais critérios incluem: 

  • Sintomas motores refratários à terapia medicamentosa, principalmente tremor incapacitante. 
  • Doença ainda assimétrica, pois a técnica é unilateral (bilateralismo ainda tem risco maior de efeitos colaterais). 
  • Ausência de contraindicações à ressonância magnética. 
  • Integridade da calota craniana (densidade óssea adequada para transmissão da energia ultrassônica). 

Além disso, efeitos adversos podem incluir parestesias, ataxia transitória, distúrbios da fala e fraqueza leve, na maioria das vezes reversíveis.  

Comparativo com a estimulação cerebral profunda (DBS) 

Característica HIFU DBS 
Invasividade Não invasivo Cirurgia invasiva com implantes 
Reversibilidade Irreversível Reversível e ajustável 
Efeitos imediatos Sim, principalmente tremor Pode levar semanas a meses 
Ajustabilidade Não Programável 
Risco de infecção Muito baixo Moderado 
Custo Menor no curto prazo Maior investimento inicial 

Atualizações regulatórias 

O HIFU foi aprovado pela ANVISA em 2022 para uso terapêutico em tremor essencial e doença de Parkinson com tremor refratário. No Brasil, alguns centros de excelência já oferecem a tecnologia com protocolos rigorosos de seleção.  

Conclusão 

O ultrassom focado representa uma das mais inovadoras fronteiras no tratamento da doença de Parkinson, oferecendo uma alternativa segura e eficaz para pacientes com sintomas refratários, principalmente tremor. Embora não substitua a DBS ou o tratamento medicamentoso em todos os casos, o HIFU amplia significativamente o arsenal terapêutico da neurologia moderna, com o potencial de transformar o paradigma de cuidado em distúrbios do movimento.

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Referências bibliográficas

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