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Em épocas de festas, que frequentemente incluem viagens para regiões diversas – com seu clima e comida diferentes do habitual –, não é incomum a ocorrência de infecções diversas, como respiratória ou digestiva. Como quadros infecciosos costumam ser um dos antecedentes possíveis da Síndrome de Guillain-Barré (SGB), vale a pena rever, de modo prático, a conduta básica nestes casos.
Antes disso, lembremos-nos de quando suspeitar: existem diversas variantes possíveis (ver abaixo, no fim deste texto), mas o quadro típico de SGB é:
- Fraqueza simétrica, em membros ou face;
- Sintomas sensitivos leves (pode haver ainda queixa de dor, como lombalgia);
- Reflexos tendíneos ausentes ou diminuídos.
Itens recomendados para a abordagem diagnóstica:
- Exame neurológico completo;
- Líquor (LCR) típico: proteínas > 50; e leucócitos < 20. LCR normal não exclui hipótese de SGB, até porque 50% dos pacientes podem não ter alterações no LCR na 1ª semana.
- Screening laboratorial básico:
- Hemograma, eletrólitos, glicemia, CPK, função renal e hepática;
- Sorologias para: hepatites virais, HIV, EBV, CMV, Herpes 1 e 2, sífilis, VZV, dengue;
- Avaliar PCR pra Zika (sangue, urina e líquor);
- Outros: vit.B12, TSH, T4livre, eletroforese de proteínas.
- Não é indicado Eletroneuromiografia de rotina no início do quadro, pois pode estar normal.
Mais do autor: ‘Suspeita de Creutzfeldt-Jakob: o que fazer’
PRECISA INTERNAR TODO PACIENTE COM SUSPEITA DE SGB?
A decisão sobre internação segue o grau de comprometimento, de acordo com um score de incapacidade no SGB:
1. Conduta alta hospitalar e reavaliar em 48h, quando 0 ou 1 ponto:
- Assintomático;
- Sintomas mínimos / capaz de correr.
2. Conduta internação, quando 2 ou mais pontos do score:
- Deambula > 10 m, sem auxílio;
- Deambula 10 m, com auxílio;
- Acamado ou precisa de cadeira de rodas;
- Ventilação mecânica.
COMO TRATAR?
O tratamento deve ser avaliado de acordo com a presença ou não de critérios de gravidade:
- Tetraparesia;
- Acometimentos de nervos cranianos; disfagia; disfonia;
- Disautonomia (taqui/bradicardia, hipotensão postural e labilidade pressórica), com risco de morte súbita;
- Ventilometria alterada / insuficiência respiratória;
- Evolução rápida (escore > 3, em menos de duas semanas).
SEM critérios de gravidade -> Tratamento conservador:
- Internar no quarto/enfermaria;
- Observação e ventilometria 3x/dia, com fisioterapeuta;
- Ideal avaliação de fono;
- É dispensável Imunogrobulina IV (IGIV).
COM critérios de gravidade -> Tratamento padrão:
- 1ª opção: IgIV – 0,4 g/kg/dia, infundindo em 6 a 8h, durante 5 dias.
- 2ª opção: Plasmaferese, com troca de 250 ml/kg, em 5 sessões, em dias alternados (este esquema pode variar, de acordo com a experiência de cada instituição).
- Não está indicado corticoide.
- Ventilometria 3x/dia.
- Considerar IOT se:
- Hipoxemia (PaO2 < 56 mmHg);
- Hipercarbia (PaCO2 > 48 mmHg);
- PI máx < 30 cm H2O;
- PE máx < 40 cm H2O;
- CVF < 20 ml/kg;
- Ou presença de atelectasia ou infiltrado pulmonar.
VARIANTES:
Além do quadro típico, algumas outras apresentações merecem ser lembradas (como a síndrome de Miller Fisher), pois podem passar despercebidas:

- SGB clássico: tetraparesia com ou sem envolvimento de nervo craniano motor.
- SGB paraparético: membros inferiores.
- Fraqueza faríngo-cervical-braquial: região bulbar, pescoço e membros superiores.
- Fraqueza bifacial com parestesias (pode haver ptose palpebral ou só paresia de N. abducente).
- Síndrome de Miller Fisher: oftalmoplegia externa + ataxia + arreflexia.
- Encefalite de Bickerstaff (“Miller Fisher central”): oftalmoplegia externa + ataxia + hipersonolência.
Referências:
- Wakerley BR, Yuki N. “Mimics and chameleons in Guillain–Barré and Miller Fisher syndromes”Pract Neurol 2015;15:90–99.
- Dimachkie et al. “Acquired Immune Demyelinating Neuropathies”. Continuum (Minneap Minn) 2014;20(5):1241–1260.
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