O sistema gastrointestinal é colonizado por uma grande quantidade de bactérias benéficas, que compõem uma microbiota intestinal e contribuem para o eixo intestino–cérebro. Alterações nessas microbiota vêm sendo alvo de estudos. Dentre eles destacam-se os probióticos, os prebióticos e os simbióticos. Os probióticos são microrganismos consumidos vivos, que quando consumidos em quantidades adequadas, são capazes de prevenir ou auxiliar no tratamento de determinadas condições de saúde. Acredita-se que atuem por resistência à colonização (inibição do crescimento de outros microrganismos patogênicos) ou através de fornecimento ou modulação de enzimas no trato gastrointestinal. Prebióticos, por sua vez, são ingredientes não digeríveis que estimulam de forma seletiva o crescimento ou a função da microbiota intestinal. Os simbióticos contêm ambos pré e probióticos.
Transtornos depressivos e ansiosos estão se mostrando comuns na população. Suas causas são frequentemente multifatoriais, sendo o comprometimento cognitivo uma delas. Alterações cognitivas secundárias ao aumento da idade decorrem de alterações no sistema nervoso central e podem se correlacionar com transtornos depressivos e ansiosos. Pesquisas recentes exploram a relação entre doenças neurodegenerativas e a microbiota, bem como entre microbiota e depressão e ansiedade. Há evidências de que alterações microbianas se associam a sintomas ansiosos e depressivos e de que respostas inflamatórias mediadas por componentes bacterianos podem contribuir para a fisiopatologia depressiva.
Veja também: Probióticos: o que o médico precisa saber?
Métodos
Com base nisso, este estudo realizou uma revisão sistemática da literatura com metanálise de ensaios clínicos randomizados buscando compreender se os componentes que influenciam na microbiota intestinal (probióticos, prebióticos e simbióticos) podem influenciar as funções cognitivas e os quadros ansiosos e/ou depressivos.
O estudo seguiu uma das principais diretrizes de produção deste tipo de artigo (PRISMA), tendo sua busca sendo conduzida em cinco bases de dados (Medline, Scopus, Web of Science, Cochrane Library e ClinicalTrials.gov). Foram pesquisados ensaios clínicos randomizados, cujos desfechos fossem verificados através de testes validados.
Apenas foram incluídos estudos em inglês e em periódicos que fizessem revisão por pares. A seleção foi feita por dois revisores independentes, com terceiro em caso de discordância. As análises foram conduzidas no R, com avaliação de heterogeneidade e viés de publicação por métodos apropriados.
Resultados
Nos resultados observou-se que o uso de bióticos (probióticos, prebióticos e simbióticos) mostrou redução de ansiedade e depressão e melhora da função cognitiva em comparação ao placebo, com significância estatística. O sexo biológico influenciou a composição da microbiota e a eficácia das intervenções, possivelmente por mediação hormonal.
Depressão: Foi observada melhora dos sintomas na depressão leve a moderada, assim como redução da vulnerabilidade cognitiva em um estudo com probióticos. Para os quadros depressivos, foram observados um maior número de estudos com probióticos. Já os trabalhos com prebióticos não mostraram melhora significativa em relação ao placebo, enquanto apenas um trabalho com simbiótico concluiu efeito positivo. Não há evidência suficiente para recomendar a substituição de antidepressivos por probióticos.
Ansiedade: observou-se um efeito positivo dos probióticos em relação à ansiedade. Este resultado contrasta com pesquisas anteriores, diferença atribuída, aqui, ao número maior de estudos incluídos e a definição mais ampla de ansiedade.
Funções cognitivas: os estudos apontaram um impacto positivo dos probióticos sobre a cognição em diferentes condições (HIV, TDM, cirrose, fibromialgia, SFC), com resultados particularmente consistentes na cirrose. Ainda assim, são necessárias mais pesquisas.
Os achados devem ser interpretados com cautela, pois algumas limitações foram descritas, como a inclusão apenas de casos leves e moderados, com exclusão de quadros graves; testes com populações específicas (ex: pacientes com síndrome do intestino irritável); pesquisas com amostras pequenas e realizadas apenas em um único local; variação nos tipos de suplementos utilizados e tempo de uso; ausência de controle suficiente de outras formas de tratamento (psicoterapias ou psicofármacos); heterogeneidade clínica e metodológica e variação na coleta dos resultados de melhora (alguns trabalhos usaram avaliações clínicas mais objetivas, enquanto outras usaram e auto relatos). Em vários estudos, não foi possível concluir se probióticos atuaram como intervenção primária ou adjuvante.
Conclusão e mensagem prática
Apesar disso, na conclusão, os probióticos parecem apresentar um papel na redução dos níveis dos sintomas de depressão, ansiedade e melhora das funções cognitivas. Ainda é necessário investigar se seu uso é mais apropriado em associação a antidepressivos ou como monoterapia, ressaltando que não há evidências que justifiquem a substituição de antidepressivos por probióticos neste momento.
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