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Neurologia21 dezembro 2018

Quais são as alterações imunológicas induzidas pelo AVC isquêmico?

O sistema imunológico tem papel importante nas consequências determinadas pelo AVC isquêmico. Descubra quais são no artigo a seguir.

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O sistema imunológico (SI) tem um papel importante nas consequências determinadas pelos Acidentes Vasculares Cerebrais Isquêmicos (AVCI). Em sua fase aguda, a participação do SI pode ser assim descrita: o AVCI desencadeia uma cascata inflamatória no vaso ocluído na parede vascular e no parênquima cerebral. Nesse último, a destruição de células neurais com a liberação de DAMPS (do inglês damage-associated molecular patterns) acarreta na ativação dos braços inato e adaptativo da imunidade. Em contrapartida o controle do SI pelo sistema nervoso central – mediado pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, nervo vago e sistema nervoso simpático – atua limitando a atividade inflamatória1.

No término de tais eventos, o padrão de resposta observado, se pró ou anti-inflamatória, produz desfechos distintos e cuja qualificação, se favorável ou desfavorável, é relativa. Pode ser citada como exemplo a Síndrome de Imunodepressão Induzida pelo AVC. Ao mesmo tempo em que pretende restringir a extensão da lesão cerebral, ela predispõe a um maior risco de infecção.

Pesquisas in vitro e in vivo, em humanos e modelos animais, voltam-se para a melhor caracterização de tais fenômenos com objetivo de apontar uma via alternativa para o manejo dos AVCI, suas complicações e sequelas.

Leia mais: AVCI: qual é a relação entre infecção e readmissão hospitalar?

Neste artigo abordaremos os resultados de alguns estudos publicados em 2018 que investigam e ilustram parte dos eventos fisiopatológicos observados no SI secundários ao AVCI. Realizados em humanos, tais trabalhos exploram o papel das alterações no perfil leucocitário como marcadores de severidade e prognóstico nesses pacientes.

  • Investigação das alterações no perfil leucocitário nas primeiras horas após o início dos sintomas em pacientes com AVCI mostrou significativas elevação da contagem de neutrófilos e queda na contagem de linfócitos3;
  • Pacientes com AVCI comparados aos controles saudáveis mostraram maiores valores para a relação neutrófilo/linfócito. Os pacientes com eventos mais graves apresentaram valores mais elevados para a mesma relação do que aqueles com lesões menos severas4;
  • AVCI mais severos estiveram associados à leucocitose, neutrofilia, monocitose, linfopenia e eosinofilia. O aumento nos níveis séricos de cortisol – mais do que o aumento nos níveis de metanefrinas – esteve associado à neutrofilia e a linfopenia. Nesse mesmo estudo foi também observada relação entre linfopenia e pior prognostico em três meses5;
  • Em pacientes submetidos à terapia endovascular, o uso de beta-bloqueadores não alterou o risco de infecções ou mortalidade. Entretanto, nesses mesmos pacientes, o acometimento da insula e do córtex anteromedial foi associado a um maior risco de pneumonia e sepse6;
  • Em pacientes com AVCI submetidos à trombólise venosa e que tiveram a contagem de leucócitos avaliada na chegada e 24h após, foi observado pior prognóstico nos grupos com presença de leucocitose 24h após a terapêutica7.
  • Com relação ao perfil leucocitário apresentado no sétimo dia após o AVCI, valores menores para a relação linfócito/monócito foram associados a um pior prognóstico medido em três meses8.

Na literatura há diversos estudos acerca do controle bem-sucedido dos processos inflamatórios relacionados ao AVCI em modelos animais, porém sem o mesmo resultado em humanos9. São muitas as hipóteses para tentar explicar tamanha dissonância10.

Porém o cenário, a primeira vista desanimador, também aponta para outras direções, entre elas: a complexidade do AVCI; a necessidade de maior entendimento das diferenças entre os processos observados modelos artificiais e as ocorrências reais nos seres humanos; a extrapolação da fisiopatologia do AVCI para além do sistema nervoso; e a oportunidade de integração entre diferentes áreas do conhecimento. Trata-se de vasto campo aberto a exploração. Mais estudos nessa área são muito bem vindos.

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Referências:

  1. CHAMORRO, A et al. The immunology of acute stroke. Nature Reviews Neurology, v. 8, n. 7, p. 401-410, 2012.
  2. PATROCLO, Cristiane Borges. PEBMED, 2018. Disponível em < https://pebmed.com.br/avci-qual-e-a-relacao-entre-infeccao-e-readmissao-hospitalar/> . Acessado em 15 de dezembro de 2018.
  3. GILL, D et al. Temporal Trends in the levels of peripherally circulating leukocyte subtypes in the hours after ischemic stroke. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, v. 27, n.1, p: 198-202, 2018.
  4. FARAH, R; SAMRA, N. Mean platelests volume and neutrophil to lymphocyte ratio as predictors os stroke. Journal of Clinical Laboratory Analysis, v.32, n.1, p. 1-4, 2018.
  5. ZIERATH, D et al. Cortisol is More Important than Metanephrines in Driving Changes in Leukocyte Counts after Stroke. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases. v. 27, n. 3, p.555-562, 2018.
  6. MAIER, IL et al. Influence of beta-blocker therapy on the risk of infections and death in patients at high risk for stroke induced immunodepression. PloS one, v. 13, n. 4, p. e0196174, 2018.
  7. CHEN, J et al. Correlation of changes in leukocytes levels 24 hours after intravenous thrombolysis with prognosis in patients with acute ischemic stroke. Journal of Stroke and Cerebrovascular Diseases, v. 27, n. 10, p. 2857-2862, 2018.
  8. PARK, M-G et al. Lymphocyte-to-monocyte ratio on day 7 is associated with outcomes in acute ischemic stroke. Neurological Sciences, v. 39, n. 2, p:243-249, 2018.
  9. Veltkamp, R; Gill, D. Clinical Trials of Immunomodulation in Ischemic Stroke. Neurotherapeutics, v.13, n. 4, p: 791–800, 2016.
  10. PATROCLO, Cristiane Borges. Neuroproteção em AVC: por que não funciona?. PEBMED, 2018. Disponível em: <https://pebmed.com.br/neuroprotecao-em-avc-por-que-nao-funciona/>. Acessado em 15 de dezembro de 2018.
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