A obesidade já foi associada a diversos riscos para a saúde, atingindo proporções epidêmicas. Além da longa lista de consequências conhecidas, uma nova análise sugere que estar acima do peso pode aumentar o declínio cognitivo em associação com alterações nos marcadores inflamatórios no sangue.
Pesquisadores testaram a hipótese de que a inflamação sistêmica pode mediar a associação entre massa corporal e função cognitiva. Para o estudo, foram examinados dados coletados em sete ondas, a cada 2 anos, entre 1998 e 2013.
Medidas cognitivas, que incluíram três tarefas para testar a memória e o funcionamento executivo, foram avaliadas a cada dois anos a partir da onda 1 até a 5. O índice de massa corporal (IMC) foi determinado e amostras de sangue foram coletadas a cada quatro anos a partir da onda 0 até a 6. Destes, os níveis de proteína C-reativa (PCR) foram calculados.
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Três pontos de tempo em cada subamostra foram estabelecidos para análise: T1, em que o IMC, os níveis de PCR e desempenho cognitivo foram medidos; T2, quando os níveis de PCR foram novamente medidos; e T3, quando as tarefas cognitivas foram re-administradas.
- Em relação à performance da memória:
A equipe descobriu que o IMC em T2 previu, significativamente, a mudança nos níveis de PCR em cada subamostra (P <0,001 para ambas as sub-amostras). Além disso, os níveis de PCR em T2 predisseram significativamente o desempenho da memória em T3 (P <0,001 para ambas as sub-amostras). Isso levou a um efeito indireto significativo no IMC em T1 sobre o desempenho da memória em T3 via níveis PCR em T2 (P = 0,001 para a subamostra 1 e P = 0,007 para a subamostra 2).
- Em relação à função executiva:
Um padrão semelhante foi observado. O IMC em T1 previu a mudança de PCR (P <0,001 para ambas as sub-amostras), e os níveis de PCR em T3 predisseram a função executiva em T3 (P = 0,003 para a subamostra 1 e P <0,001 para subamostra 2). Mais uma vez, este foi acompanhado por um efeito indireto do IMC em T1 sob a função executiva em T3, através de níveis de PCR em T2 (P = 0,006 na subamostra 1 e P = 0,003 na subamostra 2).
- Em relação à idade cronológica:
Pesquisadores calcularam que uma variação da massa corporal inicial de desvio padrão (DP) de 1 está associada com aproximadamente 2,22 meses de declínio cognitivo. Já uma variação de DP de 1 no PCR está associada com 1,85 anos de declínio.
Os resultados se mantiveram quando os pesquisadores levaram em conta conhecidos preditores de declínio cognitivo, como sintomas depressivos e uso de medicação para pressão alta nos últimos dois anos.
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Os resultados indicam que um aumento do IMC pode acelerar o declínio cognitivo em vários meses, através de aumentos nos níveis séricos de PCR. As descobertas podem ajudar a explicar as de estudos anteriores, que relacionam a obesidade com uma pior saúde do cérebro.
Outros estudos
Uma análise australiana de adultos na faixa dos 60 anos indicou que o excesso de peso está associado com um volume menor do hipocampo, e maior atrofia hipocampal após 8 anos.
Outro estudo recente sugere que o volume de substância branca no cérebro é menor em indivíduos obesos do que em pessoas magras.
Em uma análise feita a partir da avaliação da literatura científica publicada, a Agência Internacional de Investigação do Câncer (IARC) relacionou a obesidade a mais de 10 tipos de câncer.
Referências:
- https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0889159116304329
- Obesity May Increase Cognitive Decline via Inflammation. Medscape. Oct 24, 2016.
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