A hipertensão intracraniana idiopática (HII), também conhecida como pseudotumor cerebri, continua sendo um desafio clínico crescente — especialmente entre mulheres jovens com sobrepeso. O aumento da pressão intracraniana sem causa aparente pode levar a cefaleia intensa, papiledema e risco de perda visual permanente. Mas, afinal, qual medicamento é mais eficaz: acetazolamida ou topiramato?
Um estudo de meta-análise publicado recentemente na Medicina (2025) comparou diretamente as duas principais opções terapêuticas, analisando sete estudos e mais de mil pacientes com HII tratados em diferentes países.
Principais achados do estudo sobre hipertensão intracraniana idiopática
- Melhora clínica consistente em 6 meses:
O uso de acetazolamida ou topiramato resultou em uma redução de 67% na intensidade das cefaleias após seis meses de tratamento, com melhora significativa da qualidade de vida e da função visual.
- Benefício visual: Os pacientes tratados tiveram uma redução de 3,6 vezes na ocorrência de borramento visual (obscurecimento transitório), confirmando melhora da função do nervo óptico e do edema de papila.
- Mecanismos diferentes, resultados semelhantes:
- A acetazolamida reduz a produção de líquor (CSF) via inibição da anidrase carbônica, sendo o tratamento padrão.
- O topiramato, além de também reduzir a produção de líquor, atua como antiepiléptico e promove perda de peso, um fator-chave já que a obesidade é o principal risco modificável da HII.
- Efeitos adversos e limitações: Ambos os fármacos podem causar parestesia, fadiga e sintomas gastrointestinais. O topiramato, embora eficaz, tem custo mais elevado e pode causar efeitos oculares como miopia aguda e glaucoma de ângulo fechado, exigindo vigilância oftalmológica.

Por que este artigo é importante?
A revisão destaca que não há superioridade clara entre acetazolamida e topiramato em eficácia isolada — ambos reduzem a pressão intracraniana e melhoram parâmetros visuais.
Entretanto, a escolha deve ser individualizada:
- O topiramato pode ser preferido em pacientes com obesidade, pelo benefício metabólico.
- A acetazolamida continua sendo o tratamento de primeira linha, especialmente quando há necessidade de controle rápido da pressão do líquor.
Além disso, os autores reforçam que a abordagem ideal combina fármacos e mudanças de estilo de vida, com perda ponderal, restrição de sódio e atividade física supervisionada.
Conclusão
A hipertensão intracraniana idiopática é uma condição tratável quando diagnosticada precocemente e abordada de forma multidisciplinar.
Tanto o topiramato quanto a acetazolamida mostraram eficácia em reduzir cefaleia e preservar a visão, mas a escolha terapêutica deve considerar o perfil clínico, o peso e a tolerância individual.
A combinação dos dois medicamentos pode oferecer o melhor dos dois mundos — controle da pressão liquórica e redução de peso — desde que sob acompanhamento cuidadoso.
Autoria

Thiago Nascimento
Formado em Medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) em 2015. Residência Médica em Neurologia no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) Salvador - Bahia (2016-2019). Membro titular da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). Mestrando em Ciências da Saúde pela UFBA (PPGCs - UFBA). Preceptor da Residência de Neurologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Médico Neurologista - Membro do Ambulatório de Neuroimunologia do HU- UFS - (Ebserh - Aracaju- SE). Professor na Afya Educação Médica.
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