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Neurologia24 janeiro 2023

Estudo analisa riscos de danos cerebrais causados pela covid-19

Existem diversas hipóteses para explicar os danos neurológicos causados pela covid-19. Conheça um estudo publicado na Revista Nature.

Por Úrsula Neves

Pacientes que desenvolveram covid-19 correm mais risco de apresentar danos cerebrais até um ano após a infecção, segundo aponta uma pesquisa que analisou mais de 150 mil casos e foi conduzida pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos. O artigo com os resultados foi publicado na revista Nature Medicine.

Outros artigos já haviam relacionado o novo coronavírus com sintomas neurológicos tardios, No entanto, nesse estudo, o diferencial está no grande número de pacientes envolvidos, além do comparativo com a evolução de indivíduos não infectados durante um longo período de acompanhamento.

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No levantamento, os pesquisadores avaliaram uma grande variedade de distúrbios neurológicos, incluindo problemas de cognição e memória, acidente vascular cerebral (AVC), transtornos de movimento, como tremores e contrações involuntárias, perdas sensoriais, crises de enxaqueca, convulsões e até enfermidades como Alzheimer e Parkinson.

O risco de todos esses transtornos foi maior naqueles infectados pelo novo coronavírus, mesmo em pacientes jovens e casos leves da doença. Destaca-se que alguns quadros, como cognitivos e sensitivos, foram mais comuns nos adultos jovens. Já distúrbios mentais como ansiedade e depressão, além de alterações de movimento, ocorreram com maior frequência nos mais idosos.

mulher com covid-19 em 2022, usando máscara na janela

Sintomas da covid no cérebro

Existem diversas hipóteses para explicar os danos neurológicos causados pela covid-19. O vírus pode provocar uma cascata inflamatória capaz de afetar a comunicação entre os neurônios, as chamadas sinapses. Também pode haver influência dos fragmentos do RNA do vírus, o que estimula uma reação imunológica do organismo.

“Muitas vezes, a manifestação é muito sutil, mas tudo isso prejudica o funcionamento das células. Por isso, a região do cérebro que foi afetada passa a funcionar de forma incorreta”, esclareceu o neurologista Marco Aurélio Borges, do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.

Dependendo da área acometida, há chance de surgir sintomas relacionados a fadiga crônica, perda de sensibilidade, olfato, memória, linguagem e tantos outros. Além disso, se a pessoa tem predisposição a alguma enfermidade, como Parkinson ou Alzheimer, o contato com o novo coronavírus pode acelerar o processo.

“Uma das queixas mais comuns é o brain fog (em português, névoa cerebral), quadro que leva a um cansaço mental prolongado em pacientes após a infecção por covid-19 e alterações cognitivas causadas por uma inflamação no líquido em torno do cérebro. Os sintomas desta condição podem aparecer até seis meses depois da infecção pelo novo coronavírus e são intrigantes e desafiadores. Também temos observado pacientes com lapsos de memória, distúrbios de sono, casos de depressão e ansiedade, alteração no padrão da conectividade funcional do cérebro, maior propensão a quadros de AVC, cefaleia, entre outras enfermidades”, disse o neurocirurgião funcional do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Marcelo Valadares, que também é médico-chefe da área de Neurocirurgia Funcional da disciplina de Neurocirurgia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.

Vale ressaltar que a névoa cerebral pode se manifestar ainda a partir de outras infecções, como – por exemplo – a herpes, como bem pontuou o  médico sanitarista e gestor em saúde, Álvaro Madeira Neto, especialista em Medicina Preventiva e Social, além de neurointensivista pelo Hospital Sírio-Libanês, também em entrevista ao portal.

Não é novidade que no início da pandemia, os médicos foram pegos de surpresa por conhecermos pouco a nocividade do novo coronavírus. Embora observarem sintomas neurológicos em pacientes contaminados por tempo prolongado, não tinham certeza sobre a dinâmica do vírus no cérebro.

“Por isso, estudos como esse são essenciais não só para entendermos como o vírus afeta o cérebro, mas para melhor atuarmos na prevenção de sequelas e encontrarmos formas eficazes e seguras para tratar esses pacientes. Uma das principais vantagens deste trabalho é comparar um grande número de pacientes para considerar as informações mais confiáveis”, complementou Marcelo Valadares.

Segundo o neurocirurgião funcional do Hospital Israelita Albert Einstein, até 50% dos pacientes diagnosticados com Sars-CoV-2 desenvolvem problemas neurológicos. Entre eles, brain fog, encefalite, anosmia, parestesia, acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE), síndrome de Guillain-Barré e outras diversas doenças psiquiátricas, como a depressão, o transtorno pós-traumático, entre outras condições mentais. 

Limitações do estudo

É importante destacar que o estudo aponta a incidência das doenças neurológicas em pacientes infectados, mas ainda não explica todos os mecanismos que levam a alterações no córtex cerebral e no padrão de conectividade funcional do cérebro, entre outros efeitos.

“Talvez essa seja uma limitação, mas existem inúmeras pesquisas sendo realizadas no mundo, inclusive, no Brasil. Temos ainda um longo caminho para descobertas, mas nunca a ciência avançou de forma tão acelerada como na pandemia”, salientou Marcelo Valadares.

Orientações aos médicos

As pessoas precisam ser orientadas a procurar ajuda médica, caso qualquer sintoma dure mais do que 10 dias, como dores, cansaço excessivo ou comprometimento muscular.

O diagnóstico deve começar com uma avaliação médica minuciosa, um exame neurológico completo, e dependendo das queixas e quadro do paciente, os médicos podem recorrer a exames clínicos e de imagem (ressonância ou tomografia) para auxiliar a identificar quais os danos provocados pelo vírus da covid-19.

“Sempre deve se iniciar uma avaliação médica por um exame físico minucioso, seguido da solicitação de exames complementares com a devida indicação. Ou seja, o médico deve coletar a história do seu paciente, examiná-lo e somente depois pedir exame de imagem ou laboratorial para elucidação diagnóstica”, concluiu Álvaro Madeira Neto. 

*Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED. 

 

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Referências bibliográficas

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