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Neurologia15 julho 2022

Eptinezumab: nova droga para refratariedade no tratamento de migrânea?

Um ensaio clínico sobre o uso de eptinezumab no tratamento da migrânea foi publicado na Lancet Neurology. Conheça os métodos e os resultados.

Por Danielle Calil

A Lancet Neurology publicou em sua última edição o ensaio clínico Deliver, um estudo de fase 3B sobre eficácia e segurança da droga eptinezumab para refratariedade no tratamento profilático de migrânea.  

A migrânea é uma condição comum com potencial de incapacidade sobre a vida de um indivíduo podendo apresentar impactos na sociedade. O tratamento profilático de migrânea é recomendado para pacientes com crises migranosas de incapacidade funcional significativa, pacientes que tiveram pelo menos quatro episódios migranosos ao mês, assim como pacientes com falha em tratamento abortivo ou sob risco de abuso de analgésicos.

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O eptinezumab é um anticorpo monoclonal com alvo no peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), com administração intravenosa, e duração média de infusão em torno de 30 minutos, intervalo trimensal. Embora já tenha sido publicado outros ensaios de fase 3 com eptinezumab como tratamento preventivo de migrânea, o benefício dessa droga em pacientes com documentação prévia de falha para drogas profiláticas para migrânea não haviam sido estudados até então. 

Técnica de mindfulness contra migrânea

Como foi o estudo?

O Deliver trial foi um ensaio clínico de fase 3B, multicêntrico, duplo-cego, randomizado. Adultos entre 18 e 75 anos com início de migrânea antes dos 50 anos, com boa adesão ao preenchimento de diário de cefaleias, preenchendo critérios para migrânea crônica ou indicação de tratamento preventivo de migrânea episódica. Os pacientes elegíveis deveriam apresentar documentação evidenciando uso prévio e falha de duas a quatro drogas profiláticas para migrânea nos últimos 10 anos. 

Foram usados como critérios de exclusão o uso prévio de algum anticorpo monoclonal contra CGRP, histórico de distúrbio temporomandibular, diagnóstico concomitante de outras cefaleias, condição psiquiátrica descompensada ou não tratada e uso de medicamento preventivo para migrânea dentro de 1 semana antes da visita de rastreio para o estudo. A randomização foi realizada de forma 1:1:1 considerando três grupos: (1) eptinezumab na dose de 100mg, (2) eptinezumab na dose de 300mg ou placebo. A randomização foi realizada conforme estratificação de dias de cefaleia abaixou ou acima de 14 dias. 

 Métodos

Administração da droga no dia 0 e na 12º semana. Pacientes foram agendados para oito visitas médicas: 4 avaliações presenciais (screening, dia 0, final da 12ª semana e 24º semana) e 4 visitas por contato telefônico (final da 4ª, 8ª, 16ª e 20ª semana). Escalas como o Head Impact Test 6 (HIT-6) foram aplicados. 

Os desfechos considerados foram categorizados em primários e secundários. Os desfechos primários foram a mudança nos dias de migrânea por mês após três meses da primeira infusão; e os secundários foram a redução de pelo menos 50% da frequência de migrânea após três meses da primeira infusão, a redução de, pelo menos, 75% da frequência de migrânea após três meses da primeira infusão e a mudança no número de dias de migrânea por mês após a segunda infusão (ocorrida entre a 13º e 24º semana).

Resultados e comentários sobre eficácia e segurança da droga 

Foram rastreados 1.369 pacientes, sendo 892 randomizados em três grupos, sendo 299 para eptinezumab 100 mg, 294 para eptinezumab 300 mg e 299 placebo. Os dados demográficos e características clínicas foram similares entre os três grupos. O padrão de falha em tratamentos profiláticos prévios também foi similar entre os grupos. No dia zero do estudo, a média dos escores HIT-6 também foi similar entre os grupos. 

Ao final da 12ª semana, todos os grupos apresentaram curva de melhoria no padrão de dor, apesar de que os grupos com eptinezumab obtiveram um melhor desempenho no controle de dor comparados ao placebo – essa comparação demonstrou diferença significativa estatisticamente para os desfechos primários e secundários. O grupo com eptinezumab 100 mg apresentou uma redução de 4,8 dias de cefaleia a menos do que frequência basal (p < 0,0001); o grupo com eptinezumab 300 mg (p < 0,0001), redução de 5,3 dias de cefaleia; por fim, o grupo placebo com redução de 2,1 dias de cefaleia. 

Um dado interessante é que após o primeiro dia da administração intravenosa do tratamento, 44% dos participantes do grupo placebo reportaram episódio migranoso comparado a 27% dos participantes do grupo eptinezumab 100 mg e a 24% do grupo eptinezumab 300 mg. 

366 participantes (41%) apresentaram pelo menos um evento adverso, sendo a incidência similar entre os grupos. O evento adverso mais comum foi covid-19, cuja incidência foi aproximadamente 6% em cada grupo de tratamento. Eventos adversos graves foram raros (destacando-se reação anafilática), sendo presentes em menos de 2% de cada grupo.

Mensagens finais 

O estudo Deliver demonstrou que o eptinezumab pode ser um fármaco que atende pacientes com refratariedade no tratamento de migrânea. Já foi sugerido pela European Headache Federation implementar os anticorpos monoclonais CGRP como opção de primeira linha no tratamento de migrânea em vista do mecanismo de ação específico, do bom perfil de tolerabilidade e de evidência de qualidade nos estudos; entretanto, em muitos países – como o Brasil – esses medicamentos não são considerados como primeira linha devido ao alto custo. 

 

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Referências bibliográficas

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