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Neurologia26 julho 2019

Como prevenir o Alzheimer com fatores relacionados ao estilo de vida?

Visto que terapias para reversão do Alzheimer ainda não possuem tanta eficácia, tem crescido o interesse em fatores relacionados ao estilo de vida.

Por Henrique Cal

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

Uma das grandes metas da medicina para as próximas décadas é prevenir a alteração cognitiva relacionada ao Alzheimer, visto que as terapias para reversão dos sintomas demenciais ainda não possuem tanta eficácia. Por isso, tem crescido o interesse no potencial que os fatores relacionados ao estilo de vida possam ter positivamente no envelhecimento do cérebro.

Neste sentido, dois estudos recentes vem acrescentar demonstração objetiva a algumas recomendações antigas, trazendo mais respaldo para orientar um reforço na chamada “reserva cognitiva”. Este conceito se refere ao conjunto de atividades intelectuais acumuladas ao longo da vida – tanto as relacionadas ao tempo de educação formal (escola, universidade etc) quanto a outras atividades informais (leituras, artes etc) – as quais entregam ao próprio indivíduo uma “herança” benéfica para sua performance efetiva no funcionamento mental.

Atividades intelectuais e sociais como estratégia

O primeiro estudo, da JAMA Neurology, mostrou que estimular as atividades mentais e sociais ao longo da vida está associado a um menor risco de desenvolver demência. Acompanhando cerca de 1600 idosos com média de idade de 80 anos, verificou-se que aqueles com mais altos escores de reserva cognitiva tiveram um risco 39% menor para desenvolver o diagnóstico de demência.

Os autores avaliaram idosos não demenciados e construíram um escore considerando frequência de atividades cognitivas e sociais (por exemplo, leitura, voluntariado, alimentação em restaurantes, viagens , visitando amigos e familiares), juntamente com os anos de educação. Ao fim de 6 anos de observação, 24% dos participantes desenvolveram demência, mas os que mais pontuavam em uma escala de reserva cognitiva tiveram melhor desempenho mental efetivamente (39%), inclusive se possuíssem doença Alzheimer avançada e patologias vasculares.

Sendo assim, os autores concluíram que as atividades educativas e mentalmente estimulantes têm efeito cumulativo ao longo da vida como uma estratégia viável para prevenir a demência.

Leia mais:  Quais são as novidades no tratamento da doença de Alzheimer?

Mayo Clinic: Artesanato e jogos

Ainda, é interessante examinar estratégias de prevenção não só das demências propriamente ditas, mas também do Comprometimento Cognitivo Leve (CCL / “ mild cognitive impairment ”). Esta condição pode preceder alguns quadros demenciais.

Assim, um outro estudo de autores da Mayo Clinic avaliou uma grande base populacional e mostrou que esta redução de risco de desenvolver CCL foi observada nos pacientes que:

  • Usavam computadores na meia-idade (50-65 anos):  risco 48% menor;
  • Envolveram-se em atividades sociais (tanto na meia-idade quanto na velhice): 20% menor;
  • Engajaram-se em artesanato e trabalhos manuais: risco 42% menor, mas demonstrado apenas quando esse engajamento ocorreu em idade mais avançada.

Alzheimer

Neste estudo, foram examinados 2000 indivíduos com mais de 70 anos de idade e sem alterações cognitivas. Eles eram perguntados sobre como tinha sido seu grau de envolvimento no passado em cinco atividades mentalmente estimulantes: livros, computador, atividades sociais (ir ao cinema, sair com amigos), jogos (cartas, palavras cruzadas) e artesanato (como cerâmica ou costura).

Testes neuropsicológicos metrificaram uma variedade de domínios cognitivos, incluindo memória, linguagem, habilidades visoespaciais e atenção/função executiva. Ao fim de 5 anos de seguimento, os benefícios foram verificados. No entanto, os autores focaram apenas em atividades realizadas no fim da vida e ainda não está claro se o risco de CCL pode ser prevenido desde mais cedo, na meia-idade.

A novidade desses estudos

Estudos anteriores (Yates, 2016)  já demonstravam uma associação qualitativa – “fazer tais atividades protegiam contra CCL” – , mas agora este novo trabalho trouxe o aspecto quantitativo. Isso acontece pois demonstrou-se que tanto a frequência quanto o número de atividades também são relevantes. O envolvimento em quaisquer duas das atividades acima citadas reduziu o risco em 28%; em três atividades, reduziram em 45%; e envolver-se em quatro reduziram o risco em 56%.

Considerando que as pessoas ficam mais isoladas à medida que envelhecem, o que pode diminuir sua estimulação, estes achados oferecem orientação aos neurologistas em relação ao tipo e ao momento das atividades para ajudar pacientes idosos.  Ou seja, às vezes estes pacientes assumem que deveriam ter feito essas atividades mais cedo, ao longo de toda a sua vida. Mas estes dados mostram que pode haver benefício em fazê-las mesmo depois dos 70 anos; e que estes estímulos podem ser tão simples quanto atividades sociais, jogos, artesanato ou simplesmente ler livros. Nunca é tarde demais para começar a se manter ativo!

 

Referências:

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