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Neurologia31 janeiro 2022

Cirurgia de catarata pode estar associada a um risco menor de demência

Um estudo publicado indica que a cirurgia de catarata diminui em 30% o risco de demência na população idosa.

Por Úrsula Neves

Um estudo publicado em dezembro do ano passado na revista científica JAMA Internal Medicine indica que a cirurgia de catarata diminui em 30% o risco de demência na população idosa.

O Adult Changes in Thought (ACT) é um estudo observacional de longa data baseado em dados divulgados pelo serviço de saúde privado da Kaiser Permanente Washington, nos Estados Unidos, com mais de 5 mil participantes a partir de 65 anos.

cirurgia de catarata pode diminuir risco de demência

Cirurgia de catarata e demência

Com base nos dados longitudinais de mais de 3 mil participantes do estudo ACT, os pesquisadores descobriram que os indivíduos que se submeteram à cirurgia de catarata tiveram um risco quase 30% menor de desenvolver demência por qualquer causa em comparação com aqueles que não o fizeram.

Este risco reduzido persiste por, no mínimo, dez anos após a cirurgia de catarata, que também foi associada a um menor risco de Alzheimer especificamente.

A pesquisadora-chefe, a médica Cecília Lee, professora associada em oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, disse que o estudo observacional se ajustou a uma série de possíveis fatores de confusão, mas ainda assim produziu uma forte associação.

“Esse tipo de evidência é tão bom quanto em epidemiologia. Isso é realmente emocionante porque nenhuma outra intervenção médica mostrou uma associação tão forte com a redução do risco de demência em indivíduos mais velhos”, disse Cecília Lee.

Não foi determinado o mecanismo pelo qual a cirurgia atua para reduzir a ameaça de demência, embora os pesquisadores tenham formulado a hipótese de que a melhoria da qualidade sensorial das pessoas operadas contribua para o prognóstico favorável.

“Este estudo realizado por um longo e com um número expressivo de pacientes acompanhados descobriu que a cirurgia de catarata foi significativamente associada com 30% menor risco de desenvolvimento de demência. Se validada em estudos futuros, a cirurgia de catarata pode ter relevância clínica em idosos com risco de desenvolver demência”, destacou o oftalmologista e especialista em retina Rodrigo Schwartz Pegado, membro titular da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO).

Leia também: Terapia de reposição hormonal diminui o risco de demência?

Benefícios da luz azul violeta

Para Cecília Lee, outra possibilidade é o fato de os indivíduos receberem mais luz azul: “há células na retina, relacionadas à cognição e que regulam os ciclos de sono, que respondem bem à luz azul. A catarata bloqueia a luz azul e a cirurgia pode reativar essas células”.

“Existe uma série de estudos que mostra a correlação da luz azul violeta agindo na retina e regulando o ciclo circadiano. A catarata pode estar impedindo a ação da luz chegar na retina, em sua totalidade, levando a alteração no ciclo do sono e qualidade de vida”, ressaltou o oftalmologista Rodrigo Pegado.

A luz azul é a parte visível da luz responsável pela claridade vinda dos raios solares ou dos aparelhos digitais. Assim como acontece com os raios UV, a exposição excessiva à luz azul é nociva aos olhos, principalmente quando se trata da luz azul ultravioleta.

Porém, apesar de a luz azul ultravioleta danificar potencialmente os olhos, grande parte dela é absolvida pela parte frontal do olho. De forma diferente, a luz azul violeta também pode danificar os olhos e, mesmo que ela tenha menos energia do que a ultravioleta, a luz azul violeta quase não é filtrada pelo olho e pode atingir a retina.

Contudo, a luz azul violeta possui benefícios, como ajudar na memória, na função cognitiva, melhorar o humor, aumentar o nosso estado de alerta, além de regular os ritmos biológicos.

Mais pesquisas

Os resultados do estudo destacam um forte argumento para mais pesquisas sobre a conexão olho-cérebro na demência. Estudos anteriores do grupo de Lee mostraram uma forte ligação entre outras enfermidades da retina, como a degeneração macular relacionada à idade, e o desenvolvimento do Alzheimer e outras demências. Pessoas com degeneração macular ou outras doenças degenerativas da retina são mais propensas a desenvolver algum tipo de demência.

Compreender ainda mais a conexão entre o envelhecimento do olho e do cérebro pode abrir caminhos para terapias potenciais a fim de retardar ou prevenir demências relacionadas à idade.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referências bibliográficas:

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