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Neurologia23 maio 2023

Associações entre infecções e doenças neurodegenerativas

Uma pesquisa publicada na revista Neuron buscou identificar 45 infecções que foram associadas a risco de doença neurodegenerativa.

Pacientes com histórico de infecções virais graves apresentam algum risco de desenvolver uma doença neurológica? Essa questão, que pode gerar dúvidas ao especialista no momento de determinar sua conduta, foi tema de uma pesquisa publicada na revista Neuron no último mês.  

Saiba mais: Glaucoma e Alzheimer: qual é a relação entre essas doenças?

Associações entre infecções e doenças neurodegenerativas

Associações entre infecções e doenças neurodegenerativas

Métodos 

Os pesquisadores utilizaram dados do FinnGen, um registro nacional de saúde que coletou dados de genoma e saúde de meio milhão de pessoas na Finlândia. O banco de dados, gerenciado por cientistas da Universidade de Helsinque, reúne dados de pacientes de universidades finlandesas, hospitais, bancos de sangue, biobancos, Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar e empresas farmacêuticas internacionais. Os pesquisadores identificaram pacientes com um código de diagnóstico do CID para demência e outras doenças neurodegenerativas e, em seguida, procuraram ver quem tinha um histórico de infecção viral que levou à hospitalização ou outra intervenção médica. 

O grupo de controle consistia em pessoas da mesma idade, com idade basal de 60 anos sem condição neurodegenerativa. 

Resultados 

A análise estatística identificou 45 exposições virais diferentes que foram significativamente associadas a um risco aumentado de doença neurodegenerativa. Para alguns pares, esse risco maior persistiu por até 15 anos após a exposição viral. 

Em seguida, eles se voltaram para outro grande conjunto de dados – o UK Biobank – para ver se as mesmas exposições virais estavam associadas a um código CID para uma doença neurodegenerativa. Esse banco de dados também contém informações médicas de 500.000 voluntários. 

O maior risco estava entre aqueles com histórico de encefalite viral. Dados do Biobank do Reino Unido sugeriram que aqueles expostos ao vírus tinham 22 vezes mais chances de ter um código CID de doença de Alzheimer (DA) em seus prontuários após a infecção; nos dados da FinnGen, o risco era 30 vezes maior. 

A pneumonia também foi significativamente associada a cinco das seis condições neurodegenerativas – DA, outras demências, esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença de Parkinson e esclerose múltipla (EM), apesar desta última ser inflamatória e desmielinizante, os autores a incluiram nas suas análises e confirmaram a associação dela com o vírus Epstein Barr. 

Dos 406 casos de encefalite viral no conjunto de dados FinnGen, 24 (5,9%) desenvolveram posteriormente um diagnóstico clínico de DA. Influenza e pneumonia colocam as pessoas em risco para cinco das condições analisadas: DA, ELA, demência vascular, outras demências e doença de Parkinson; esta descoberta foi replicada no biobanco do Reino Unido. 

O vírus varicela-zoster foi significativo e replicado na EM e na demência vascular. Como seria de esperar, nenhum dos vírus mostrou efeito protetor e reduziu o risco de demência. 

A maioria das associações inclui vírus comumente considerados neurotróficos (81%), o que significa que eles podem invadir o sistema nervoso central através de nervos periféricos ou pela barreira hematoencefálica.  

Considerações 

Quanto à etiologia, essas doenças são multifatoriais. Os autores identificaram muitos fatores de risco para o desenvolvimento de demência, incluindo sedentarismo, consumo excessivo de álcool, obesidade, tabagismo, hipertensão, diabetes, depressão, traumatismo cranioencefálico, perda auditiva, poucos anos de escolaridade, isolamento social, entre outros. Isso é importante, porque as infecções demonstraram ser um risco associado e, se os resultados forem confirmados em outros grandes estudos independentes, a vacinação ou o tratamento antiviral podem reduzir o risco. 

Conclusões 

Este estudo não apresentou como objetivo identificar como essas infecções poderiam contribuir para distúrbios neurológicos. Além da capacidade desses muitos vírus (neurotróficos) de entrar no sistema nervoso central e causar inflamação, acrescentando-se à inflamação pré-existente que é uma característica fundamental de muitas dessas doenças, acelerando assim a sua progressão, outro mecanismo não discutido é que muitos vírus estão surgindo como amiloidogênicos. 

Leia também: Vacinação contra VSR durante a gestação e infecções respiratórias em lactentes

Mensagem prática 

Provavelmente nenhuma dessas infecções causa doenças neurológicas, mas qualquer infecção pode desmascarar uma doença neurodegenerativa subjacente ou acelerar seu curso. Essa também é uma grande preocupação com a pandemia de SARS-CoV-2. Com quase 700 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo, existe o risco de ver uma população crescente de doenças neurodegenerativas? Grandes esforços são necessários para desenvolver vacinas e compostos antivirais seguros e eficazes, uma vez que as consequências a longo prazo podem ser ruins. 

 

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Referências bibliográficas

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