Carolina, 26 anos, mãe de três filhos, chegou ao consultório nefrológico encaminhada da UBS por edema generalizado e proteinúria. Relatava estar bem até cerca de três meses antes, quando notou inchaço nas pernas, que progrediu para todo o corpo, levando a um aumento de aproximadamente 30 kg em 40 dias. Na UBS, exames iniciais revelaram significativa perda de proteína pela urina, mas ela não trouxe os resultados ao primeiro atendimento com o especialista.
Carolina tinha um histórico de vida sexual ativa, sem parceiro fixo e sua última gestação havia ocorrido oito meses antes. O exame físico revelou edema acentuado, presente até a raiz das coxas, parede abdominal edemaciada e fígado palpável a 3 cm da borda costal. A ausculta pulmonar revelou estertores crepitantsífilies em bases, mas os sinais vitais estavam estáveis, sem febre, cianose ou icterícia.
Com a hipótese de síndrome nefrótica, foram solicitados exames complementares, incluindo avaliação renal, sorologias e urina de 24 horas. No retorno, os resultados mostraram função renal preservada, proteinúria significativa de 8 g em 24 horas e sorologia positiva para sífilis, confirmada por teste treponêmico. Carolina ainda não havia realizado ultrassonografia renal, mas, considerando o contexto clínico e o potencial diagnóstico de sífilis terciária, foi iniciado o tratamento com penicilina.
Na consulta seguinte, após completar o tratamento – que também incluiu seu parceiro – Carolina apresentou remissão completa dos sintomas. O edema desapareceu, e novos exames confirmaram a ausência de proteinúria. Com a resolução clínica, não houve necessidade de prosseguir com a biópsia renal previamente planejada.
Qual o diagnóstico provável?
Discussão do caso
A sífilis terciária, embora seja mais conhecida por suas manifestações neurológicas e cardiovasculares, também pode afetar os rins, levando a condições como a síndrome nefrótica. A literatura médica documenta casos em que a sífilis está associada à nefropatia membranosa, que pode se manifestar como síndrome nefrótica. A sífilis pode imitar muitas doenças por apresentar uma ampla gama de sintomas que podem mimetizá-las, incluindo condições renais.
Leia mais: Sífilis: O tratamento que a diretriz recomenda (Conduta médica em Infectologia)
A nefropatia membranosa associada à sífilis é caracterizada por depósitos subepiteliais de complexos imunes nos glomérulos, frequentemente exibindo um padrão de “full-house” na imunofluorescência, com a presença de IgG, IgA, IgM, C1q, C3c e C4d. O tratamento da infecção sifilítica com a penicilina geralmente resulta na resolução da síndrome nefrótica, como foi o caso da nossa paciente acima.
Concluindo, embora a sífilis terciária não seja a forma mais comum de sífilis a causar síndrome nefrótica, a infecção sifilítica pode, de fato, levar a essa condição através de mecanismos imunomediados, como a nefropatia membranosa.
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