Para nefrologistas atualizados, o início da terapia renal substitutiva (TRS) representa um momento crucial de diálogo com o paciente renal crônico. Apesar de o transplante renal ser amplamente desejado, nem sempre é a primeira opção viável. Ele exige um doador saudável e compatível ou um doador falecido, cuja disponibilidade pode ser limitada.
Assim, para a maioria dos pacientes, as opções factíveis recaem entre a diálise peritoneal (DP) e a hemodiálise (HD). Cada modalidade apresenta vantagens e desvantagens, e a escolha deve ser baseada nas características clínicas e nas preferências individuais do paciente.
Evidências Comparativas: DP versus HD
Estudos recentes fornecem insights valiosos sobre os resultados de ambas as modalidades:
- Um estudo comparativo publicado no Journal of the American Society of Nephrology (JASN) revelou que a DP está associada a um risco de mortalidade 8% menor em pacientes com doença renal crônica terminal (DRCT). Esse benefício foi especialmente observado em pacientes com menos de 65 anos, sem doença cardiovascular e sem diabetes.
- Uma revisão sistemática e meta-análise publicada no Seminars in Dialysis destacou que, em casos de início urgente de TRS, a DP reduziu significativamente o risco de mortalidade por todas as causas em comparação à HD (RR: 0,61). Além disso, apresentou menor incidência de complicações mecânicas.
- Um estudo de coorte coreano mostrou que, nos primeiros 24 meses de terapia, a DP conferiu um risco 51% menor de morte em comparação à HD. Contudo, essa vantagem inicial tende a diminuir com o tempo.
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Benefícios Logísticos e de Qualidade de Vida
A DP oferece benefícios que vão além da sobrevivência, como:
- Maior flexibilidade na rotina do paciente;
- Melhor preservação da função renal residual;
- Menores restrições alimentares.
No entanto, a DP não está isenta de riscos. A incidência de peritonite é maior, mas pode ser minimizada com treinamento adequado para pacientes e cuidadores. Por outro lado, a HD também apresenta riscos, como infecções relacionadas ao cateter em pacientes não elegíveis para a confecção de fístulas arteriovenosas.
Realidade no Brasil
Em nosso contexto, é essencial considerar fatores sociais e estruturais. Muitos pacientes enfrentam dificuldades para realizar os cuidados necessários da DP ou não têm apoio familiar adequado. Em outros casos, a falta de saneamento básico ou o tamanho limitado das residências inviabilizam essa modalidade. Nesse cenário, a assistência social e a enfermagem têm papel fundamental na avaliação e, quando necessário, na indicação de troca de modalidade.
Conclusão
A diálise peritoneal pode oferecer vantagens significativas em termos de sobrevivência e qualidade de vida, especialmente nos primeiros anos de terapia e em pacientes mais jovens e saudáveis. No entanto, a decisão entre DP e HD deve ser individualizada, levando em conta fatores clínicos, sociais e as preferências de estilo de vida do paciente.
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