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Nefrologia11 setembro 2025

CPN 2025: Doença renal crônica e alterações climáticas - chave para inflamação?

Durante o 23º Congresso Paulista de Nefrologia (CPN), O Dr Peter Stenvinkel falou sobre a doença renal crônica (DRC) como um estado de inflamação crônica de baixo grau.
Por Ester Ribeiro

Na plenária “Kidney disease and the climate emergency: the science behind the real and iminente threat”, Dr Peter Stenvinkel falou sobre a doença renal crônica (DRC) como um estado de inflamação crônica de baixo grau. A uremia presente no paciente renal crônico somado aos mecanismos biológicos do envelhecimento precoce causados por essa inflamação explicam por que pacientes com DRC têm alta carga de comorbidade (cardiovascular, caquexia, fragilidade) e porque a DRC parece “envelhecer” o organismo mais rapidamente.  

Epigenética e “relógios biológicos”: medindo idade biológica em doença renal 

Dr Stenvinkel tem trabalhado com relógios epigenéticos (DNA methylation clocks) para quantificar o “envelhecimento biológico” em pacientes renais. Estudos que ele liderou/participou mostram aceleração epigenética de envelhedimento na DRC; curiosamente, o transplante renal parece atrasar essa aceleração, enquanto a diálise não a reverte de forma significativa — essa observação está sendo estudada para repensar objetivos terapêuticos além da depuração solutos. 

Exposoma, saúde planetária e fatores ambientais  

Stenvinkel também defende uma visão ampla: o rim é especialmente vulnerável às mudanças ambientais (calor, poluição, microplásticos, água suja, alimentos ultraprocessados). Ele integra conceitos de exposoma — como exposições ambientais e nutricionais ao longo da vida — argumentando que as alterações planetárias (clima, urbanização, perda de biodiversidade) contribuem para o aumento da carga global de DRC. Isso abre caminhos para prevenção que extrapolam o consultório (políticas de saúde pública, alimentação, água limpa).  

Mecanismos moleculares-alvo: estresse oxidativo, mitocôndria e via NRF2/KEAP1 

Na ponte entre patologia e terapia, o grupo do Dr Stenvinkel investiga como o estresse oxidativo, disfunção mitocondrial e sinalização NRF2/KEAP1 é central na fisiopatologia da inflamação urêmica e do envelhecimento renal. Eles revisam e testam como moduladores da via NRF2 (ex.: alguns fármacos e nutracêuticos) podem reduzir dano oxidativo e inflamação — potencial caminho terapêutico para “desentoxicar” o fenótipo de envelhecimento em DRC. 

Abordagem translacional: biomimética e “aprender com a natureza” 

Outra vertente que Stenvinkel promove é a biomimética — estudar espécies/estratégias biológicas que toleram estresse extremo (animais que resistem à hipoxia, desidratação etc.) para inspirar terapias humanas. Isso alia a biologia comparativa com descoberta de alvos e intervenções (ex.: mecanismos de resiliência mitocondrial, compostos que ativam vias protetoras). A proposta é translacional: da biologia comparativa para intervenções que atenuem envelhecimento e lesão renal. 

 O que isso significa para a nossa prática clínica? 

– Precisamos reavaliar metas além da do Kt/V: quando lidar com DRC avançada, pense também em biomarcadores de envelhecimento/inflamação e em estratégias para reduzir inflamação sistêmica, não apenas em Kt/V.  

Prevenção populacional importa: políticas que reduzam exposição a calor extremo, poluentes e alimentos ultraprocessados podem reduzir incidência de DRC a médio/longo prazo. 

– Terapias ainda estão em investigação: moduladores de NRF2 e intervenções mitocondriais estão entre os alvos mais promissores — aguardamos mais ensaios clínicos e segurança antes de aplicação rotineira desses moduladores. Os “relógios epigenéticos” podem ser úteis como pesquisa, mas ainda não são ferramentas de rotina clínica amplamente validadas para guiar decisões individuais.  

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