Estar em um congresso é mais que atualização científica. É refresh, é animação, é networking. O 23º Congresso Paulista de Nefrologia (CPN), aberto nesta semana, mostrou isso já em sua cerimônia inaugural: ciência, história e emoção caminharam lado a lado.
A abertura começou com uma retrospectiva da nefrologia no estado de São Paulo desde os anos 1940, lembrando os primeiros testes experimentais em coelhos e a evolução que levou aos tratamentos atuais. O discurso foi marcado por emoção e um saudosismo saudável, destacando as contribuições dos pioneiros que pavimentaram o caminho até hoje.
Importância do avanço científico no estudo do impacto das mudanças climáticas na saúde dos rins
Dra Maria Eugênia abriu os trabalhos agradecendo à comissão científica e apresentou o tema central deste ano: As mudanças climáticas e seus impactos na saúde dos rins. Ela destacou que o congresso será encerrado por um climatologista, convidando à reflexão sobre o papel do nefrologista diante desse cenário.
Dr José Moura Neto, presidente da SBN, ressaltou a força do congresso paulista como inspiração para outras regionais, lembrando que o CPN é hoje o maior congresso de nefrologia da América Latina. Também anunciou a realização de grandes congressos regionais em 2025.
Dra Maria Almerinda, representando a Sociedade Paulista de Nefrologia, destacou que o evento é um espaço de atualização científica, discussão sobre mercado de trabalho e fortalecimento de parcerias. Encerrou desejando que “novas paixões pela especialidade possam surgir desse evento”.
O enfermeiro Ricardo, representando a SOBEN (Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia), celebrou a união entre os eventos médicos e de enfermagem. Ressaltou o crescimento da especialização em enfermagem nefrológica e agradeceu aos participantes, sublinhando o propósito maior de construir algo firme e sólido em conhecimento e networking.
Homenagem e memória
A noite também foi marcada pela homenagem ao professor Horácio José Ramalho, presidente de honra do congresso. Professor de nefrologia da FAMERP e figura de destaque em diversos cargos, ele recebeu uma placa de reconhecimento pelos 40 anos de história desde o primeiro Encontro Nefrológico do Interior Paulista em 1985, em São José do Rio Preto.
Em sua fala, o professor resgatou marcos importantes:
* 1968: atuação do Dr. Bezas.
* 1972: primeira hemodiálise em São José do Rio Preto.
* 1977: primeiro transplante renal bem-sucedido, noticiado em toda a imprensa.
* 1981: criação da residência médica em nefrologia na FAMERP, reconhecida pela SBN.
Obstáculos enfrentados
Ele lembrou o contexto histórico da década de 1980: a redemocratização do país, a hiperinflação, a inexistência do SUS (criado apenas em 1990), a falta de remuneração para transplantes e a luta política e científica por melhores condições de tratamento.
Destacou ainda nomes como Dr. Kreis e Dra. Vanda Jorgetti (até hoje ativa nas pesquisas em osso e uremia), além do início da diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD) no Brasil.
Segundo ele, não era apenas ciência, mas também política: “era um clamor pela causa, pelos tratamentos e pelos pacientes”. Mostrou documentos antigos que registram essas batalhas, como reportagens na Folha de S.Paulo e na Revista Veja.
Encerrando sua fala, o professor projetou imagens da mesma árvore em diferentes estações do ano, lembrando que a natureza ensina que a transformação é possível. Assim como os transplantes, que renovam a esperança. Com emoção, concluiu:
“Celebrar 40 anos do Encontro Nefrológico do Interior Paulista e do Congresso Paulista de Nefrologia é reconhecer a dedicação de todos que construíram essa história — pioneiros, mestres e novas gerações. Mais do que relembrar o passado, este marco nos inspira a seguir unidos, promovendo ciência, inovação e cuidado em nefrologia, para que os próximos 40 anos sejam ainda mais transformadores. Muito obrigado.”
Colegas nefrologistas, nossa especialidade não nasceu pronta: ela foi forjada por pioneiros que sonharam alto, enfrentaram limitações técnicas, políticas e econômicas, e mesmo assim abriram caminhos que hoje percorremos. Celebrar essa história é também assumir um compromisso com o futuro.
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