A presença de náuseas e vômitos pós operatório (NVPO), não determina uma complicação grave, porém aumenta os custos e a estadia hospitalar, postergando a alta dos pacientes. Muitos fatores estão relacionados à maior incidência de NVPO. Fatores esses, ligados principalmente às características intrínsecas dos pacientes e relacionados ao próprio procedimento anestésico-cirúrgico.
Apesar de haver muitos estudos relacionados a NVPO em pacientes em geral, pouco se sabe sobre os fatores relacionados a NVPO na população obstétrica, uma vez que é uma amostra diferenciada, onde não há diferença de sexo nem de idade. Esse estudo visou determinar quais os fatores de risco que estariam relacionados a presença de náuseas e vômitos pós operatório em pacientes submetidas a cesariana.
O estudo de NVPO
Esse estudo foi realizado durante o período de maio de 2016 a junho de 2018, no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Todas as gestantes submetidas a parto cesariana, com raquianestesia exclusiva e que aceitaram participar do estudo, foram selecionadas. Ao todo foram estudadas 250 pacientes.
Foram realizados 8 mg de dexametasona e 8 mg de ondansetrona, no período intraoperatório, e 10 mg de metoclopramida SOS, no pós operatório, em todas as pacientes. As doses de bupivacaína e morfina foram realizadas de acordo com a preferência de cada anestesista responsável pelo procedimento. Nenhum antiemético regular foi prescrito para o período pós operatório.
NVPO foi definido como a presença de náuseas, vômitos ou força para vomitar, nas 24 horas após o procedimento, com avaliação pela anamnese e relatos da enfermagem. E náuseas e vômitos intra operatórios foram definidos como os mesmos sintomas, durante o período antes da raquianestesia, até o fechamento da pele.
O modelo simplificado de Apfel foi utilizado em todas as pacientes, sendo que os preditores sexo feminino e uso de opióides foram retirados, pois estavam presentes em todas a amostra. Preditores como presença de náuseas e vômitos no primeiro e terceiro trimestre de gestação também foram incluídos.
Resultados apresentados
O estudo apresentou algumas limitações, como local único da fonte de amostra (um único hospital) e tamanho de amostra pequeno.
Das 250 pacientes incluídas no estudo , 19,6% apresentaram quadro de NVPO, sendo que a maioria, 28,9%, apresentou no período tardio após alta da RPA, entre 2-24 horas após o procedimento. A maioria das pacientes que apresentaram NVPO após a saída da RPA foram as mesmas que apresentaram no geral.
A maioria das pacientes eram mais jovens. Cerca de 16% apresentaram náuseas e vômitos no período intra operatório também. As pacientes que apresentaram episódios de náuseas e vômitos no primeiro trimestre de gestação, não apresentaram NVPO, levando a crer que este é um preditor de proteção e não um fator de risco. Uma das explicações pode ser que a exposição crônica aos hormônios da gestação, que induzem a náusea, pode dessensibilizar a paciente a NVPO.
Conclusão
Este estudo, apesar das limitações encontradas, evidenciou que fatores como ausência de náuseas e vômitos durante a gestação, náuseas durante a cesariana e idade materna foram os principais fatores de risco para maior incidência de NVPO.
Referências Bibliográficas:
- Guimarães GM et alls.Fatores de risco para náusea e vômitos após cesariana: estudo prognóstico prospectivo.BJA. Vol. 70. Núm. 5. páginas 457-463 .01 Setembro 2020.
- T.J. Gan, P. Diemunsch, A.S. Habib, et al.Consensus Guidelines for the Management of Postoperative Nausea and Vomiting.Anesth Analg., 118 (2014), pp. 85-113.
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