Sabe-se que as dietas veganas e vegetarianas tendem a oferecer menos componentes prejudiciais para a saúde cardiovascular, como as gorduras trans. Mas o que os estudos recentes trazem com relação à adoção desse tipo de prática alimentar e a prevenção dos eventos cardiovasculares?
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Com relação aos fatores de risco cardiovascular, sabemos que já existem robustas evidências que associam dietas veganas e vegetarianas à redução dos valores de pressão arterial (PA). A existência do chamado “floor effect” (“fator piso”), onde quanto menor é a PA, menor é o efeito de redução, permite a adoção desse tipo de dieta até por indivíduos normotensos, principalmente aqueles com maior risco de desenvolvimento de hipertensão arterial. Há evidências que apontam também melhor controle pressórico de pacientes hipertensos que realizam dietas veganas, quando comparado às dietas vegetariana, mediterrânea e onívora. Com relação a dislipidemia, também existem estudos apontando o benefício de dietas “plant-based” (que incluem as veganas e vegetarianas e as mediterrâneas, nórdica e DASH) na redução dos níveis de LDL e, consequentemente, no cálculo do risco cardiovascular.
Mas em relação aos desfechos cardiovasculares propriamente ditos? O que os estudos mais recentes apontam?
As evidências ainda parecem mostrar um maior benefício dessas dietas, mas os resultados não são tão consistentes quanto os relacionados aos fatores de risco. Uma revisão sistemática de 2021, que avaliou mais de 73.000 participantes (7380 deles, veganos), comparou o risco das duas populações de desenvolverem doença coronariana, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico isquêmico e hemorrágico. Nenhum estudo analisado demonstrou diminuição ou aumento significativos de nenhum dos desfechos. Um dos estudos avaliados sugeriu maior risco de AVE isquêmico em veganos, enquanto outros pareceram demonstrar, também em veganos, uma menor espessura da camada íntima-média da parede da carótida e menos eventos cardiovasculares recorrentes.
Outra revisão sistemática com meta-análise de 2021, que avaliou 398 estudos de coorte, analisou a relação entre AVEs e o tipo de dieta (vegetariana e não vegetariana), também não encontrando associações significativas.
Já um outro estudo de 2021, também uma revisão sistemática, avaliou 13 estudos com mais de 410 mil participantes no total, percebendo associação entre uma maior aderência às dietas “plant-based” e a redução do risco de mortalidade por causas cardiovasculares, bem como a um menor risco de ocorrência de eventos desse tipo.
Conclusões
Assim como ainda devem ser melhor elucidadas as associações entre as dietas veganas e vegetarianas e a ocorrência de eventos cardiovasculares, o melhor tipo de dieta, entre aquelas consideradas “plant-based”, para a prevenção cardiovascular também ainda necessitam melhor esclarecimento. Os próprios hábitos alimentares dentro das próprias dietas também podem impactar nessa influência – como o consumo de grãos refinados em vez de integrais, ou de bebidas com alto teor de sódio, como refrigerantes. Deficiências nutricionais, como a de vitamina B12, comum em veganos, também podem diminuir o benefício dessas dietas do ponto de vista cardiovascular.
A alimentação é um fator de risco modificável e deve ser sempre abordada para pacientes nos quais se almeja uma melhor prevenção cardiovascular. No entanto, deve-se sempre levar em consideração também as condições do paciente em colocar em prática as orientações dietéticas, do ponto de vista social e financeiro; além de ser avaliada sempre em conjunto com os outros fatores do estilo de vida.
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