Durante o 18º Congresso Brasileiro de Medicina de Família e Comunidade (CBMFC 2025), dois tipos recorrentes de urgências que se apresentam nas unidades básicas de saúde foram debatidos com foco especial na aplicabilidade clínica: os distúrbios glicêmicos agudos – hipoglicemia e hiperglicemia.
A apresentação, marcada por uma abordagem baseada em evidências, trouxe uma sequência lógica que guiou o público da definição ao manejo, passando por sintomas, causas, classificação e critérios para encaminhamento de emergência.
Hipoglicemia
Uma premissa em especial foi apresentada: não é o número isolado da glicemia que define a conduta, mas o contexto clínico. Mesmo com valores de referência variando entre 70, 54 e até 45 mg/dL em diferentes diretrizes, é principalmente a apresentação sintomática do paciente que deve guiar a tomada de decisão.
Os sinais clínicos clássicos são bem conhecidos e incluem sudorese, taquicardia, tremores, ansiedade, tontura, visão turva, dormência facial e até crises convulsivas. “Tem paciente que relata ‘sensação de estar bêbado’”, contou um dos palestrantes, destacando a relevância da possibilidade de comprometimento neurológico.
A Sociedade Brasileira de Diabetes classifica os episódios de hipoglicemia em três níveis:
- Nível 1: ≤ 70 mg/dL;
- Nível 2: < 54 mg/dL;
- Nível 3: hipoglicemia grave, independentemente do valor da glicemia, com rebaixamento do nível de consciência e necessidade de ajuda externa à APS.
Além da teoria, a prática é norteada pela Regra dos 15. Para Nível 1, utiliza-se 15g de carboidrato (ex: 1 colher de açúcar, 3 balas moles, 150 ml de refrigerante comum, 1 sachê de glicose etc.) e reavaliação em 15 minutos. Pode-se repetir até três vezes. No Nível 2, a recomendação é dobrar a dose – 30g de carboidrato – com os mesmos intervalos de reavaliação.
Hipoglicemia grave: manejo e urgência
Para episódios em que o paciente está inconsciente ou sem condições de deglutir, o protocolo inclui:
- Posicionar de maneira confortável e lateralizar a cabeça, se possível;
- Aplicar açúcar ou mel na mucosa oral (em adultos);
- Acionar serviço de transferência para unidade de urgência;
- Administrar glucagon IM se disponível, principalmente se hipoglicemia associada a uso de insulina.
A percepção reduzida de hipoglicemia (PRH) também foi abordada como fator de risco para episódios severos. O questionário de Clarke, com oito questões de múltipla escolha, ajuda a identificar pacientes que não reconhecem mais os sinais da hipoglicemia – um risco silencioso e que pode ser grave.
Hiperglicemia: avaliação clínica antes do encaminhamento
A sessão também abordou o manejo da hiperglicemia, dividindo os casos entre hiperglicemia assintomática e hiperglicemia sintomática.
- Hiperglicemia assintomática: glicemia > 250 e usualmente < 600 mg/dL. Conduta: avaliar sinais vitais, possíveis causas de descompensação e glicemia usual. Hidratação. Encaminhar para emergência se houver causa grave de descompensação..
- Hiperglicemia sintomática: glicemia ≥ 250 mg/dL, com sintomas como poliúria, náuseas, taquipneia, dor abdominal, desidratação ou alteração da consciência. Etapas de manejo: acionar serviço de urgência; avaliar sinais vitais; iniciar hidratação vigorosa com SF 0,9% 1-1,5L/hora (10-20 ml/kg/hora); verificar cetonúria (fita reagente, se disponível); jejum e repouso até transferência e estabilização.
CBMFC 2025: Veja os destaques do Congresso Brasileiro de Medicina de Família
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