Saiba como confirmar diagnóstico de pancreatite aguda na emergência
O diagnóstico correto e precoce da pancreatite aguda, com adequada determinação de sua gravidade, são fatores fundamentais para o manejo terapêutico.
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Dor abdominal na sala de emergência – a queixa do paciente é dor abdominal intensa, difusa, quando questionado se pode apontar a dor o paciente localiza-a em região epigástrica. E aí vem os problemas: se o paciente nos informa que é portador de litíase biliar imediatamente nos acende o alerta da pancreatite, porém se ele fala que dói depois de comer começa a confusão.
Então em primeiro lugar é importante que em nossos diagnósticos diferenciais de dores abdominais esteja presente a pancreatite aguda.
Definição de pancreatite aguda
É uma patologia desencadeada pela ativação anômala de enzimas pancreáticas e liberação de mediadores inflamatórios, cuja etiologia corresponde, em cerca de 80% dos casos, à doença biliar litiásica ou à ingestão excessiva de álcool.
Em segundo lugar, para que não nos esqueçamos da importância desta doença, em 10-20% dos casos o quadro é mais intenso com grande repercussão sistêmica e tem uma mortalidade de 40%. O diagnóstico correto e precoce, com adequada determinação de sua gravidade ,são fatores fundamentais para o manejo terapêutico.
Como fazer o diagnóstico da pancreatite aguda em meio a quaisquer dores abdominais, excluindo ou incluindo a doença de forma segura?
Diagnóstico clínico
- Queixa de dor abdominal: epigástrica/abdome superior, classicamente uma dor abdominal em faixa em abdome superior, dores com irradiação para dorso, tórax ou flancos. Associado a náusea e/ou vômitos, dor intensa após alimentação.
- Exame físico abdominal: abdome doloroso em região de abdome superior, com variação de intensidade, porém sem relação do exame com a gravidade da doença.
- Exames laboratoriais: Amilase e/ou Lipase acima ou igual 3x o limite máximo normal
# Observação importante: Amilase ou lipase isolados não fazem o diagnóstico de pancreatite aguda. A lipase é mais específica e mantém a elevação por mais tempo. - Achados de imagem compatíveis com Pancreatite aguda.
Então, o que devo solicitar para ajudar meu diagnóstico?
Exames laboratoriais: amilase, lipase, TGO e TGP, fosfatase alcalina, gama-gt, glicemia, cálcio, bilirrubinas totais e frações, ureia, creatinina, hemograma, PCR, gasometria arterial, sódio, potássio, albumina. Caso a etiologia ainda não seja tão óbvia no primeiro momento solicitar ainda triglicérides e IgG4.
Exames de imagem:
- Radiografia simples de abdome: Pode demonstrar alça sentinela (delgado) ou sinal de “cut off” (cólon distal). Cerca de 30% dos pacientes apresentam elevação da hemicúpula diafragmática, derrame pleural, atelectasia basal, infiltrado pulmonar.
- Ultrassonografia de abdome: diagnóstico de litíase biliar, e identificação da pancreatite e coleções pancreáticas.
- Tomografia computadorizada com contraste: Exame diagnóstico mais sensível e específico (90%), não sendo necessário em todos os pacientes.
- Ressonância magnética de abdome: quando o contraste é contra-indicado é uma boa opção.
Determinando a gravidade da doença: UTI ou Enfermaria?
Critérios clínicos (mais aplicável)
Dos critérios acima quando presentes dois ou mais o caso fica definido como grave, sensibilidade de 40 a 88%, especificidade de 43 a 90 % e valor preditivo negativo de 90%. A vantagem de se utilizar os critérios de Ranson é que além de serem facilmente aplicados o doente é avaliado por 48 horas. O valor principal deste método é a possibilidade de exclusão de pancreatite grave devido seu alto valor preditivo negativo.
Leia mais: Pancreatite aguda pode aumentar riscos de câncer de pâncreas
Após a revisão do Simpósio de Atlanta passaram a ser aceitas três apresentações clínicas bem definidas de pancreatite aguda leve, moderadamente grave e a grave, conforme a presença ou não de falência orgânica e complicações locais.
Assim ficou a definição:
Gravidade da pancreatite aguda | Falência orgânica e complicações locais ou sistêmicas |
Pancreatite aguda leve | Sem falência orgânica
Sem complicações locais ou sistêmicas |
Pancreatite aguda moderadamente grave | Falência orgânica transitória (resolve em 48 horas)
Complicações locais ou sistêmicas sem persistência de falência orgânica. |
Pancreatite aguda grave | Falência orgânica persistente (única ou múltipla) |
Sobre o tratamento inicial da pancreatite
O tratamento da pancreatite ainda não é específico para a doença e trata-se de suporte clínico e suspensão da ingesta oral. O suporte clínico é manter a perfusão tecidual através de importante reposição volêmica e manutenção da saturação de oxigênio, com analgesia importante e suporte nutricional adequado.
Separa-se o tratamento do paciente conforme a classificação dada a pancreatite, sempre lembrando da ressalva que pacientes moderadamente grave e grave são tratados iguais e em ambiente de UTI.
Pancreatite leve:
- Jejum, hidratação, inibidor de bomba de prótons e analgesia.
- Resolução é mais precoce, resolvendo o quadro em sua maioria até 48 horas, a dieta será reintroduzida em menor tempo
- Tratamento em enfermaria em período curto.
Pancreatite moderadamente grave e grave:
- Jejum, hidratação principalmente nas primeiras 12 -24 horas, reavaliando o doente a cada 6 horas, inibidor de bomba de prótons e analgesia.
- Resolução é mais lenta
- Tratamento em UTI idealmente.
O uso da antibioticoterapia (carbapenem, quinolonas e metronidazol) como profilaxia ainda é controverso, muitos estudos foram desenvolvidos e são conflitantes em relação a eficácia na prevenção de necrose infectada. Porém ainda utiliza-se o antibiótico de forma profilática já que os estudos demonstram melhora na mortalidade.
Em suma o tratamento inicial é conservador, o uso profilático de antibióticos nos pacientes com necrose pancreática ainda é controverso. Em relação a abordagem cirúrgica esta deve se reservada aos casos de necrose pancreática infectada.
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Referências:
- Ferreira Ade F, Bartelega JA, Urbano HC, de Souza IK. Acute pancreatitis gravity predictive factors: which and when to use them? ArqBrasCirDig. 2015 Jul-Sep;28(3):207-11. doi: 10.1590/S0102-67202015000300016.
- Guimarães-Filho AC, Maya MCA, Leal PRF, Melgaço AS. Pancreatite aguda: etiologia, apresentação clínica e tratamento. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto. 2009;8(1):61-69
- Brown A, Orav J, Banks PA. Hemoconcentration is an early marker for organ failure and necrotizing pancreatitis. Pancreas2000;20:367–372.
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