No ensino médico, sempre aprendemos que um paciente com mialgia e febre, na ausência de outros sintomas, “deve ser virose” e, como tal, não haveria tratamento específico e o paciente melhoraria espontaneamente. Infelizmente, os últimos dez anos vieram mudar essa prática. Hoje, dengue, zika, chikungunya e até o renascimento da febre amarela desafiam o médico no cenário de emergência!
O ponto comum dessas arboviroses é a transmissão, em área urbana, pelo mosquito Aedes aegypti. Desse modo, tendem a ser mais comuns no verão, quando o calor e a alta umidade favorecem a proliferação do mosquito. Em todas, a fase inicial da doença (< 5 dias) lembra uma virose comum: febre, mialgias, prostração, mal estar. Rash é muito comum, especialmente com Zika.
Principais sintomas
Há poucas pistas nesta fase para separar qual é qual (veja a Tabela 1, da Fiocruz, com dicas sobre elas). Mas o mais importante vem a seguir: é na segunda fase da doença que as complicações e os riscos aparecem.

Na primeira fase, esteja atento a três dicas principais:
- Gravidez: o problema maior é Zika, pelo risco de malformações. Será necessário coletar material (sangue) para tentar identificar o vírus e acompanhar o desenvolvimento do feto.
- Comorbidades: a presença de obesidade importante, DPOC, asma, cardiopatia, entre outros, aumenta o risco de formas graves da doença, em especial a dengue. Esses pacientes deverão ser reavaliados em intervalos menores de tempo.
- História epidemiológica: a bola da vez é Minas Gerais e febre amarela. Colete sangue para pesquisa viral e sorologia e reavalie o paciente em curto espaço de tempo (48-72h). O objetivo é identificar precocemente quem evoluirá com formas graves da doença – icterícia e hemorragia.
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Formas graves
Para os pacientes que se apresentarem com sintomas > 5 dias, a dica é rastrear formas graves. Avalie hemodinâmica/perfusão, derrame articular, neurológico (encefalite/meningite), função hepática e coagulação.
Colete exames complementares para te ajudar mesmo que não haja ainda icterícia ou sangramento ativo. Se for grupo de maior risco (idoso e/ou comorbidades) ou qualquer indício de forma grave, mantenha o paciente internado para monitorização.
Dengue | – Dor abdominal, vômitos, hepatomegalia
– Hipotermia – Trombocitopenia, aumento hematócrito, hemorragias – Alteração da consciência: irritabilidade ou sonolência – Sinais de choque: hipotensão, taquicardia, oligúria – Desconforto respiratório |
Chikungunya | – Artrite
– Meningoencefalite – Guillain-Barré – Uveíte – Surdez – Choque por aumento de permeabilidade capilar semelhante à dengue |
Zika | – Gravidez
– Guillain-Barré |
Febre Amarela | – Hepatite aguda, por vezes fulminante
– Insuficiência renal aguda – Hemorragias / discrasias – Miopericardite – Encefalite |
O diagnóstico se baseia na detecção do vírus na primeira semana e depois na sorologia.
Dengue | RT-PCR ou NS1: sangue Sorologia IgM e IgG (ELISA ou hemaglutinação) |
Chikungunya | RT-PCR Sorologia IgM e IgG (ELISA ou fluorescência) |
Zika | RT-PCR: sangue ou urina Sorologia IgM (ELISA) e PRNT (plaque reduction neutralization test) |
Febre Amarela | PCR Sorologia IgM (ELISA) |
A Fiocruz recentemente lançou o Kit NAT, o mesmo usado pelo CDC (EUA), para RT-PCR simultâneo de Dengue, Zika e Chikungunya.
A peça chave do tratamento será a hidratação. Não há agentes antivirais para arboviroses. No caso da artrite por Chikungunya, há espaço para corticoide local e sistêmico.
Referências:
- https://www.brasil.gov.br/saude/2015/03/vacina-e-a-melhor-forma-de-prevencao-contra-a-febre-amarela
- https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-anuncia-inovacao-no-diagnostico-simultaneo-de-zika-dengue-e-chikungunya
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