O hemograma é um exame extremamente comum na prática clínica. Entre diversas análises, a contagem de eosinófilos é uma alteração bastante frequente (eosinofilia), mas que vários médicos “deixam passar batido”, muitas vezes de olho no desvio dos segmentados, no hematócrito ou nas plaquetas.
O problema é que tanto o excesso como a redução dos eosinófilos pode ser a ponta de um iceberg e estar por trás de doenças importantes. O foco desse texto é dar um tom prático à abordagem ao paciente aparentemente assintomático no qual é detectado um aumento de eosinófilos.
1) Qual a definição de eosinofilia?
Apesar de um valor relativo acima de 5% ser considerado anormal, o “mais correto” é considerar a contagem absoluta, sendo valores acima de 450-550 cél/mm³ considerados anormais. Mesmo assim, são os valores de eosinófilos > 1500 cél/mm³ que têm de fato relevância clínica.
2) Há alguma medicação que possa causar eosinofilia?
Na tabela abaixo há vários fármacos que podem aumentar a contagem de eosinófilos. Caso seja possível, o ideal é substituí-los e repetir a contagem em um intervalo de quatro semanas.
Tabela 1: medicações que podem causar eosinofilia
Beta-lactâmicos | Ranitidina | Fenitoína |
AINE | Alopurinol | Hctz |
Sulfa | Aspirina | Anti-Retrovirais |
3) Faça uma avaliação para parasitose
O foco é o NASA – Necator, Ancylostoma, Strongyloides e Ascaris. Toxocara também é causador de eosinofilia, mas é pouco comum em nosso meio. O exame parasitológico das fezes é a triagem inicial, sendo recomendada a coleta com MIF para aumentar sua sensibilidade. Mas lembrem-se que o isolamento de Strongyloides e Toxocara é difícil e, para estes, temos a opção de sorologia ou tratamento empírico.
- Albendazol: cobertura para NASA e Toxocara, mas pode haver até 40% de falha com Strongyloides
- Nitazoxanida: cobertura para Toxocara é ruim.
- Ivermectina: excelente cobertura para Strongyloides, mas não cobre Toxocara.
4) Pense em alergia
Há diversas formas de atopia relacionadas com eosinofilia, sendo as mais comuns a rinite alérgica, a dermatite atópica e a asma. Contudo, para níveis de eosinófilos > 1500 cél/mm³ + asma recorrente, considere a hipótese de Churg-Strauss e aspergilose broncopulmonar alérgica. Nesse caso, solicite imagem do tórax e seios da face (preferência para TC), espirometria, imunoeletroforese, marcadores sorológicos inflamatórios (incluindo VHS, proteína C reativa e eletroforese de proteínas), ANCA e IgE para Aspergillus.
5) Faça uma boa anamnese e revisão de sistemas
As síndromes hipereosinofílicas comumente causam doença gastrointestinal (ex: diarreia), neuropatia e/ou hepatoesplenomegalia. Lesões de pele e miocardiopatia também são relativamente frequentes. Caso o paciente esteja piorando progressivamente e haja importante eosinofilia, na ausência de evidências para infecção grave, considere uso empírico de corticoterapia em dose imunossupressora.
A tabela abaixo apresenta alguns exames complementares que podem ser úteis na investigação de eosinofilia:
Hemograma | Imunoeletroforese | Bioquímica |
VHS | ANCA | Cortisol sérico |
PCRt | IgE total e para Aspergillus | Hepatograma |
Eletroforese | EPF c/ MIF | Bioquímica |
Vitamina B12 | Troponina | Triptase sérica |
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