Quais as mudanças metabólicas associadas à TARV?

Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o uso de fumarato de tenofovir desoproxila (TDF) e dolutegravir (DTG), associados com lamivudina (3TC) ou entricitabina (FTC), como primeira linha de tratamento para pessoas que vivem com HIV. De forma semelhante, no Brasil, o esquema preferencial é TDF + 3TC + DTG. 

Embora relacionados a menor toxicidade do que esquemas anteriormente preconizados, preocupações com as mudanças metabólicas induzidas por esses fármacos têm levado a diversos estudos. O fumarato de tenofovir alafenamida (TAF) mostra-se uma alternativa ao TDF em pacientes com disfunção renal ou alterações ósseas, mas seu uso não é largamente recomendado por estar associado a maior aumento de peso e pior perfil lipídico, além de alto custo, interações medicamentosas e desfechos desconhecidos na gravidez. Efavirenz (EFV) não é mais recomendado por suas alterações psiquiátricas. 

Em um estudo conduzido na África do Sul, procurou-se avaliar as mudanças metabólicas e clínicas associadas à troca de terapia antirretroviral de TDF/FTC +DTG, TAF/FTC+DTG ou TDF/FTC/EFV para TDF/3TC/DTG. 

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Quais as mudanças metabólicas associadas a TARV?

Métodos 

O estudo incluiu participantes de um estudo anterior – ADVANCE – que não estivessem gestantes. O ADVANCE avaliou a eficácia e segurança de TAF/FTC+DTG e TDF/FTC+DTG comparados com TDF/FTC/EFV. Após 192 semanas, ao fim do estudo, os participantes tiveram seu esquema trocado para o de primeira linha do país: TDF/3TC/DTG. 

As mudanças metabólicas foram avaliadas após 52 semanas dessa troca e constituíram-se de peso, lipídios, glicemia de jejum, hemoglobina glicada (HbA1C), pressão sanguínea, e carga viral do HIV. Os indivíduos com carga viral detectável receberam orientações em relação à adesão e foram retestados após o mínimo de um mês. 

Resultados 

Dos 1053 participantes do ADVANCE, 172 foram incluídos no novo estudo, denominado CHARACTERISE. Características demográficas foram semelhantes entre os diferentes braços. Mulheres corresponderam a 62% da população do estudo. A mediana de contagem de linfócitos T-CD4 foi de 570,5 células/mcL e 98% apresentavam carga viral indetectável (< 50 cópias/mL). 

Para mulheres que saíram de TAF/FTC+ DTG para TDF/3TC/DTG, houve uma redução estatisticamente significativa no peso (mediana = -1,6kg; p = 0,0125) e no IMC (mediana = -0,57kg/m²; p = 0,0106). Nos homens, embora tenha ocorrido redução absoluta nos dois parâmetros, não houve significância estatística. 

Já nos participantes que trocaram de TDF/FTC/EFV para TDF/3TC/DTG houve aumento de peso e de IMC, com significância estatística em homens, mas não em mulheres. Alterações de TDF/FTC+DTG para TDF/3TC/DTG não estiveram associadas a alterações significativas em peso ou IMC. 

Os participantes trocando de TAF/FTC+ DTG para TDF/3TC/DTG mostraram reduções no colesterol total, LDL, triglicerídeos, glicose e HbA1C. Reduções em HDL e o aumento nas pressões sistólica e diastólica não foram significativos. Já os participantes que trocaram de TDF/FTC/EFV para TDF/3TC/DTG apresentaram reduções significativas em colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos e HbA1C. A redução na glicemia de jejum e os aumentos nas pressões sistólica e diastólica não foram significativos. Para participantes com troca de TDF/FTC+DTG para TDF/3TC/DTG, houve aumento no colesterol total, HDL e pressão arterial sistólica, sem alterações significativas nos outros parâmetros. 

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Mensagem prática 

Nesse estudo, indivíduos que trocaram de TDF/FTC/EFV para TDF/3TC/DTG apresentaram ganho de peso e pequena melhora em LDL, triglicerídeos, glicemia de jejum e HbA1C. 

Mulheres que trocaram de TAF/FTC+ DTG para TDF/3TC/DTG perderam peso, mas homens não. No geral, indivíduos que fizeram essa troca apresentaram pequena melhora na glicemia e no perfil lipídico.