Algumas condições clínicas podem predispor reativação de hepatite B, principalmente as terapias imunossupressoras (o risco é maior em quimioterapia) e em pacientes recebendo drogas imunobiológicas. A realização de rastreio sorológico para hepatite B é indicado em todos os pacientes que receberão esses tratamentos, afim de evitar viremia e reativação de doença nos portadores de HBV.
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Risco de reativação de Hepatite B
O risco de reativação da Hepatite B está associado primeiramente ao status sorológico do indivíduo (HBsAG+/anti-HBC+ ou HBsAG-/anti-HBC+).
Além do perfil sorológico de hepatite B, o risco é variável conforme cada terapia de imunossupressão, sendo os agentes depletores de célula B (rituximabe) e os derivados de antraciclina (doxorrubicina) associados à alto risco de reativação de HBV. Outras indicações de investigação para hepatite B são pacientes que receberão quimioterapia para tumor sólido, transplante de órgão sólido, neoplasias hematológicas (leucemias, linfomas), tratamento reumatológico com drogas anti-CD20, anti-CD52, inibidores de tirosina-quinase e altas doses de corticoterapia por mais de quatro semanas. (Tabela 1)
Terapia Profilática
Em pacientes com indicação de terapia profilática (de acordo com a estratificação de risco), a mesma deve ser iniciada, se possível, pelo menos uma semana antes do uso de agentes imunossupressores. Nos casos de risco moderado, podem ser realizadas profilaxia ou monitoramento próximo, que é feito através controle de PCR para DNA-HBV, afim de identificar possível inicio de viremia e indicar terapia.
A terapia é feita com Tenofovir 300 mg/dia ou Entecavir 0,5 mg/dia, devendo ser mantida por pelo menos 6 meses após o término do uso de agentes imunossupressores/imunobiológicos. No caso do Rituximabe, a descontinuação só deve ser feita após 12-18 meses do término do tratamento.
Tabela 1 (traduzida e adaptada do “Brazilian Society of Hepatology and Brazilian Society of Infectious Diseases Guidelines for the Diagnosis and Treatment of Hepatitis B”)
HBsAG +/anti-HBC+ | HBsAG -/anti-HBC+ | ||||
Tipo de imunosupressor | Drogas | Risco de reativação | Recomendações | Risco de reativação | Recomendações |
depletores de célula B | Rituximabe | Alto | Profilaxia | Alto | Profilaxia |
antraciclina | doxorrubicina | Alto | Profilaxia | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo |
Inibidores TNF-alfa | Infliximabe | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo |
Inibidores de citocinas
e integrina | Abatacept | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo |
Inibidores tirosina-quinase | Imatinibe | Moderato | Profilaxia ou monitoramento próximo | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo |
Corticoesteroides
com mais de 1 semana de uso em doses moderadas/altas (>10-20mg/dia de prednisona) | – | Alto | Profilaxia | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo |
Corticoesteroides
com mais de 1 semana de uso em doses baixas (<10mg/dia de prednisona) | – | Moderado | Profilaxia ou monitoramento próximo | Baixo | Seguimento usual |
Corticoesteroides
com menos de 1 semana de uso | – | Baixo | Seguimento usual | Baixo | Seguimento usual |
Imunossupressores tradicionais | Azatioprina, metotrexato | Baixo | Seguimento usual | Baixo | Seguimento usual |
Seguimento dos Pacientes
No seguimento dos pacientes recebendo profilaxia antiviral, é importante a realização de PCR para DNA-HBV a cada 3-6 meses. Nos pacientes que não recebem a profilaxia, devem ser solicitados a cada 1-3 meses ALT e PCR para DNA-HBV, a fim de identificar precocemente reativação do HBV.
Em pacientes com HBsAG-/anti-HBC+ sem indicação de profilaxia pré-tratamento, é recomendado realização de novas sorologias durante período de uso de imunossupressor, pois se HBsAG tornar-se positivo, está indicado início de terapia preventiva.
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O monitoramento de PCR para DNA-HBV deve ser feito até, pelo menos, 12 meses do término de terapia imunossupressora, devido possibilidade de reativação tardia.
Referências bibliográficas:
- Ferraz ML, Strauss E, Perez RM, Schiavon LL, Ono SK, Pessoa MG, Ferreira AP, Nabuco L, Carvalho-Filho R, Tovo CV, Souto F, Abrão P, Reuter T, Dantas T, Vigani A, Porta G, Ferreira MS, Paraná R, Cimerman S, Bittencourt PL. Brazilian Society of Hepatology and Brazilian Society of Infectious Diseases Guidelines for the Diagnosis and Treatment of Hepatitis B. Braz J Infect Dis. 2020 Sep-Oct;24(5):434-451. doi: 10.1016/j.bjid.2020.07.012.
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