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Infectologia16 junho 2021

Miocardite após vacina de mRNA contra a Covid-19: o que precisamos saber?

O CDC norte-americano divulgou os dados de casos de miocardite e pericardite em jovens após terem recebido vacina de mRNA contra Covid-19.

Como parte do processo de farmacovigilância, os eventos adversos relacionados às vacinas de Covid-19 vão se tornando conhecidos. Embora os eventos mais comuns sejam reações locais ou sintomas sistêmicos leves, à medida que a vacinação avança mundialmente, efeitos atípicos e menos frequentes tornam-se aparentes, incluindo relacionados à vacina de mRNA.

A síndrome de trombose com trombocitopenia associada à vacina Aztrazeneca/Oxford foi o primeiro evento adverso atípico relatado em relação às vacinas contra Covid-19, com descrição de diversos casos de trombose venosa cursando com trombocitopenia.

Leia também: PEBMED e HA: eventos adversos relacionados a vacina de mRNA em pacientes reumatológicos [podcast]

Miocardite após vacina de mRNA contra a covid-19: o que precisamos saber?

Miocardite e pericardite

Mais recentemente, descrições repetidas de casos parecem sugerir um novo evento adverso associado à vacinação. O CDC norte-americano divulgou os dados de casos de miocardite e pericardite em jovens após terem recebido vacina contra Covid-19.

Os casos foram identificados a partir do sistema de vigilância do governo norte-americano. A ocorrência de miocardite e pericardite parece ser mais comum em adolescentes e adultos jovens do sexo masculino do que em mulheres e indivíduos mais velhos. Os sintomas são típicos de miocardite/pericardite por outras causas, podendo incluir dor torácica, dispneia e febre.

As vacinas relacionadas com esses casos foram as baseadas na plataforma de mRNA, produzidas pela Pfizer e Moderna, sendo a da Pfizer a única vacina de mRNA autorizada para uso em crianças. De acordo com o diretor do Escritório de Segurança de Imunização do CDC, Dr. Tom Shimabukuro, esses eventos podem ocorrer em uma proporção de 16 casos a cada 1.000.000 de pessoas que recebem duas doses da vacina.

Até o momento do comunicado do CDC, mais de 12 milhões de doses dessas vacinas haviam sido administradas em indivíduos entre 16 e 24 anos, com relato de 275 casos de miocardite/pericardite nessa faixa etária relatados ao sistema de vigilância. Considerando-se indivíduos abaixo de 30 anos, o CDC já analisou 475 casos de miocardite pós-vacinação.

A maioria dos indivíduos que apresentaram miocardite teve recuperação rápida, apesar de 3 terem necessitado de internação em unidade de terapia intensiva e de reabilitação após alta hospitalar. Dentre os casos com desfecho conhecido, 81% melhoraram e 19% ainda apresentavam sintomas, segundo o relato do CDC.

Saiba mais: Anafilaxia e outras reações após vacina de mRNA da Moderna contra a Covid-19

Além dos casos reportados pelo CDC, um grupo de um hospital de Oregon, EUA, relatou no periódico Pediatrics 7 casos de miocardite e miopericardite em indivíduos do sexo masculino entre 14 e 19 anos de idade que se desenvolveram dentro de 4 dias após a segunda dose da vacina Pfizer e que não tinham evidências de infecção aguda por SARS-coV-2. Em todos os casos, a investigação para outras etiologias foi negativa. Como tratamento, 6 pacientes receberam AINE e 4 receberam terapia com imunoglobulina IV e corticoide. Notadamente, 3 se recuperaram com o uso de anti-inflamatórios somente. Todos receberam alta hospitalar e nenhum necessitou de internação em unidade de terapia intensiva.

Mensagem final

Ainda não é possível determinar se há mesmo uma relação causal entre os eventos e a vacinação. Outro sistema de vigilância de eventos adversos nacional não confirmou uma incidência maior de miocardite/pericardite em vacinados do que o número esperado na população, apesar de ter identificado que casos eram mais prováveis após a segunda dose da vacina. Especialistas apontam que, além da aparente incidência maior do que a esperada na população geral, a notificação de casos agregados e a relação temporal com a dose da vacina sugerem que uma associação é possível.

O CDC continua a recomendar a vacinação nos EUA para todos os indivíduos com 12 anos de idade ou mais, considerando que os riscos associados à infecção por Covid-19 são maiores do que os que podem estar associados à vacinação.

Mais informações são necessárias para determinar se há realmente uma relação causal entre a vacina e a ocorrência de miocardite e pericardite e se haverá mudanças nas recomendações da vacinação em relação à faixa etária.

Referências bibliográficas:

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