A atividade física habitual reduz o risco de aquisição de doenças infecciosas e a mortalidade? O engajamento regular em programa de atividade física melhora a resposta imune às doenças e à vacinação?
Essas perguntas corriqueiras têm recebido grande destaque ultimamente especialmente nas áreas da Medicina Desportiva e Infectologia. A prática regular de atividade física é devidamente reconhecida como um dos fatores favoráveis à prevenção de diversas doenças e têm sido sugerida como um aspecto significativamente contribuidor para um melhor prognóstico e desfecho frente a Covid-19 e outras doenças infecciosas. Por outro lado, indivíduos com saúde cardiovascular e metabólica deficitária, assim como doenças crônicas pré-existentes, são significativamente propensos às formas graves das doenças infecciosas. Porém, até recentemente, existia uma carência quanto a estudos que agregassem os achados publicados na literatura e avaliassem essas hipóteses citadas (Lim & Smith, 2021; Oh et al., 2021; Pina et al., 2021).
Exercícios físicos e imunização
Especialmente desde o surgimento da atual pandemia associada ao coronavírus SARS-CoV-2, alguns estudos já chamam a atenção da necessidade da boa saúde física como condicionadora de melhor resposta individual à doença e recuperação. Durante a instituição de medidas emergenciais de controle inicial da transmissão da Covid-19,
estabeleceu-se o distanciamento social e o lockdown em domicílio, com consequente prejuízo significativo na prática de atividade física outdoor ou em instituições favoráveis à prática esportiva, como academias, studios, box e centros desportivos, o que resultaria em piores desfechos clínicos.
De forma a esclarecer tais questionamentos, Chastin e colaboradores (2021) realizaram um importante estudo de revisão sistemática e meta-análise para avaliar a associação entre a prática de com:
- O risco de infecções comunitárias;
- Os parâmetros imunológicos laboratoriais;
- A resposta imune à vacinação.
Para tais finalidades, os autores realizaram a metodologia PRISMA para a reunião de artigos científicos sobre o assunto publicados em língua inglesa, em 07 bancos de dados – MEDLINE, Embase, Cochrane CENTRAL, Web of Science, CINAHL, PsycINFO e SportDiscus – desde janeiro de 1980 até abril de 2020. Dentre os critérios de inclusão,
foram contemplados os ensaios clínicos ou estudos observacionais (coorte prospectivo) com comparação de grupos de adultos (≥ 18 anos de idade) distribuídos em níveis diferentes de atividade física, com a descrição dos resultados laboratoriais quanto a contagem de células imunes, concentração de anticorpos, risco de infecções clinicamente diagnosticados, risco de hospitalização e de mortalidade por doença infecciosa. Foram excluídos os estudos cujos indivíduos eram atletas de elite. A qualidade dos estudos selecionados foram examinados criteriosamente pelos consensos Cochrane utilizando ROB2 e ROBINS_E.
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De um total inicial de 16.698 artigos, 55 estudos (7 estudos observacionais e 48 ensaios clínicos, sendo 6 deles com foco em efeito pós-vacinal) foram selecionados por atenderem os critérios de inclusão. Os resultados obtidos indicaram que os níveis mais regulares e intensos de atividade física habitual (mediana de 45 min de atividade física 1-5x por semana por no mínimo 4 a 26 semanas, incluindo caminhada, corrida e ciclismo) estão associados com a redução do risco de adoecimento por doenças infecciosas comunitárias em 31% (hazard ratio 0,69, IC 95% 0,61 – 0,78, n = 557.487 indivíduos) e redução do risco de mortalidade por doenças infecciosas em 37% (hazard ratio 0,64, IC 95% 0,59 – 0,70, n = 422.813 indivíduos). Quando comparados com os grupos controle, as intervenções resultaram em aumento na contagem de células CD4 (32 céls/uL, IC 95% 7-56 céls/uL, n = 1112 indivíduos) e na concentração de IgA salivar (média diferencial de 0,756, IC 95% 0,146-1.365, n = 435 indivíduos) e decréscimo de contagem de neutrófilos (704 céls/uL, CI 95% 68-1340, n = 704 indivíduos). Esse decréscimo pode ser justificado devido a observação de que uma contagem elevada de neutrófilos (sem leucopenia) está associada com inflamação crônica, o que não é esperado ocorrer na vigência da saúde física, e como efeito indireto do aumento de IgA secretora e linfócitos CD4.
A concentração de anticorpos, após a vacinação contra influenza H1N1, H3N2, influenza
tipo B, pneumococo e varicela, apresenta valores superiores quando há efeito adjuvante de um programa de atividade física associado (média diferencial de 0,142, CI 95% 0,021-0,262, n = 497 indivíduos). Não foram verificados efeitos deletérios ou prejudiciais dessas atividades moderada a quando praticadas entre 60-600 min semanais.
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Com base nesses achados descritos, a atividade física regular, está associada com a redução significativa do risco de infecções comunitária e, consequente, mortalidade. Assim como contribui de forma a potencializar a resposta imune celular e humoral, tanto em mucosas quanto sérica, no aspecto fisiológico e subsequente a imunização ativa. provável que uma relação dose-resposta ocorra achados descritos nos estudos avaliados. Dessa forma, recomenda-se, com base em estudos científicos de qualidade realizados até o momento, a prática da atividade física regular (≥ 150 min por semana de atividade física moderada a , exercícios aeróbios de força) como forma efetiva de combate às doenças infecciosas. Sugere-se, ainda, a previamente às campanhas de vacinação como forma de proporcionar melhor eficácia na instituição desse tipo de profilaxia.
Autores:
Andreia Pizarro [Pesquisadora do Centro de Investigação em Actividade Física, Saúde e Lazer (CIAFEL) / Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP), Porto, Portugal]
Referências bibliográficas:
- Chastin SFM, et al. Effects of Regular Physical Activity on the
Immune System, Vaccination and Risk of Community-Acquired Infectious Disease in the
General Population: Systematic Review and Meta-Analysis. Sports Med. 2021 Apr 20:1–14. doi: 10.1007/s40279-021-01466-1 - Lim MA, Smith L. COVID-19 pandemic: a wake-up call for lifestyle-related preventable conditions in older adults. Aging Clin Exp Res. 2021 Jun 21:1–2. doi: 10.1007/s40520-021-01915-x
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