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Infectologia7 junho 2023

Meropenem ou piperacilina-tazobactam para tratar infecções urinárias complicadas?

Estudo avaliou a eficácia e a segurança de piperacilina/tazobactam em comparação com meropenem para o tratamento de infecções urinárias.

Infecções urinárias (ITU) são uma condição clínica muito frequente e que normalmente apresentam um curso benigno. Contudo, as infecções urinárias complicadas — que podem ser definidas pela presença de sinais e sintomas sistêmicos ou por ocorrerem em um hospedeiro suscetível a doença com curso mais grave — podem ser um verdadeiro desafio terapêutico.

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As bactérias Gram-negativas são os agentes etiológicos mais comuns, sendo passíveis de possuírem diversos mecanismos de resistência, tais como a produção de enzimas ESBL, AmpC e carbapenemases, conferindo mais um fator complicador.

Tradicionalmente, o tratamento de ITU complicadas causadas por produtores de ESBL é baseado no uso de carbapenêmicos. Entretanto, diversos estudos vêm avaliando a eficácia de piperacilina/tazobactam nessas situações. Um estudo chinês procurou, por meio de dados da vida real, avaliar a eficácia e a segurança de piperacilina/tazobactam em comparação com meropenem para o tratamento de ITU complicada causada por enterobactérias produtoras de ESBL.

Meropenem, piperacilina ou tazobactam para tratar infecções urinárias complicadas?

Materiais e métodos

Trata-se de um estudo retrospectivo, conduzido em um único centro, a partir de dados de pacientes adultos diagnosticados com ITU complicada causada por enterobactérias produtoras de ESBL, não suscetíveis a ceftriaxone ou cefotaxima, mas suscetíveis a piperacilina/tazobactam e meropenem.

Foram excluídos os pacientes com urinocultura positiva para bactérias Gram-positivas ou fungos, com antibioticoterapia por menos de 72h ou com exposição repetida aos antibióticos avaliados no estudo.

O desfecho primário foi resposta clínica e microbiológica ao final do esquema antibiótico. Resposta clínica foi definida como resolução dos sintomas principais, ausência de sintomas urinários novos e ausência de necessidade de continuação do uso de antibióticos com cura microbiológica.

Os desfechos secundários incluíram a determinação de sucesso microbiológico sustentado e todas as curas clínicas, os quais foram avaliados por meio das taxas de re-hospitalização e ITU complicadas recorrentes causadas pelo mesmo agente dentro de 3 meses do primeiro dia de tratamento efetivo.

A avaliação de segurança incluiu a incidência de infecções por Clostridioides difficile, re-hospitalização, perda de seguimento e mortalidade por todas as causas dentro de três meses.

Resultados

Dos 323 pacientes triados, foram incluídos 195: 110 no braço que utilizou piperacilina/tazobactam e 85 no braço que utilizou meropenem. No geral, os grupos eram semelhantes, exceto por média de idade e proporção de hepatopatias, que foram maiores no grupo que recebeu meropenem. Além disso, maior proporção de indivíduos no grupo de piperacilina/tazobactam recebeu corticoterapia em dose ≥ 20 mg. Mais pacientes no grupo do meropenem apresentavam febre, história de cateterização urinária e de tratamento em unidade de terapia intensiva. Os agentes etiológicos mais frequentemente isolados foram semelhantes: Escherichia coli (42%), Klebsiella pneumoniae (18%) e Pseudomonas aeruginosa (5,6%).

A duração total do tratamento (nove versus seis dias), a duração efetiva de antibioticoterapia (8 vs. 6 dias), a duração de hospitalização (22 vs. 16 dias) e mortalidade por todas as causas (18,8% vs. 7,3%) foram maiores no grupo que foi tratado com meropenem em comparação ao grupo tratado com piperacilina/tazobactam. Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos em termos de relapso, re-hospitalização e perda de seguimento.

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Para cura clínica e erradicação microbiológica, a taxa de sucesso foi comparável entre os grupos (80% no grupo de piperacilina/tazobactam e 78,8% no grupo de meropenem). A incidência de eventos adversos foi significativamente menor no grupo que recebeu piperacilina/tazobactam (4,5% vs. 15,3%; p = 0,01). No grupo do meropenem, o evento adverso mais frequente foi alteração de função hepática, enquanto anafilaxia foi o mais comum no grupo de piperacilina/tazobactam.

Mensagens práticas

  • Nesse estudo com dados de vida real, piperacilina/tazobactam foi uma opção efetiva e segura para o tratamento de ITU complicada causada por enterobactérias produtoras de ESBL.
  • Limitações importantes do estudo incluem o número pequeno de participantes — o que diminui o poder estatístico da análise — e a possível influência de outros antibióticos nos desfechos clínicos.
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Referências bibliográficas

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