Sendo um problema de saúde pública global, a tuberculose ganhou destaque em várias palestras do MedTrop 2025 e nas reuniões satélites da Rede Brasileira de Pesquisas em Tuberculose (REDE-TB).
Uma das dificuldades para o controle da TB mundialmente é, não só a identificação e tratamento de pessoas com TB ativa, mas também as com TB latente e a realização de tratamento preventivo de tuberculose (TPT).
Dentro desse cenário, algoritmos e fluxos foram desenvolvidos pelo Ministério da Saúde para facilitar e orientar a identificação e o manejo tanto de indivíduos sintomáticos quanto de contatos com TB latente e indicação de TPT. Contudo, pessoas que se enquadram no quadro chamado de TB subclínica não estão explicitamente contemplados.
Uma das conferências do MedTrop discutiu essa situação e a conduta frente a um caso de TB subclínica.

Discussão
– Dentro do espectro da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, pode-se encontrar diversas fases: infecção pela micobactéria, infecção latente, TB incipiente, TB subclínica e TB clínica. Uma vez infectado, um indivíduo pode ou não adoecer e evoluir para as fases mais tardias.
– Indivíduos com TB subclínica apresentam evidência microbiológica ou radiológica de TB ativa, porém não apresentam sintomas relacionados à doença. Esses indivíduos podem representar uma porção importante da população infectada que não é tratada e podem potencialmente ser mantenedores da transmissão.
– Apesar do reconhecimento crescente de sua importância, o fenótipo de TB subclínica ainda permanece pouco definido. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a TB subclínica – ou TB assintomática – como presença de TB em uma pessoa que não relata sintomas sugestivos de TB durante a investigação, podendo ser confirmada bacteriologicamente ou não. Na literatura médica, a TB subclínica pode apresentar as seguintes definições:
- TB sem tosse persistente: TB com cultura de escarro positiva, mas sem relato de tosse por pelo menos 2 semanas, antes da data da avaliação, independente da presença de outros sintomas.
- TB sem tosse: TB com cultura de escarro positiva, mas sem relato de tosse de qualquer duração antes da data da avaliação, independente da presença de outros sintomas.
- TB sem sintomas: TB com cultura de escarro positiva, mas sem relato de sintomas sugestivos de TB, tais como tosse, febre, sudorese noturna, perda ponderal ou dor torácica, independentemente de sua duração.
– O objetivo do TPT é prevenir a progressão do estado de infecção/TB latente para TB ativa, mostrando-se uma estratégia eficaz. Alguns grupos, como crianças, imunossuprimidos e contatos recentes de indivíduos com TB ativa são considerados prioritários para avaliação e início de TPT.
– Indivíduos com TB subclínica ou assintomática, apesar de não apresentarem sintomatologia clássica ou sugestiva de TB ou mesmo sem apresentar quaisquer sintomas, devem ser considerados como tendo TB ativa e manejados como tal.
– O TPT é eficaz para reduzir a incidência de TB clínica por evitar a progressão pós-infecção, mas apresenta efeito nulo na TB subclínica. Indivíduos com TB subclínica beneficiam-se de triagem ativa, com realização de exame de imagem e de escarro com teste molecular, diagnóstico precoce e tratamento da doença.
– Antes de iniciar TPT, é importante excluir TB ativa, atentando-se para a possibilidade de TB subclínica.
Autoria

Isabel Cristina Melo Mendes
Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro
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