Entre os dias 2 e 5 de novembro realizou-se o MEDTROP 2025, o 60º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Durante o evento, vários temas referentes às doenças infecciosas tropicais foram discutidos.
Uma das palestras versou sobre síndromes pós-infecciosas, condições que vêm sendo cada vez mais reconhecidas em diferentes contextos, sendo o mais recente o da Covid-19.
Confira a seguir os principais aspectos abordados
- A associação de infecções e o desenvolvimento de condições crônicas já é conhecido e vem sendo estudada em diferentes contextos. Para algumas doenças, o papel da presença de infecções crônicas já é mais classicamente estabelecido, como HPV e neoplasias, EBV e linfoma e Helicobacter pylori e câncer gástrico.
- Entretanto, outras condições vêm sendo reconhecidas como estando relacionadas a processos infecciosos, mesmo não fazendo parte do quadro clínico clássico de fase aguda da infecção. Algumas associações já são conhecidas há mais tempo, como é o caso de infecções por estreptococos do grupo A e glomerulonefrite pós-infecciosa e febre reumática, poliomielite e síndrome pós-pólio, e sarampo e panencefalite pós-esclerosante. Outras vêm ganhando destaque mais recentemente, como, por exemplo, Covid-19 e Covid longo, Chikungunya e artrite pós-infecciosa, infecções respiratórias e eventos cardiovasculares, e dengue e fadiga pós-dengue. Esse grupo vem sendo coletivamente denominado como síndromes infecciosas pós agudas.
- As síndromes infecciosas pós agudas (Post-Acute Infection Syndrome ou PAIS), também chamadas de condições crônicas associadas a infecção, apresentam diversas definições e podem estar associadas a diversas condições infecciosas, mas são marcadas pela presença de sintomas que persistem após a fase aguda da infecção.
- Uma das definições utilizadas, baseada em critérios clínicos, é a de presença de sintomas novo ou que pioram, com recidivas ou persistência, que se desenvolvem após uma infecção e sem que o agente possa ser novamente identificado, e que podem durar semanas, meses ou anos.
- Já a abordagem mecanicista as define como uma doença complexa, multissistêmica, que pode suceder uma infecção aguda, caracterizada por desregulação das respostas imunes inata e adaptativa, persistência viral, autoimunidade, disfunção mitocondrial e/ou impactos no sistema nervoso central e autonômico.
- O sintoma principal da PAIS é a fadiga, que é descrita como mais do que somente cansaço, mas um sintoma significativo, capaz de afetas as atividades diárias. O mal-estar pós-esforço (Post-Exertional Malaise ou PEM), característico da encefalomielite miálgica, também é considerado típico e pode ser usado como um parâmetro no diagnóstico diferencial de PAIS.
- O PEM é definido como um estado de exaustão desproporcional ao gasto energético, que não é aliviado com repouso e que pode cursar com comprometimento funcional físico, cognitivo e emocional. Tipicamente ocorre 24h a 72h após esforço físico e mental.
- Entre as manifestações físicas do PEM, destacam-se fraqueza muscular, sensação de peso nos membros, intolerância a exercício e mialgia flu-like.
- As manifestações cognitivas incluem brain fog, dificuldade de concentração, problemas de memória, velocidade de processamento lentificada, dificuldade em nomeação. Já entre as manifestações emocionais encontram-se labilidade emocional, irritabilidade, apatia e sensibilidade a estímulos emocionais ou sensoriais.
- A fisiopatogenia das síndromes pós-infecciosas ainda não foi totalmente estabelecida. Diversos mecanismos vêm sendo propostos como responsáveis pelo desenvolvimento dos sintomas observados, tais como persistência viral e reservatórios, neuro-inflamação, desregulação imune e autoimunidade, disbiose, disfunção metabólica e mitocondrial e dano endotelial e formação de microcoágulos.
- Pouco também se sabe em relação a fatores de risco para o desenvolvimento de PAIS. Para Covid-19, dados observacionais vêm mostrando que indivíduos do sexo masculino apresentam maior risco de doença aguda grave, enquanto pessoas do sexo feminino têm maior risco de desenvolver Covid-longo.
Autoria

Isabel Cristina Melo Mendes
Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.