Outra conferência do MedTrop 2025 discutiu o papel das infecções fúngicas em receptores de transplantes de órgãos sólidos e de células hematopoiéticas.

Confira os principais destaques
– O risco para infecções fúngicas invasivas (IFI) depende de fatores como exposição epidemiológica, colonização do hospedeiro, alterações anatômicas e técnica cirúrgica e do grau de imunossupressão.
– Esses fatores podem ter maior ou menor impacto dependendo do órgão transplantado. Assim, em transplante de rins, o excesso de imunossupressão é o fator de risco preponderante para o desenvolvimento de IFI. De forma semelhante, outros fatores são importantes em outros tipos de transplante:
- Rim: excesso de imunossupressão
- Fígado: cirurgia abdominal, internação em UTI
- Coração: internação em UTI, excesso de imunossupressão
- Pulmão: internação em UTI, colonização prévia
- Rim/pâncreas: excesso de imunossupressão, cirurgia abdominal
- Intestino multivisceral: colonização prévia, cirurgia abdominal, internação em UTI, excesso de imunossupressão
– Candida e Aspergillus são os fungos mais frequentemente envolvidos em infecções invasivas em receptores de transplante de órgãos sólidos.
– Criptococose é a terceira IFI mais comum em receptores de transplante de órgãos sólidos (TOS), com uma incidência de 0,2 a 5% e representando aproximadamente 8% das IFIs em TOS. Os receptores de TOS representam 18 a 65% dos casos de critptococose.
– A mediana de tempo entre o transplante e o diagnóstico de criptococose é de 2 a 3 anos, mas, em receptores de fígado, essa infecção é identificada ainda no primeiro ano.
– A mortalidade é alta, variando de 14 a 42%.
– Enquanto em pessoas vivendo com HIV/aids (PVHIV), as principais manifestações de criptococose são quadros de meningite, fungemia e doença disseminadas, em receptores de TOS, observam-se acometimento pulmonar e cutânea. Já em imunocompetentes, as principais manifestações são pulmonares, criptococomas em sistema nervoso central (SNC) e hidrocefalia.
– Em receptores de TOS, cavitações em lesões pulmonares são comuns. As lesões cutâneas são pleomórficas, podendo inclusive apresentar-se como celulite. Nesses casos, deve-se fazer diagnóstico diferencial com histoplasmose e reativação de Chagas cutâneo.
– A maioria dos casos de histoplasmose em TOS ocorrem nos primeiros 3 anos após o transplante.
– Em receptores de transplantes de células hematopoiéticas, os principais agentes etiológicos são Candida, Aspergillus, Mucorales e Fusarium. Infecções invasivas por Candida e Aspergillus nessa população estão associadas à alta mortalidade, por volta de 35 e 45%, respectivamente.
– Considerando fungos filamentosos, no Brasil, os principais agentes são Aspergillus, seguido de Fusarium e Mucorales, diferente do que é encontrado na literatura estrangeira, em que Mucorales é o segundo fungo filamentoso mais prevalente.
– O uso de profilaxia com azólicos resultou na redução de infecções por Candida nos receptores de transplante de células hematopoiéticas. Contudo, há a preocupação de fungos resistentes em casos de infecções de escape.
– As IFI que ocorrem em vigência de profilaxia antifúngica são de difícil diagnóstico e manejo, frequentemente necessitando de estratégias diagnósticas mais invasivas e de tratamentos empíricos mais complexos.
Autoria

Isabel Cristina Melo Mendes
Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro
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