Ainda dentro do tema de tuberculose, uma das conferências do MedTrop 2025 tratou das atualizações no diagnóstico e tratamento de TB na infância.

Confira a seguir os pontos principais
- TB na infância, especialmente em menores de 10 anos, é uma condição de difícil diagnóstico, uma vez que as formas mais comuns são paucibacilares e a obtenção de amostras biológicas adequadas pode ser difícil. Além disso, a caracterização dos sintomas pode não ser tão clara.
- O diagnóstico de TB nessa faixa etária é baseado no Sistema de pontuação para diagnóstico do Ministério da Saúde. As últimas recomendações incorporaram o exame de IGRA, como alternativa para o PPD, também em crianças. Nesses casos, em crianças entre 2 e 10 anos, contatos de casos de TB ativa, um resultado de IGRA indeterminado deve ser considerado como reagente e contabilizado como tal no sistema de pontuação.
- Mesmo métodos moleculares podem apresentar dificuldades em crianças. Por esse motivo, o diagnóstico de TB na infância não deve ficar condicionado à confirmação microbiológica.
- A presença de teste rápido molecular para TB (TRM-TB) com resultado de “traços” indica início de tratamento para TB ativa em algumas populações: pessoas vivendo com HIV/aids, crianças menores de 10 anos e indivíduos com suspeita de TB extrapulmonar. O tratamento deve ser revisto após resultado de culturas e de teste de sensibilidade. Nas demais populações, recomenda-se avaliar a realização de novos exames diagnósticos – incluindo novo TRM-TB – e considerar o risco epidemiológico individual.
- Nas indicações de tratamento preventivo de tuberculose (TPT), a incorporação de comprimidos dispersíveis coformulados levou à recomendação de rifampicina/isoniazida por 3 meses (3RH) – ou 90 doses – como esquema preferencial em crianças menores de 10 anos e com peso entre 4 e 25kg, que não consigam deglutir comprimidos. O esquema com rifpentina/isoniazida por 3 meses (3HP) também pode ser utilizado em crianças a partir de 2 anos de idade, mas está disponível somente na forma de comprimidos.
- O esquema de rifampicina por 4 meses (4R) está indicado somente para crianças < 4kg, sendo reservado para realização de profilaxia primária em recém-nascidos que são coabitantes de indivíduos bacilíferos. Nesses casos, recomenda-se não fazer vacinação com BCG, iniciar quimioprofilaxia primária com 4R e, após o término do esquema, administrar BCG sem realização de PPD.
- Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha recomendado TPT em contatos expostos à TB multirresistente com 6 meses de levofloxacino, essa recomendação não foi incorporada pelo Ministério da Saúde até o momento.
- Outra atualização recente é a possibilidade de tratamentos encurtados de 4 meses (2 meses de fase intensiva e 2 meses de fase de manutenção) para casos de TB sensível não grave em crianças e adolescentes. Esse tempo de tratamento é indicado exclusivamente para crianças e adolescentes entre 3 meses e 16 anos que preencham os critérios para TB pulmonar sensível não grave, a saber, TB pulmonar com acometimento em linfonodos periféricos, TB intratorácica sem sinais de obstrução de vias aéreas ou doença paucibacilar não cavitária confinada a um lobo pulmonar sem padrão miliar ou TB pleural não complicada.
- Para crianças vivendo com HIV e com diagnóstico de TB pulmonar não grave, o esquema encurtado pode ser considerado dependendo do grau de imunossupressão, da terapia antirretroviral e da presença de outras infecções oportunistas. Há necessidade de monitoramento constante e de extensão da fase de manutenção para 4 meses, completando assim 6 meses de tratamento no total, caso haja evolução desfavorável.
- Por fim, embora ainda pouco estudado, há evidências de que a população pediátrica também pode ser acometida de doença pulmonar pós-TB, sendo alterações estruturais mais comuns em adolescentes do que em crianças.
As notas técnicas com as recomendações citadas podem ser encontradas conforme as referências abaixo.
Autoria

Isabel Cristina Melo Mendes
Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.