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Infectologia25 março 2018

Infecções em pós-operatório de coluna e a mortalidade de pacientes

Apesar das infecções pós-operatórias em coluna serem eventos raros, os efeitos são considerados devastadores para os pacientes.

Por Rafael Duarte

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Apesar das infecções pós-operatórias em coluna (IPOC) serem eventos raros, os efeitos são considerados devastadores para os pacientes incluindo os diversos aspectos relacionados à morbidade e complicações, como danos neurológicos, paralisia, sepse e morte.

Considera-se o risco de IPOC de 0,7 a 12%, dependendo do tipo de procedimento e indicação cirúrgica. De acordo com um estudo prévio (Spine Patient Outcomes Research Trial), a incidência estimada para infecções cirúrgicas em tratamento de coluna lombar é de 2% para correção de hérnias de disco, 2,5% para estenoses de canal medular e 4% para espondilolistese degenerativa.

O risco para desenvolvimento de IPOC tem sido descrito como maior para pacientes com diabetes melito, anemia, doença coronariana, imunocomprometidos e pacientes com neoplasias. Os riscos para IPOC e mortalidade incluem idade avançada, estado nutricional deficitário e afecções relacionadas à anestesia, assim como intervenções cirúrgicas múltiplas, mobilização tardia e uso crônico de antimicrobianos.

Infecções em pós-operatório de coluna e a mortalidade de pacientes

Devido ao aumento progressivo e recente da frequência de cirurgias de atrodese de coluna realizadas em diversos países, Casper e colaboradores (2018), pesquisadores do Rothman Institute at Thomas Jefferson University Hospital, Philadelphia, PA, EUA, e do SUNY Downstate Medical Center, Department of Orthopaedic Surgery, Brooklyn, NY, EUA, propuseram a avaliação do impacto de IPOC em longo prazo sobre a mortalidade e dos fatores que predizem a mortalidade.

Para tais objetivos, foi realizado um estudo de coorte retrospectivo pareado envolvendo pacientes, em nível institucional, que necessitaram de reabordagem cirúrgica após cirurgia de coluna eletiva (em qualquer topografia) no período de 2005 a 2013, excluindo aqueles que foram submetidos a ressecção tumoral ou intervenção para trauma. Os participantes com IPOC foram pareados com pacientes submetidos ao mesmo procedimento mas sem evolução com IPOC. Os dados considerados no pareamento incluíram idade, gênero, índice de massa corporal, índice de comorbidade de Charlson, ano da cirurgia, região da cirurgia e procedimento, assim como foram identificados os pacientes que evoluíram ao óbito e o tempo para a morte. A análise univariada foi utilizada para comparar as taxas de mortalidade entre os grupos.

Dentre os pacientes rastreados, 195 desenvolveram IPOC e incluídos no estudo com média de 27,4 dias (variação de 1 a 467 dias) do procedimento inicial. Quando comparadas as taxas de mortalidade entre os grupos com evolução para IPOC ou não, observou-se que os pacientes com IPOC evoluíram para maior taxa de mortalidade em 1 ano (4,62% vs 1,2%, p = 0,006), 2 anos (7,73% vs 2,25%, p = 0,001) e 5 anos (15,45% vs 3,43%, p = 0,0002). Em 90 dias de pós-operatório, não se observou diferença estatística significativa entre os grupos (1,54% vs 1,03%, p = 0,70).

Com base na análise multivariada reversa com regressão logística, a IPOC foi considerada um fator independente preditor de mortalidade aos 2 anos após o procedimento (Odds ratio = 3,3; p = 0,006). A mesma predição foi observada para fatores como idade avançada e índice elevado de comorbidades de Charlson. A topografia da cirurgia, o procedimento, os dias para a infecção e os motivos da cirurgia eletiva não influenciaram a mortalidade.

Mediante esses achados, Casper e colaboradores conseguiram verificar que IPOC resulta em significativa morbidade no período pós-operatório, com riscos de nova abordagem, hospitalização prolongada e necessidade de outros procedimentos invasivos. Especialmente, foi observado que IPOC está associado com maior mortalidade dos pacientes submetidos à cirurgia eletiva em taxas elevadas de até 15,45% em até 5 anos após a intervenção.

Tal estudo não nega os efeitos benéficos da cirurgia de coluna já descritos na literatura, mas o estudo atual reforça a necessidade de investimentos nos procedimentos preventivos à IPOC, desde a detecção de fatores de risco, a optimização de técnicas de esterilização de material e de assepsia e antissepsia, até a avaliação de medidas profiláticas inovadoras com antibióticos. Reforça-se, através desse estudo, a necessidade de maiores esforços na prevenção de infecções de sítio cirúrgico por todos os envolvidos no cuidado com o paciente.

Custo-efetividade do Bezlotoxumab na prevenção de infecções recorrentes por C. difficile

Referências:

  • Casper DS, Zmistowski B, Hollern DA, Hilibrand AS, Vaccaro AR, Schroeder GD, Kepler CK. The Effect of Postoperative Spinal Infections on Patient Mortality. Spine (Phila Pa 1976). 2018 Feb 1;43(3):223-227.
  • Fei Q, Li J, Lin J, Li D, Wang B, Meng H, Wang Q, Su N, Yang Y. Risk Factors for Surgical Site Infection After Spinal Surgery: A Meta-Analysis. World Neurosurg. 2016 Nov; 95:507-515.
  • Nota SP, Braun Y, Ring D, Schwab JH. Incidence of surgical site infection after spine surgery: what is the impact of the definition of infection? Clin Orthop Relat Res. 2015 May; 473(5):1612-1619.
  • Sherrod BA, Rocque BG. Morbidity associated with 30-day surgical site infection following nonshunt pediatric neurosurgery. J Neurosurg Pediatr. 2017 Apr; 19(4):421-427.
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