IAS 2024: Risco cardiovascular - epidemiologia e prevenção
A 25ª Conferência Internacional de AIDS, a maior conferência sobre HIV e AIDS, está sendo realizada em Munique, Alemanha, entre os dias 22 e 26 de julho, pela International AIDS Society (IAS).
Um dos simpósios satélites discutiu a importância das doenças cardiovasculares em pessoas vivendo com HIV (PVHIV), abordando aspectos epidemiológicos e de prevenção, considerando especificidades locais.
Confira os principais pontos abordados
– As doenças cardiovasculares têm um importante papel como causa de morte mundial, com cardiopatias correspondendo a 33% das mortes no mundo. Essa mudança de perfil epidemiológico, com doenças isquêmicas cardíacas como a principal causa de morte, é relativamente recente.
– Os fatores de risco metabólicos e ambientais são importantes contribuintes para a mortalidade global, com hipertensão arterial sistólica, diabetes, IMC elevado, níveis elevados de LDL e disfunção renal e poluição ambiental por partículas aéreas e derivadas de petróleo aparecendo entre os principais fatores associados à morte no mundo em 2021.
– Fatores metabólicos, cardíacos, renais e hepáticos estão interligados e contribuem para o espectro de doença cardiovascular, desde suas fases pré-clínicas até doença clinicamente estabelecida. Dentro do espectro de síndrome metabólica-cardio-renal, teríamos estágios:
- Estágio 0: sem fatores de risco
- Estágio 1: excesso e/ou disfunção do tecido adiposo
- Estágio 2: fatores de risco metabólicos e doença renal crônica
- Estágio 3: doença cardiovascular subclínica
- Estágio 4: doença cardiovascular clinicamente estabelecida
– A maioria dos fatores de risco é modificável, incluindo tabagismo, HAS, obesidade, níveis de colesterol LDL e diabetes.
– Projeções indicam que as doenças não comunicáveis tendem a aumentar de importância na carga mundial de doença, com previsão de doença coronariana isquêmica, acidente vascular cerebral (AVC) e diabetes tornando-se as principais em 2050.
– A infecção pelo vírus HIV agora é reconhecida como um fator de risco independente para doenças cardiovasculares (RR = 2,16), semelhante a outros fatores clássicos. Esse aumento de risco pode dever-se a diversos fatores, mediados por efeitos virais, efeitos relacionados a TARV e riscos ligados a hábitos de vida.
– Um aspecto importante a ser lembrado quando se pensa em estratégias de Saúde Pública é que a infecção pelo HIV não é homogeneamente distribuída nos países do mundo, com 2/3 das infecções ocorrendo na África. Nesse continente, os pacientes são mais jovens, fumam menos, tem menores níveis séricos de colesterol e tem maior prevalência de HAS, o que os diferencia de muitos indivíduos considerados como tendo maior risco para doença cardiovascular provenientes de outros países.
– As estratégias de prevenção devem levar em consideração diversos fatores que se interconectam: tendências seculares de doença metabólica, acesso global a medicações e métodos diagnósticos, expectativa de vida e outras causas de mortalidade e, no caso de PVHIV, a variação global na prevalência da infecção.
– O estudo REPRIEVE mostrou que as estatinas – mais especificamente pitavastatina, que foi a estatina investigada no estudo – foram capazes de reduzir mortalidade e a incidência de eventos adversos cardiovasculares maiores (MACE), definidos como a ocorrência de morte por evento cardiovascular, infarto do miocárdio, ataque isquêmico transitório (AIT) ou AVC, hospitalização por angina instável, isquemia arterial periférica, revascularização coronariana, carotídea ou arterial periférica ou mote por causa indeterminada.
– Seguindo a divulgação dos resultados do REPRIEVE, alguns países, como EUA e Reino Unido, atualizaram seus guidelines para passar a recomendar o uso de estatina para PVHIV a partir de 40 anos de idade e com risco ASCVD de 10 anos estimado em > 5%, como forma de prevenção primária.
– Apesar de as evidências de benefício com o uso de estatinas serem consideradas robustas em países desenvolvidos, os dados em países em desenvolvimento ainda são escassos. Um estudo em Uganda, por exemplo, não encontrou diferença a prevalência de DAC em pacientes com e sem HIV. Além disso, a prevalência de placas ateroscleróticas foi muito menor do que em outros países.
– Apesar de o estudo não ter sido desenhado para ter o poder estatístico para esse tipo de subanálise, uma análise do REPRIEVE por região mostrou que a prevalência de doença cardiovascular na Ásia e na África é muito menor do que a prevalência global e em países de alta renda. Com isso, para os países da região da África subsaariana, por exemplo, o NNT (144,3) é muito mais elevado do que o NNT global (73,2) e do encontrado nos países de maior renda (55,1).
– Esses dados sugerem que, em termos de políticas públicas, o uso de estatinas como prevenção primária a nível populacional pode não ser a estratégia de maior impacto em todos os locais.
Confira todos os destaques do congresso aqui!
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.