IAS 2024: anticorpos neutralizantes como prevenção de infecção pelo HIV
O IAS 2024 também abordou as pesquisas em andamento para prevenção de infecção pelo HIV. Entre essas pesquisas, especial atenção tem se dado à utilidade dos anticorpos amplamente neutralizantes, os chamados bNAbs.
Os bNAbs são anticorpos monoclonais anti-HIV que possuem capacidade de neutralização. Possuem como alvo epítopos que geralmente são altamente conservados, o que confere maior chance de persistência de ação mesmo na presença de mutações naturalmente adquiridas.
Essa classe de medicamentos ganhou espaço nas pesquisas em relação a uma vacina contra a infecção pelo HIV, assim como uma possível opção de tratamento. Entretanto, também vem sendo estudada como uma possível ferramenta de prevenção.
Entre as características dos bNAbs que favorecem esse tipo de abordagem, destacam-se o fato de que, em primatas não-humanos, a presença de anticorpos neutralizantes pré-existentes é capaz de prevenir a infecção pelo vírus SHIV, a infusão de anticorpos antes da infecção pode fornecer imunidade passiva imediata e os bNAbs podem mediar o clearance de células infectadas. Além disso, apresentam características farmacocinéticas consistentes em diferentes populações e podem ser desenvolvidos e redesenhados para aumentar funcionalidade e meia-vida.
Imagem de freepikApresentação de estudos sobre anticorpos monoclonais anti-HIV
Nessa sessão, os resultados do estudo AMP foram muito discutidos. O AMP foi um estudo de fase 2, de prova de conceito, que avaliou a administração de bNAbs como método de prevenção de infecção pelo HIV. Esse estudo foi conduzido em 11 países de diferentes regiões: África do Sul, Zimbabue, Botswana, Tanzânia, Quênia, Malawi, Zâmbia, EUA, Peru, Brasil e Suíça.
Apesar de não ter mostrado eficácia geral, os resultados do AMP foram importantes por demonstrarem que a administração de bNAbs é segura e bem tolerada, com taxas de eventos adversos semelhantes à administração de placebo. A condução do estudo também mostrou que administração intravenosa em larga escala é factível e apresentou altos índices de retenção e adesão.
Ao mesmo tempo, a evolução das técnicas de engenharia de medicamentos tem permitido outros avanços como o desenvolvimento de anticorpos mais potentes e com maior meia-vida. Com isso, terapias com bNAbs poderiam ser administradas a cada 6 meses, o que é outro fator que favorece esse tipo de estratégia.
Contudo, o principal resultado obtido foi demonstrar que a infusão de 1 bNAb é capaz de prevenir a infecção por HIV desde que as cepas fossem altamente sensíveis ao anticorpo estudado, no caso o VRC01.
Diante disso, as novas pesquisas estão voltadas a identificar combinações de bNAbs que possam conferir proteção. As principais pesquisas consideram que, para uma combinação eficiente, cada cepa de vírus deva ser neutralizada por pelo menos 2 bNAbs diferentes, o que diminui o risco de escape e falha terapêutica.
Outras estratégias para superar a resistência aos bNAbs e que estão atualmente em pesquisa incluem: desenvolvimento de anticorpos bioespecíficos, uso de isotipos IgG3, que parecem ter melhor potência de neutralização, e isolamento de novos anticorpos a partir de cepas difíceis de neutralizar.
Portanto, os bNAbs parecem ser uma opção promissora para PrEP e os resultados dos estudos em andamento estão sendo muito aguardados pelos profissionais que cuidam de pessoas que estão sob risco de infecção pelo HIV.
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