Febre hemorrágica brasileira: o que você precisa entender hoje?
Dentre as febres hemorrágicas, enquadram-se diversas doenças com distribuição internacional (como as causadas pelos vírus Ebola ou Marburg) e nacional (como a febre amarela e hantavirose). Dentre as últimas, uma doença pouco conhecida, a febre hemorrágica brasileira destaca-se por sua alta letalidade e emergência no cenário epidemiológico.
Agente etiológico e epidemiologia
A febre hemorrágica brasileira é causada pelo vírus Sabiá, um arenavírus, pertencente ao gênero Mammarenavirus, que infecta mamíferos. Até o momento, cinco casos de infecção em humanos foram identificados no país, sendo o último em 2020, em um indivíduo adulto procedente de Sorocaba (SP).
Como outras febres hemorrágicas virais, roedores silvestres atuam como reservatórios naturais e a transmissão para o homem se dá por meio da inalação de aerossóis formados a partir da urina, fezes ou saliva dos animais infectados. Eventualmente, pode ocorrer transmissão também por meio de mordeduras. A transmissão pessoa a pessoa pode ocorrer com contato próximo prolongado ou em ambientes hospitalares, quando há contato com secreções contaminadas ou durante a realização de procedimentos geradores de aerossóis.
Os casos identificados no Brasil ocorreram no estado de São Paulo, tanto por infecção natural quanto por acidentes em laboratório.
Leia também: Chega a quase 1.400 o número de mortes por dengue este ano no Brasil
Quadro clínico da febre hemorrágica brasileira
O período de incubação da doença varia de 5 a 21 dias, sendo mais frequentemente de 6 a 14 dias. Após esse tempo, o quadro se inicia com febre, mal-estar, mialgia, dor epigástrica e retro-orbital, cefaleia, vertigem, fotofobia e constipação. Pode haver também comprometimento neurológico, conforme a doença progride.
A doença pode evoluir com comprometimento hepático grave, diáteses hemorrágicas e síndrome de extravasamento capilar, que pode resultar em choque e edema pulmonar. Alterações laboratoriais, como leucopenia com linfocitopenia e trombocitopenia, também podem estar presentes.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por meio de realização de RT-PCR e sequenciamento genético viral. Sorologia também é uma ferramenta diagnóstica possível.
Tratamento
O tratamento é principalmente de suporte. Embora não haja tratamento específico para a doença pelo vírus Sabiá, o uso do antiviral ribavirina mostrou resultados positivos em casos causados pelo vírus da febre do Lassa e acredita-se que possa ter ação contra outros arenavírus. Pacientes com caso suspeito ou confirmado devem ser mantidos em precaução por aerossol.
Saiba mais: Afinal, o que é a virose da mosca?
Vigilância
Para efeito de vigilância, consideram-se como exposições de risco:
- Contato com sangue ou outros fluidos corporais de um paciente com Febre Hemorrágica por Arenavírus;
- Residência ou viagem para uma área endêmica de Febre Hemorrágica por Arenavírus ou área com transmissão ativa;
- Trabalhar em um laboratório que lida com amostras de Febre Hemorrágica por Arenavírus;
- Trabalhar em um laboratório que lida com morcegos, roedores ou primatas de uma área endêmica de Febre Hemorrágica por Arenavírus ou área com transmissão ativa;
- Exposição sexual ao sêmen de um caso confirmado de Febre Hemorrágica por Arenavírus agudo ou clinicamente recuperado.
Define-se como caso suspeito os pacientes que apresentam febre alta — acima de 38 °C — com exposição de risco em até 3 semanas antes do início dos sintomas associada a pelo menos um dos sinais e os sintomas a seguir:
- Dor de cabeça;
- Dores musculares;
- Manifestações hemorrágicas;
- Vômito ou diarreia;
- Faringite;
- Dor abdominal;
- Dor no peito;
- Proteinúria;
- Trombocitopenia.
A presença de sinais e sintomas de alerta em contatantes é de notificação obrigatória imediata, devendo ser feita em até 24 horas.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.